sábado, 4 de outubro de 2008

O QUE HOUVE COM O BRASIL?

Brasil.... Brasil... mas como é grande o meu Brasil!... Lembro da minha infância ouvindo a dupla sertaneja Tonico e Tinoco cantando isto. Lembro do nosso Brasil descuidado, por desnecessidade de cuidados; dos portões abertos; as cercas caídas, pois não precisavam ser levantadas. As crianças indo a pé e sozinhas prá escola. A fuga para as periferias, que naquele tempo era apenas um composto de paisagens bucólicas de casas simples e árvores frondosas, em busca da cachoeira. Havia molecagens (como não as houvera de haver, se éramos moleques); mas, eram inocentes; e acompanhadas de um temeroso respeito pelos adultos e seus flagrantes. A maior das molecagens, admito, perigosa, eram as bombas de retardo. Colocávamos um cigarro aceso na ponta de uma bombinha-de-são-joão, de regular tamanho, e corríamos para bem longe, até para nossas casas, outras vezes a sala de aula. Cinco a dez minutos depois ouvíamos o estampido na varanda de alguém, na borda da calçada, perto da diretoria, seguido das imprecações.
O que não imaginávamos, absortos em sonhar com a vida que parecia sorrir à nossa frente, é que as pessoas que lutavam e açambarcavam o poder em nosso Brasil, armavam uma grande bomba de retardo sobre nossas vidas e nossas cabeças. Era o desvio de verbas da educação para outros fins, criando uma massa de ignorantes dependentes de "direitos" e concessões; era o financiamento preferencial de grandes propriedades, expulsando as famílias do campo para a periferia das cidades. Tudo escamoteado por obras faraônicas, campanhas pirotécnicas de vacinação, edição de "estatutos" falaciosos, porque geralmente virtuais.
Lembro da minha juventude, quando já o processo de internacionalização do nosso capital (se é que alguma vez o tivemos) provocava intercâmbio de técnicos e executivos, para a montagem de industrias e equipamentos. Ao lado das boas risadas com os legisladores que propunham a cobrança do lateral com o pé, no futebol, ou a anexação da guiana francesa, criando problemas prá diplomacia, lembro de um fato alentador. Quando nossos técnicos eram enviados à europa (é bom lembrar que, naquele tempo, a europa terminava nos pirineus; os europeus ainda não haviam anexado a espanha e portugal, em busca de balneários; os ibéricos migravam para o Brasil, para enriquecer ou simplesmente alimentar suas famílias, e nem imaginavam que um dia iriam se dar ao luxo de barrar brasileiros em aeroportos), ficavam extasiados com a ordem e a limpeza daqueles redutos; escreviam ou contavam por telefone, entusiasmados, as benesses da civilização. Mas, não viam a hora de voltar para o Brasil. Para casa. Irritavam-se com qualquer prorrogação de sua missão. Já os estrangeiros que vinham para o Brasil, dentro dos mesmos projetos, não queriam mais ir embora. Causavam problemas para suas empresas com a insistência em cá permanecer, se estabelecer, residir, animados, talvez, com nossa liberdade, descontração, inocência, ou falta de ordem.
Nós, os pobres (que não éramos apenas negros, como hoje alguns teimam em dizer, mas, também branquinhos, descendentes de italianos, polacos, árabes ou alemães), nem pensávamos em emigrar, tendo à disposição um verdadeiro continente onde se falava a mesma língua. Não emigrávamos: apenas migrávamos internamente.
Tudo isto me vem à cabeça quando vejo na televisão um documentário francês sobre os garimpos ilegais na guiana francesa, e a abordagem de uma família de brasileiros clandestinos no meio da mata. Eu, que sentia um incômodo frio na espinha quando, antigamente, ouvia o poeta dizer que o Brasil poderia se tornar um imenso portugal, tive que ouvir o oficial da gendarmeria dizer que ia expulsar esses ilegais, porque não queria ver a guiana francesa se transformar num Brasil!

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