A novidade, nos arraiais de língua inglesa dos brejos da cruz, é a meninada, ao aderir ao ateísmo, se desbatizar. Aproveitei a imagem do poeta sobre os brejos da cruz porque, como todos sabem, nos brejos da lua crescente quem se torna ateu nem pensa em desbatismo, pois é logo desencarnado pelo fio da adaga. O fato é que basta lançar a palavra no Google ou no Youtube e encontraremos lá as cerimônias, promovidas por um ou outro líder dos ateus convictos e militantes.
Eu acho uma boa, essa de desbatismo; e atende uma demanda. A demanda das pessoas que foram batizadas ainda bebês, ou crianças pequenas, sem, portanto, condições de decidirem em que deus ou em que deuses iriam crer. Chegados à fase adulta, incursionando pela razão e pela ciência, não encontram o deus sorvido no leite materno ou nas prédicas paternas, e querem livrar-se de um compromisso que não escolheram, que assumiram por eles.
Mas, pensando bem, não seriam só os ateus interessados nessa cerimônia. Ela deve interessar também aos crentes. Já se vão longe os tempos em que todos tinham que adotar a religião do príncipe e, hoje, graças a Deus, podemos ser até ateus, ao menos no mundo ocidental. Assim, troca-se de religião, de seita ou de igreja com a facilidade com que trocamos o programa do final de semana. Ao mudar de igreja, o cidadão batiza-se, mas como era já batizado na outra, fica com dois batismos, às vezes três, ou até quatro. Algum pastor pode escandalizar-se com isto e decretar que não precisa um novo batismo para ingressar em sua igreja, se o neófito já o foi em outra denominação cristã qualquer. O que poderá gerar duas categorias de adeptos, os que foram batizados aqui mesmo, e os que assim já chegaram, e com isto o nhenhenhem da ciumeira e concorrência pelos favores divinos.
Tudo isto pode ser evitado se o interessado, quer por se tornar ateu, quer por adotar outra religião e desejar livrar-se do compromisso anterior para chegar pagão e zerado ao novo altar, tiver acesso, sem exclusão, ao desbatismo.
Fica, portanto, a sugestão para pessoas corajosas, ousadas e batalhadoras, atentarem para esse novo nicho do mercado, e se estruturarem para atender a essa demanda.
Sugiro que criem uma igreja laica, onde na qualidade de líder, pastor, sacerdote, sindico, ou que nome queiram adotar, oferecessem tal prática aos interessados. Claro que a cerimônia teria que ter toda a pompa e o estardalhaço devido, para impressionar a vítima tanto quanto a outra, a do batismo. O ser assim renascido pelo desbatismo, poderia, então, correr livre e feliz, virgin-again, para adquirir um novo batismo em sua nova crença. Ou, melhor ainda, integrar-se, como laico ou ateu, à igreja laica, e passar feliz o resto dos seus dias participando de rituais onde comeria o sacramento da batata frita e beberia o sangue do seu deus em forma de vinho ou cerveja.
Como digno é o trabalhador do seu salário, o fundador da igreja e executor da cerimônia, seria, claro, recompensado com as espórtulas daí decorrentes; e as propriedades, principalmente as picapes, que adquirisse com a labuta honesta deste novo e exótico templo ostentariam um decalque com os dizeres: "não é propriedade de deus nenhum". (A exemplo do caminhoneiro que, não querendo perder a onda de dísticos religiosos, escreveu simplesmente, no parachoque do seu caminhão: "se o mundo fosse bom, o dono estaria nele").
2 comentários:
Muito bom! Gostei da frase do caminhoneiro rsrs
Carol
Valeu, Carol!
Sabe que dá prá tirar toda uma filosofia dessa frase de parachoque.
Abração, filha.
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