domingo, 17 de junho de 2012

CURITIBA DE TODAS AS ÁGUAS.

Quem bebe desta água não vai embora ou, se for, volta. Não é o que dizem de todos os lugares onde vivem dizentes? Não seriam diferentes os falares dos curitibanos. E qual seria esta água que uma vez bebida não se deixa: a de piraquara, a "toca dos peixes" dos bravos tinguis? Mas, todas as águas que do chão bebemos do céu caíram. E, ao capricho dos ventos, nem sempre caem de onde evaporam. Viajam. O céu tem seus rios caudalosos, variando suas margens, desabando em cachoeiras de chuvas que mudam constantemente de local conforme os encontros das massas quentes ou frias. Essas inconstâncias todas, tornam as águas daqui, as mesmas águas dali. Curitiba, como "tem as quatro estações do ano no mesmo dia", ou "tem apenas duas estações -- inverno e rodoferroviaria --", porque, literalmente, se encontra onde "o vento faz a curva", é o recanto onde mais chove ao sul do equador, alternando constantemente o frio e o calor, a seca e a assustadora umidade do ar, numa multipolaridade climática que, sem dúvida, se reflete no humor nosso de cada dia. Temos todos os humores, todas as etnias e todas as manias, porque bebemos de todas as águas. Assim, não precisamos de elucubrações teóricas psicanalíticas, antropológicas ou neurocientíficas para explicar nossas alternâncias entre a euforia e a depressão. Basta olharmos o pêndulo das águas que caem do céu. Se o baixo astral vem no começo do inverno, quando o susto da primeira frente fria nos entoca no aconchego da família, e passamos semanas saboreando os suíços fondies ou nos empanturrando dos pinhões nativos, basta dizer: são as águas antárticas. E se, alguns dias depois, cansados desse internamento forçado, invadimos os salões dos clubes na esperança de aprendermos tangos e boleros, basta diagnosticar: são as águas argentinas. Para, logo depois, quando o resfriado chega, as roupas não secam e o bolor toma as paredes, entrarmos em uma depressão salobra porque uma frente fria vinda do oceano venceu as do sudoeste, basta constatarmos: são as águas atlânticas. Finalmente, quando o ano chega ao fim, e o sol radiante se insinua, e tiramos os brancos braços das mangas, e nos espraiamos alegres nas calçadas das choparias, apenas para sermos expulsos pelos aguaceiros das tardes quase quentes, basta nos deliciarmos ouvindo as bicas que não cessam e nos consolarmos pensando: são as águas amazônicas.

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