Tem que ser muito criancinha, de colo mesmo, prá não saber como são os métodos de interrogatório e de "processo judicial" durante os regimes de exceção.
Os adversários desses regimes (ditaduras latino-americanas, ditaduras nazifascistas, e outras), quando presos, são submetidos a tratamento tão vil e degradante que perdem momentaneamente toda dignidade, autoestima e autocontrole, agarrando-se a mínimas chances de sobrevivência ou interrupção das dores atrozes impostas pelos verdugos.
Daí, todo mundo sabe, e, principalmente, o sabem todos os companheiros envolvidos em lutas contra ditaduras, o prisioneiro "entrega até a mãe". Por isso, em todas essas lutas, os grupos criam estratégias, que implicam na tentativa do preso de resistir quanto possa, para dar tempo dos demais tomarem conhecimento de sua queda e desmontarem o "aparelho" subversivo que operavam. Do lado dos verdugos, elevam o grau de brutalidade e crueldade, justamente na tentativa de obter as informações a tempo de prender os demais, derrotando, assim, sua estratégia. Nesse embate, os primeiros caídos de um grupo sempre sofrerão mais que os últimos. Há sempre maior probabilidade de mortes entre os primeiros que entre os últimos.
Agora, imaginem que constrangedor, para o torturado, a exibição dos depoimentos e relatos de um "processo" dessa natureza. É evidente que o "processo" não relatará os métodos de tortura empregados, procurando legitimidade, onde constarão como se fossem expontâneas ou fáceis, delações e retratações.
Portanto, qualquer pessoa de bom senso sabe que as informações assim obtidas, as informações contidas em relatos tão traumaticamente conseguidos, não têm nenhum valor informativo sobre as vítimas. Podem servir para psicólogos estudarem os limites de resistência e de crueldade da nossa espécie, isso sim. São capítulos deprimentes da história do ser humano. Alias, são capítulos da história em que duvidamos até de que certas pessoas sejam realmente humanas.
A Folha de São Paulo queria porque queria os relatos constantes do "processo" de Dilma, quando esta se encontrava presa nos porões da ditadura militar. Evidentemente, para uso político, inserindo-se na ignominiosa campanha de desconstrução a que se dedicaram, como cúmplices dos comitês serristas, órgãos como a Globo, o Estadão, a Veja, e a própria Folha, além de outros tablóides.
O STM negou, claro, atentos aos direitos humanos.
Espantosamente, a ministra Cármem Lúcia, do STF, disse que se tratava de censura, e saiu-se com esta pérola:
"Cidadãos estão impedidos, por uma autoridade, de ter mais informações sobre a candidata".
Informações, ministra? A senhora considera informações dados obtidos com a degradação de uma pessoa, com a retirada de toda sua dignidade, por submetê-la a tratamentos insuportáveis. A senhora não vê que a divulgação dessas "informações", sobre qualquer daquelas vítimas, significa submetê-la novamente, desta vez moralmente, o que talvez seja pior, a todo o sofrimento pelo qual ela passou?
Ah! Minha senhora...
Nenhum comentário:
Postar um comentário