quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

O BRASIL MEDIEVAL

A queda de braços entre o Conselho Nacional de Justiça - CNJ - e a guilda dos juizes está a demonstrar que o judiciário brasileiro é uma caixa preta que, tal como aquelas utilizadas na aviação, só será efetivamente aberta quando o avião cair. E não pensem os mestres e maiorais das guildas que o avião nunca cairá.
Pois se não for quando da queda do avião, não o será nunca. Mesmo quando o clamor e a indignação dos povos contra os desmandos dos nossos magistrados atingiram a ONU, e esta enviou duas missões em 2004 (tais como aquelas do exterminador do futuro, porque qualquer missão da ONU contra nosso poder judiciário vem do futuro, uma vez que ele estancou no passado), para everiguar as aberrações, nossos juizes e suas associações protetoras reagiram tanto, acusando as missões de afrontarem a soberania nacional (fortunas duvidosas e sentenças em causa própria agora têm outro nome), que nem mesmo os relatórios conclusivos receberam divulgação.
Para alguma coisa serviram essas missões da ONU e as atenções internacionais.
Os intocáveis, antes que viessem os capacetes azuis, fingiram consentir à sociedade um controle do judiciário. Em sua soberana e inquestionável vontade, permitiram, concederam, que os poderes eleitos pelo povo criassem a tal CNJ. Mas, de mentirinha, nada de se meter nas contas dos juizes.
Entretanto, como todo órgão passa por trocas de comando, e nas trocas de comando sempre se esquece de passar alguma coisa, os atuais comandantes, na certa, não foram devidamente avisados do acordo tácito ou de bastidores, e começaram a cumprir seu dever ético de investigar o judiciário e seus membros.
Na primeira colméia que mexeram, o TJ paulista, a crise começou. Principalmente porque algumas abelhinhas já voaram mais alto e lá por cima estão estabelecidas.
Quosque tandem abutere, Iudiciaria, patientia nostra?

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

MELHORIAS NO DESIGN INTELIGENTE

Mark Twain teve a idéia; F. Scott Fitzgerald escreveu o conto; e David Finch mais Eric Roth fizeram o instigante e belo filme "O Curioso Caso de Benjamin Button". Mas, muito antes do filme, nosso insuperável Chico Anísio contou em cinco minutos, na TV, a história do sujeito que nasce velho e morre bebê. E agregando valor: apresentou-a como uma correção à obra de Deus. Agora eu, humildemente, envio ao nosso caro Pai Amado e Bom uma nova proposta de aperfeiçoamento do seu design do universo. Junto a obra Dele Próprio e a imaginação dos artistas. Na minha proposta as pessoas nascem como sempre nasceram -- recém-nascidas --, passam pelas travessuras da infância, pelas crises da adolescência, pelas loucuras da juventude, pelas realizações e decepções da maturidade e chegam à colheita da velhice. Porém, no momento da morte, quando está à beira da exaustão o mecanismo de divisão e multiplicação celular, eis que o metabolismo se inverte, e o sujeito começa a rejuvenescer a exemplo do Benjamin Button. E a justificativa científica para isso poderia ser tão facilmente encontrável quanto o foi para o próprio Finch "modernizar" a obra descaracterizando o picaresco do Fitzgerald. Minha proposta tornaria o universo muito mais bonito e interessante, pois nos daria a todos uma segunda chance, quando, refazendo o caminho de volta, poderíamos ir corrigindo os erros, mudando as escolhas, aproveitando as oportunidades perdidas, e... isso mesmo que você está pensando sobre transar com quem não transou na ida. Claro que haveria sempre os pequenos problemas não negligenciados pelos escritores citados, principalmente o fato de que a memória começaria a se comportar de maneira diferente quando o sujeito retornasse ali abaixo dos vinte. Mas, seria sempre uma perda de memória que o remeteria à inocência, nunca à rabugisse.

sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

A SUCESSÃO DE CORPORAÇÕES DE PODER

Nenhuma corporação -- ou, se o quiserem "instituição" -- que detenha poder sobre a população pode ficar sem controle externo, sob risco de transformar-se numa casta de privilegiados. Príncipes e sacerdotes já foram considerados imprescindíveis para a permanência dos valores da sociedade, e receberam um poder sem controle. Exorbitaram tanto que Voltaire chegou a afirmar que o homem só seria livre quando o último rei fosse estrangulado com as tripas do último padre. Superado isso aí, claro: quem seria tão desatualizado a ponto de imaginar o pacato príncipe Charles sendo estrangulado nas tripas do simpático padre Marcelo? Por mais que a realidade de hoje seja escamoteada pelo conluio entre as "instituições republicanas" e a grande imprensa, o amanhã sempre surge e, de repente, traz um acordar da população. Quando raiar esse dia, quem será que a população vai colocar no lugar das personagens do Voltaire?