terça-feira, 22 de setembro de 2009

DE LEIS, LEGITIMIDADES, PESSOAS E COISAS...

Morreu um amigo. Ainda relativamente jovem, 64 anos. O Mussi. É bem verdade que não nos falávamos havia quase duas décadas; mas, num mundo complicado como o de hoje (em todas as épocas o "hoje" foi complicado para os de "ontem") nos encontramos mais à distância que pessoalmente. Lembro de quando ele tentou chegar à constituinte. Eu, também, tentava chegar à constituinte estadual: que pretensão! Acabei fazendo dobradinha com o Cícero e o Napoleão (outro que se foi cedo) e não com ele, que era "compañero" da velha petrobrás. Ficou um pouco chateado... Depois, vendo a quantidade de votos que tirei dele em São Mateus (será que alguém de lá se lembra de mim?) e aportei aos outros dois, pediu-me apoio numa campanha municipal; e, eu, apoiei. Nenhum dos três chegou à constituinte nacional, assim como eu não cheguei à estadual. Tentamos dar legitimidade a um processo ilegítimo; a um estelionato político condizente com a história do Brasil: a transformação em "constituinte" de um congresso eleito sob os vícios incuráveis da política brasileira -- favores, antipós, telhados e empregos. Só haveria legitimidade naquela constituinte se fosse uma convocação exclusiva, que levasse o povo a discutir leis; e, ao final, que fosse submetida a referendum... Eu e uns amigos participamos de um circo na Santos Andrade, de discussões, com a presença de meia dúzia de "cidadãos". Redigimos cartas e intenções, idéias e projetos, em minha velha olivetti lettera não-lembro-o-quê. Lembro também do Mussi um pouco antes, quando ele era secretário de segurança. Numa reunião sobre "espiritismo e constituinte", na federação espírita, ao término, tive a infeliz surpresa de encontrar vazio o lugar onde antes estava o meu carro. Como era costume na época, pedi socorro a ele, telefonei pedindo uma forcinha a fim de que a polícia se interessasse. Deu certo, dois ou três dias depois encontraram o carro; depenado, mas encontraram... Dias atrás fui a uma palestra de um daqueles amigos do circo e da constituinte, o Ney (ele fora desentocado por algumas horas de seu sítio nos confins de Itaiacoca). Na palestra ele fez uma alusão afetiva e simpática à minha maquininha lettera olivetti. Não tive coragem de dizer-lhe que ela não está mais comigo... Foi levada, junto com outras coisas, por um "cidadão" que invadiu minha casa em minha ausência; não deu nem prá ligar para o secretário de segurança, agora um "promotor", cidadão de primeira classe que eu nem conheço (como não conhecia os de "primeira classe" antes da constituinte, os militares -- na verdade, só tive amigos no poder naquele intervalo, quando o poder escapava das mãos dos militares, mas ainda não havia caído nas mãos dos novos senhores)... E a maquininha não voltou... como muitas coisas e muitas vidas hoje não voltam... nessa diluição total de direitos e valores em que a constituição ilegítima derrete lenta e imperceptivelmente o país...

Nenhum comentário: