quarta-feira, 13 de maio de 2009

O CASO DO DEPUTADO

Faz pensar, esse caso.
Pelo que dizem os jornais, um deputado estadual de 26 anos, com a carteira de motorista suspensa por acumular 130 pontos, 30 infrações, sendo 23 por excesso de velocidade, sai completamente bêbado de um restaurante, dirige a 190 quilômetros por hora, bate noutro carro e mata dois jovens estudantes.
Por que o povo o elegeu?
Tão jovem, terá tido expressiva participação, seja na política estudantil, seja em algum movimento de massas, para merecer os votos que recebeu? Não há notícia disto. E, pela maneira destrambelhada que levava a vida vê-se que não foi por dotes pessoais que o elegeram. Sem dúvida nenhuma, os que o sufragaram obedeceram ao mando de seu pai, um poderoso cacique político regional.
Ele foi eleito, em pleno século XXI, pelo voto de cabresto!
É isto que faz pensar.
Várias vezes, inclusive neste espaço, critiquei o processo que gerou nossa constituição: um congresso constituinte, ao invés de uma assembléia específica para o mister. Disse que isto cerceou (melhor seria dizer "cercou") o debate popular. E defendo a convocação de uma assembléia constituinte exclusiva, com temporária inelegibilidade dos membros após a aprovação da constituição em referendo popular. Defendo uma democracia verdadeira, onde seriam eleitos diretamente todas as autoridades que nos governam, em todos os escalões, de todos os poderes.
Mas, um caso desses me faz pensar.
Saberia, nossa população, votar e eleger corretamente seus melhores representantes e governantes?
Quantos são os casos de filhos e netos de caciques políticos eleitos apenas pelo comando dos pais ou avós? Quantos são os eleitos pelo poder econômico de distribuir empregos, tijolos, cestas básicas e outros agrados?
Se não temos maturidade, como povo, para uma democracia direta, é justo então que permaneçamos com esta democracia tutelada, com uma constituição feita por grupos e elites, permeada de cláusulas pétreas que protegem interesses de corporações -- econômicas, jurídicas ou burocráticas -- e guildas eufemísticamente oficializadas como "conselhos de classe" ou "autarquias"? Sim, porque os bêbados, fanfarrões e corruptos que elegemos tornam-se, por sua própria natureza, reféns dessas instituições que aprovam os projetos que desejam.
Qual seria a alternativa para um povo tão imaturo e incapaz de gerir a si mesmo? Uma ditadura? Talvez sim, mas aí teríamos que ter a sorte de que nos subisse a cavaleiro um bom tirano, por que senão, seria pior. Se é que dá prá ficar pior do que está: uma nação onde o cidadão é obrigado a sustentar no poder uma elite (a vontade inicial era dizer "uma corja") que não lhe garante nenhum direito; nem à propriedade, nem ao livre trânsito, nem mesmo à vida e integridade física dele e sua família.

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