segunda-feira, 1 de novembro de 2010

O BRASIL ESTÁ SALVO!

Mas, sobraram sequelas... E ameaças.
As ameaças ficam por conta da persistência do candidato em continuar se autodesconstruindo até no discurso final. Em todos os países, o candidato derrotado procura, no discurso de admissão da derrota, mostrar-se magnânimo, pensar mais no país que em si mesmo, e usa um tom conciliatório para não prejudicar as condições de governabilidade, pelo menos no início do mandato do adversário; condições que ele desejaria para si mesmo se a situação fosse inversa.
Não foi o que aconteceu. O candidato derrotado, mostrando-se relutante até mesmo em pronunciar o nome da oponente, serviu-se de palavras duras, belicosas, armadas: "...prá quem pensa que a luta acaba aqui, ela está apenas começando..." "...vocês (os adeptos dele) cavaram uma trincheira... ergueram uma fortaleza..."
E as sequelas ficam por conta não só do candidato e seus adeptos, mas, principalmente, de parte da imprensa, que se empenharam irresponsavelmente em destruir a laicidade do Estado, um dos pilares da convivência republicana. Para isso contaram com a ajuda de entidades nada republicanas, como o excêntrico "partido monarquista", o papa, e os falsos profetas evangélicos que sonham, talvez, com a implantação de um estado teocrático. Ainda bem que vários bispos católicos, e muitos pastores evangélicos, salvaram a situação, resgatando a dignidade da religião.
Pior sequela ficará pela tentativa encetada de reescrever a história e inverter seus valores, o que provocou o ressurgimento da mais abjeta direita, e levou até um membro da suprema corte do país a declarar na imprensa que são válidas, para conhecimento de candidatos, por decorrência de qualquer pessoa, "informações" obtidas sob cruéis torturas. Foram tantos e tão virulentos os saudosos do período militar que ousaram sair de seu armário político, que vale aqui a pergunta: "onde escondeste, todo esse tempo, o teu fascismo?"

sábado, 30 de outubro de 2010

STF LEGITIMANDO A TORTURA?

Tem que ser muito criancinha, de colo mesmo, prá não saber como são os métodos de interrogatório e de "processo judicial" durante os regimes de exceção.
Os adversários desses regimes (ditaduras latino-americanas, ditaduras nazifascistas, e outras), quando presos, são submetidos a tratamento tão vil e degradante que perdem momentaneamente toda dignidade, autoestima e autocontrole, agarrando-se a mínimas chances de sobrevivência ou interrupção das dores atrozes impostas pelos verdugos.
Daí, todo mundo sabe, e, principalmente, o sabem todos os companheiros envolvidos em lutas contra ditaduras, o prisioneiro "entrega até a mãe". Por isso, em todas essas lutas, os grupos criam estratégias, que implicam na tentativa do preso de resistir quanto possa, para dar tempo dos demais tomarem conhecimento de sua queda e desmontarem o "aparelho" subversivo que operavam. Do lado dos verdugos, elevam o grau de brutalidade e crueldade, justamente na tentativa de obter as informações a tempo de prender os demais, derrotando, assim, sua estratégia. Nesse embate, os primeiros caídos de um grupo sempre sofrerão mais que os últimos. Há sempre maior probabilidade de mortes entre os primeiros que entre os últimos.
Agora, imaginem que constrangedor, para o torturado, a exibição dos depoimentos e relatos de um "processo" dessa natureza. É evidente que o "processo" não relatará os métodos de tortura empregados, procurando legitimidade, onde constarão como se fossem expontâneas ou fáceis, delações e retratações.
Portanto, qualquer pessoa de bom senso sabe que as informações assim obtidas, as informações contidas em relatos tão traumaticamente conseguidos, não têm nenhum valor informativo sobre as vítimas. Podem servir para psicólogos estudarem os limites de resistência e de crueldade da nossa espécie, isso sim. São capítulos deprimentes da história do ser humano. Alias, são capítulos da história em que duvidamos até de que certas pessoas sejam realmente humanas.
A Folha de São Paulo queria porque queria os relatos constantes do "processo" de Dilma, quando esta se encontrava presa nos porões da ditadura militar. Evidentemente, para uso político, inserindo-se na ignominiosa campanha de desconstrução a que se dedicaram, como cúmplices dos comitês serristas, órgãos como a Globo, o Estadão, a Veja, e a própria Folha, além de outros tablóides.
O STM negou, claro, atentos aos direitos humanos.
Espantosamente, a ministra Cármem Lúcia, do STF, disse que se tratava de censura, e saiu-se com esta pérola:
"Cidadãos estão impedidos, por uma autoridade, de ter mais informações sobre a candidata".
Informações, ministra? A senhora considera informações dados obtidos com a degradação de uma pessoa, com a retirada de toda sua dignidade, por submetê-la a tratamentos insuportáveis. A senhora não vê que a divulgação dessas "informações", sobre qualquer daquelas vítimas, significa submetê-la novamente, desta vez moralmente, o que talvez seja pior, a todo o sofrimento pelo qual ela passou?
Ah! Minha senhora...

