sexta-feira, 26 de setembro de 2008

AH, O BOM CIÚME!

A gente não consegue amar sem derivar para o exagero que gera o ciúme. E o ciúme causa uma série de males: constrangimento do ser amado; restrição no uso da coisa amada; afastamento de potenciais amantes do ser amado, ou usuários da coisa amada, que poderiam, em outras circunstâncias, serem nossos bons amigos. E por aí arrolaríamos uma série de inconvenientes do ciúme. E, no entanto, como tudo tem o seu lado bom, poderíamos ter o mesmo ciúme, ou pelo menos semelhante, de nossas idéias. Afinal, amamos nossas idéias. Mas, ao contrário das outras coisas amadas, ficamos a oferecê-las indecentemente e a querer compartilhá-las a toda força com outras pessoas, forçando uma promiscuidade que as vulgariza. Por que não termos ciúmes das nossas idéias? O mundo seria um lugar bem mais sossegado. O crente fanático, acariciando egoisticamente sua idéia de deus, e dissimulando: "não, Jesus nunca existiu; esse negócio de deus, céu, inferno, é pura lorota". O ateu militante, ao invés de escrever livros ou criar associações, disfarçaria pregando: "crede, meus irmãos; o reino de deus é vosso!" E todos viveriam felizes, amando até ao ciúme suas idéias, crendo na sua exclusividade e fidelidade, e pregando o contrário para afastar abusados que quisessem gozar com elas.

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