Hoje, podem falar o que quiserem; mas, eu lembro muito bem. A grande maioria do povo brasileiro apoiava a ditadura militar. Mudaram, quando mudou a Globo. Diversas vezes tive que baixar a cabeça e me calar ante amigos ameaçadores nas discussões políticas (uma vez que, naquele tempo, pobre ingenuidade, eu era de esquerda); amigos que apoiavam abertamente o regime e ostentavam, orgulhosos, suas filiações à arena, o partido do governo; para logo depois, com os novos ventos internacionais e midiáticos, amanhecerem anti-ditadura desde pequenininhos. E por que o povo brasileiro apoiava a ditadura? Porque o fascismo é uma endemia cultural do nosso povo. A ditadura, simplesmente, dava-lhe justificativa legal (ainda que não legítima).
Provar o que digo? Veja o caso da obrigatoriedade do diploma universitário para o exercício do jornalismo. Não era exigido nem no Brasil, nem em canto nenhum do mundo civilizado. Pois bem, visando controlar melhor a imprensa, a ditadura militar o implantou em 1969. Casou tanto com a alma do brasileiro, pegou tanto, que a ditadura acabou e essa exigência espúria continuou. Agora, que num lance de lucidez o STF a aboliu, o corporativismo salazarista grita.
Mas, o mais tragicômico é o argumento que usam: vai prejudicar a educação no Brasil!
Ora, como se nossa educação estivesse indo muito bem, obrigado, e tal decisão fosse miná-la. Como se ela fosse pior antes de tal exigência. Como, por fim, se nos países onde nunca houve tal exigência a educação fosse pior que a nossa!
Se a moda do retorno à democracia e à liberdade pegar e atingir outras profissões, nossa educação irá melhorar, e muito. Teremos um salto qualitativo. Isto porque as faculdades deixarão de ser cartórios que conferem direitos de acesso a fatias de mercado reservado, e terão que concorrer com as formas ancestrais, eternas e naturais de formação para o oferecimento de um serviço qualquer necessário à sociedade.
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