sábado, 23 de outubro de 2010

LIBERDADE DE IMPRENSA

A imprensa brasileira sofre de uma miopia intelectual muito grave: julga que a liberdade de expressão os liberta da ética.

sábado, 2 de outubro de 2010

A DECISÃO DOS INDECISOS

As eleições 2010, tanto para Presidente do Brasil como para Governador do Paraná, serão decididas pelos indecisos!

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

PRESIDENCIÁVEIS

No último debate dos candidatos, quinta-feira na Globo, Plinio de Arruda Sampaio teve seu dia de Weislain Roriz.

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

REFORMA TRIBUTÁRIA?

Só se for assim, ó:

Cada município coleta o icms, recolhe à sua tesouraria a parte que lhe é destinada (digamos que fosse 70%), e o restante repassa ao estado. A tesouraria do estado recebe, portanto, 30% de cada município, recolhe aos seus cofres 70% desse montante, e repassa 30% à união.
Diminui-se o custo com a viagem do dinheiro até brasilia e sua volta; diminui-se custo de lobistas e consquentes tráficos de influência; e diminui-se o cruel custo com esqueletos de obras inacabadas. Para que haja lisura no recolhimento no município, o coletor pode continuar sendo estadual.

Quem vai querer perder o poder que a centralização confere?

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

DEUS CRIOU A FÍSICA, UÁI!


"Deus não criou o universo e o 'Big Bang' foi uma consequência inevitável das leis da física, argumenta o eminente físico teórico britânico Stephen Hawking em um novo livro".


Deu no jornal.

Ora, se o universo é consequencia inevitável das leis da física, então as leis da física existiam antes do universo. Eram o quê: um para-universo? Não eram elas o universo naquele momento?
Se não há necessidade de Deus nessa história, então crie logo uma teoria prá explicar o big-bang que criou as leis da física; ou o universo antes do universo!

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

VAIDADES DE VERDADES

Deus, livrai-me das pessoas que sabem a Verdade;
elas perseguem, prendem, torturam e matam
por causa dela!

sábado, 7 de agosto de 2010

FICHA LIMPA, BARRA SUJA.

Cada vez eu entendo menos esse povo. Acho que penso diferente de todo mundo. Claro que isso não é bom.
Esse povo adora entregar sua autonomia, ou sua soberania. Primeiro, entregava ao soberano, mesmo: ao rei de Portugal. Depois, deixou de exigir que o rei fosse o seu senhor, para exigir que o fosse o Imperador. Cansou do Imperador, passou a fazer salamaleques para os militares. Viram? Sempre alguém, ou alguma classe, que não é eleito, ou eleita. Parece que há uma necessidade do povo de submeter-se a alguém que o controle, sem que seja controlado por ele. Como fruto do estelionato político que chamaram de "constituinte", ele entregou o controle de sua vida, as decisões sobre sua alimentação, sobre a educação de seus filhos, seu trabalho, tudo, enfim, ao ministério público e ao judiciário. Claro, não dá prá viver (ainda!) sem essas corporações. Mas, nos países civilizados há, ao menos, um mínimo de controle popular sobre elas. Afinal, quem paga a conta deveria discutir os preços: aqui eles fixam seus próprios salários!
Agora, todos festejam o aumento do controle desses senhores: eles passam a decidir a lista daqueles em quem nós podemos ou não votar. Como? Não é bem assim? É só o cara processado e julgado, e tal? Mas, meu chapa, com tanta lei, ninguém se livra de ser enforcado. O primeiro paranaense que teve seus direitos políticos cassados pela nova ordem, o foi com a desculpa de pesca ilegal! Vejam, o cara saiu com o filhinho e uma varinha equipada com um anzol de lambari numa tarde de sol; foi resvalando pela margem do riacho, até chegar a um local onde a pesca era proibida. Flagrado, teve seus direitos políticos cassados.
E mais... tem um outro poder não eleito e decorrente da constituição ilegítima: as corporações de ofícios, alcunhadas hoje em dia de "conselhos de classe". Desde a Idade Média até o salazarismo resistente no Brasil, pelas mais diversas razões alguém pode ser impedido do exercício profissional pela guilda; e, nem todas são razões criminosas. Algumas até meritórias, como a insurgência contra práticas cristalizadas; ou pela realização de inovações técnicas, tecnologicas ou científicas. Pois bem, o cara inova, desperta o ciúme da corporação, insurge-se, é expulso, pronto, automaticamente é cassado politicamente. Pois está lá na lei: quem é impedido de exercício da profissão pelo conselho de classe cai na malha da lei da ficha limpa.
Será que só eu vejo isso? Será que só eu desejo as rédeas do meu destino, incluindo decidir livremente em quem eu voto, sem ter alguém "cuidando de mim"?
Vai, povo, vai renunciando à sua soberania... Quando quiser acordar e retomar o controle se sua vida, não vai mais conseguir...

