quarta-feira, 11 de dezembro de 2019

PIRRALHOS E PIRRALHICES.


Pensando bem, o presidente não foi ofensivo.  Tanto é que a garota assimilou a fala colocando-a no seu perfil.  O que não faria se tivesse sentido-se ofendida.  Eu até disse alhures, irônica e irresponsavelmente (como é do meu feitio), que ele foi mais eficaz na divulgação da língua portuguesa nesse episódio do que o Camões em cinco séculos.  Claro, o Camões é importante:  sem ele talvez nem tivéssemos a língua.  Mas, o Camões a divulgou calmamente, pachorrentamente, através de um longo tempo.  Já o presidente tem a internet, as redes, as mídias e, deve ter feito o mundo inteiro procurar o significado de "pirralha", mergulhando, ainda que por alguns instantes, no oceano lusófono.  E o significado de "pirralha" não é pejorativo.  Pelo menos nenhum dicionário, até agora, o registrou assim; desde o português Lelo Universal, popular nos anos sessenta, até o brasileiro Aurélio Buarque, popular na era AG (Antes do Google), pois na era Google não sobra popularidade para mais ninguém em termos de consulta.  Todos eles registram que "pirralho", numa primeira acepção, significa criança, garoto, guri, pequeno e, numa segunda acepção, em desuso há meio século, uma pessoa de pequena estatura. A Greta tem as duas qualidades: é uma garota de pequena estatura.  Reconheço que a língua é dinâmica, que os sentidos das palavras estão em permanente mudança.  Neste aspecto, os dicionários não são mais que cemitérios de palavras.  Os dicionaristas não ditam significados:  apenas registram.  Quem determina os significados das palavras em uma língua é o universo dos falantes, é a população que se entende naquele idioma. Por isto os dicionários são feitos sempre por grandes equipes.  Pesquisam nas obras literárias, nas mídias, nas conversas diárias, seja nos centros especializados seja na mesa do botequim, o que as pessoas conseguem entender-se no uso de cada palavra.  Quando o registram, amiúde aquele uso já está defasado, substituído, deslocado.  E, hoje, com uma população de milhões de pessoas interagindo no mesmo momento pela internet, a evolução dos sentidos dos termos muda muito mais velozmente.  Por isso, não se vê ninguém dizendo "ô pirralho venha cá" como quem diz "ô garoto venha cá" ou "ô menina venha cá".  Mesmo porque o pirralho de hoje não viria: lançaria um olhar desafiador a dizer "venha você aqui, oras!"  E aí está a diferença.  O significado de "pirralho" não é mais apenas aquele registrado nos dicionários.  Continua significando um garoto, uma criança ou uma menina.  Mas, é um garoto ou uma menina que incomoda!  Quando queremos nos referir simplesmente a uma criança, dizemos: "esta criança";  quando a criança está incomodando, dizemos: "este pirralho!"
E o que incomoda mais uma autoridade conservadora (se isto não for pleonasmo) do que uma garota que deita baldes de realidades sobre os humanos distraídos?

quinta-feira, 19 de setembro de 2019



"CURITYBA SOB A NEVE"

Livro de Wilson Flavio Feltrim Roseghini e Rafael Velloso Stankevecz com as ocorrências de neve e outras precipitações hibernais em Curitiba entre 1871 e 2018.  Relata as ocorrências, apresenta os dados meteorológicos disponíveis (evidentemente, em maior quantidade quanto mais recentes as ocorrências), apresenta a cobertura da imprensa na época e, o mais interessante, coleciona uma porção de fotos de cada ocorrência.  Eu mesmo contribuo com 12 fotos, já publicadas em outra postagem deste mesmo blogue.  Leitura importante para todos os que se interessam pela história de Curitiba, pelo meio ambiente e, logicamente, pelas belezas naturais eternizadas em fotografias.

quarta-feira, 5 de junho de 2019

O ponto da emoção é o instante.
É tão importante o instante que no meu tempo de jovem tinha preço.
A extensão do instante, no primeiro segmento, forma o momento.
E a sequencia dos momentos, a vida.
Cada indivíduo vive um momento.
Enquanto um vive o momento de racionalidade, outro de emoção.
Um vive a paz, outro a guerra.
Alguém odeia enquanto outros amam.
Cantam e choram; andam e sentam; perdem e ganham.
E a humanidade equilibra todos os momentos numa era.
O odioso das ditaduras é a cruel pretensão
de uniformizar os momentos, aprisionando todos
no mesmo instante.