quarta-feira, 12 de outubro de 2011

NÃO ERA BEM COM ESSA DESCATOLICIZAÇÃO QUE EU SONHAVA

Hoje é dia de Nossa Senhora da Aparecida e eu notei, não sem uma certa nostalgia, como está mais fraco o foguetório do meio dia. Quando eu era adolescente a procissão passava na rua principal ocupando toda a via e nela desfilavam todas as pessoas da cidade. Eu assistia da calçada, junto com os ateus, comunistas e espíritas. Éramos cerca de meia dúzia e nos considerávamos livres pensadores. Ao som da ladainha fazíamos entre nós -- claro, apenas entre nós e baixo para que não chegasse aos ouvidos da maioria cobraleante --, comentários, temperados pela arrogante e pretensiosa sabedoria juvenil, sobre a necessidade de acordar o povo para as benesses da laicização. Hoje, são raras e magras as procissões e os fogos, mas não aumentou o número de livres pensadores como eu sonhava; talvez tenha até diminuído. O Brasil não se tornou um grande país laico. As pessoas que largaram as velas e desapoiaram o andor tornaram-se fundamentalistas de diversos matizes. Se antes rezavam e depois voltavam descontraídas aos seus pecados saudáveis -- e abençoados por Deus --, agora tentam impor as orações, as crenças e as virtudes, ameaçando reeditar as intolerâncias medievais.
Conto os minutos cada vez mais escassos dos rojões e conjecturo com meus botões -- que ainda guardam certa dose de arrogância e pseudo sabedoria -- como já podemos sentir saudades da hegemonia católica.

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