quarta-feira, 28 de julho de 2010

RELAXE... E IDOSE!

Tendo visto tantos velhos bons, amorosos, pacientes, cavalheiros e altruístas, chego a acreditar que os que culpam a idade pela perda dessas qualidades na verdade nunca as tiveram.
Já posso pensar livremente essas coisas, pois, segundo nossa exuberante legislação, sou um idoso.
Confesso que resisti. De acordo com o famigerado estatuto que nos discrimina (mais um saboroso fruto da inépcia e desídia de nossos legisladores) completei meu primeiro trimestre de idosidade.
Três meses olhando as melhores vagas no estacionamento do supermercado e resistindo aos apelos do netinho que me acompanhava ("Vô, pára ali, você já é idoso!"). Até que um dia parei... apenas para sair novamente correndo de medo de uma enorme placa que me ameaçava de multa, pela lei tal e tal (mais lei?) se eu não tivesse um tal papel que a prefeitura fornece. Descobri que eu era um idoso descadastrado!
Fui atrás do cadastro, e vi o custo de nossa incivilização.
Não poderiam, simplesmente, criar as vagas para idosos e deficientes, todos respeitarem e a coisa funcionar?
Não. Ninguém pensa em investir na educação, que geraria a civilização, o respeito ao próximo e, consequentemente, às vagas do próximo um pouco dissemelhante.
Não poderiam, então, ao menos aceitar que o idoso colocasse no painel do carro uma xerocópia da carteira de identidade, evitando que o agente desavisado o multasse?
Não. Quem não investiu em educação, também se julga exime de investir em segurança, e o idoso, como qualquer pessoa, tem medo de expor seus dados pessoais a desconhecidos em lugar público.
Então, ao cadastro! Uma prévia pela internet -- custo do erário em informática. Uma ida ao local da entrega da "credencial de idoso" -- custo em combustível e estacionamento. Três rapazes solícitos atendendo -- custo do erário em mão-de-obra (é bom que eles estejam empregados, mas, poderiam estar em atividade mais produtiva e à custa do empresário). Registro e impressos -- mais custo do erário em informática e papel.
Finalmente, um idoso cadastrado. Espero não "engolir o rei", como fazem alguns, e sair por aí gritando meus direito em filas, atropelando jovens com crianças pequenas no colo, ou obrigando deficientes cujas deficiências não são aparentes a exibí-las, a fim de que não os expulse também da fila privilegiada.
Ainda não cheguei a tanta ranzinzice. Por enquanto, me satisfaço em ficar criticando o Estado!

quinta-feira, 15 de julho de 2010

O BIÓLOGO E OS DOIS GUARAS: EQUÍVOCOS DO DENUNCISMO

A prática de se suspeitar, acusar, denunciar e, na sequência e inconsequentemente, julgar e condenar ao escrachamento público na imprensa está tão comum neste país que achei muito útil reproduzir esta carta de um cientista brasileiro.


KAFKA + FOGO "AMIGO" = ZOOLOGIA NO FUNDO DO POÇO

Alexandre Aleixo
Curador da Coleção de Ornitologia
Museu Paraense Emílio Goeldi
Belém – Pará



O escritor tcheco Franz Kafka, autor de jóias da literatura como “A Metamorfose” e “O Processo”, tinha um talento especial para narrar como o insólito pode entrar na vida das pessoas sem qualquer aviso prévio e com conseqüências trágicas. A odisséia kafkiana do biólogo Louri Klemann Jr. começou no dia 15 de maio deste ano no litoral do Paraná, mas seu fim ainda parece longe, com um possível desfecho que pode representar a total falência da Zoologia brasileira como uma ciência que se comunica eficientemente com o grande público e até com alguns de seus supostos líderes nos conselhos regionais de biologia.
O site “Google” é um medidor acurado da odisséia kafkiana de Louri Klemann Jr. Quem digitar o nome completo dele achará várias entradas logo na primeira página. Nas mais acessadas, ele aparece como um criminoso condenado sem julgamento, como Joseph K., protagonista de “O Processo”. Em outras, ele aparece como um prolífico consultor ambiental. Além disso, existe também o Louri Klemann Jr. mestrando do curso de Pós-graduação em Ecologia e Conservação da Universidade Federal do Paraná, bem como aquele que trabalhou em associação com o ICMBIO, a Secretaria de Meio Ambiente do Paraná e o Instituto Ambiental do mesmo estado (IAP) em diversos projetos que vão desde a elaboração de planos de manejo de unidades de conservação, até a revisão da lista de espécies ameaçadas do Paraná e a elaboração de planos de ação para espécies ameaçadas do estado. Curiosamente, o mesmo IAP pode condená-lo em breve a pagar uma multa de 50 milhões de reais por crime ambiental...
Tudo tão contraditório que pode parecer que existem dois Louri Klemann Jr., antípodas um do outro: o criminoso ambiental impiedoso / psicopata implícito e o biólogo conservacionista de formação, parceiro dos órgãos ambientais no estado do Paraná. Infelizmente, todas as páginas do “Google” citadas acima tratam da mesma pessoa! Surpresos?! Lembre-se, como escrevi logo no início, este texto trata de uma odisséia kafkiana. Mas vamos ao que interessa agora: quem é, afinal, Louri Klemann Jr. e por que é toda a Zoologia brasileira que está encarnando o papel de Joseph K. junto com ele num verdadeiro simulacro de processo por um crime inexistente?
A chave para entender a natureza real de Louri Klemann Jr. é o seu currículo Lattes, instrumento de avaliação acadêmica obrigatório no Brasil. Nele, estão bem caracterizados todos os Louri Klemann Jr. “do bem” das páginas do “Google”, mas que se resumem em um só: um jovem e atuante zoólogo com especialidade em ornitologia, cujos feitos não são nada modestos para alguém que começou a cursar o mestrado ainda em 2010. Como, então, apareceu o Louri Klemann Jr. bandido, criminoso ambiental no mesmo “Google”? Qual a origem deste personagem, condenado pela mídia à condição de pária sem julgamento, tal qual Joseph K. em “O Processo”?
A persona Louri Klemann Jr., como aparece caracterizada nas páginas de “A Gazeta do Paraná” nas suas edições de 27 de junho, 4 e 6 de julho de 2010, dentre os links de Louri mais acessados no “Google” nestes dias, surgiu a partir da coleta de dois espécimes de guarás (Eudocimus ruber) em Guaratuba, no litoral do estado do Paraná. Digitem “guará” no “Google” e uma das primeiras entradas sobre a ave a surgir é ilustrada por um indivíduo adulto em magnífica plumagem vermelha carmesim, típica da espécie. Dado importante, e que fará sentido apenas mais adiante: os guarás coletados por Louri em nada se parecem com a ave vermelha vistosa do “Google”, mais um dado a se juntar ao processo kafkiano enfrentado por ele.
Comuns no norte do Brasil e, principalmente por isso, ausentes da lista nacional da fauna ameaçada de extinção, no estado do Paraná os guarás eram ainda considerados ameaçados de extinção até 2009, quando especialistas credenciados pelos órgãos ambientais do estado decidiram pela retirada da espécie da condição de ameaçada, uma vez que ela voltava a se estabelecer no litoral do estado, com até cerca de 200 indivíduos avistados recentemente em Guaraqueçaba. Como essa decisão ainda não foi homologada, o guará ainda é, burocraticamente pelo menos, considerado ameaçado no Paraná.
As histórias de Louri e dos guarás do Paraná se cruzaram no dia 15 de maio deste ano, quando o biólogo se encontrava em Guaratuba desenvolvendo um projeto de pesquisa de longo prazo sobre a avifauna do Paraná, que inclui o estudo e a coleta científica de espécies de aves não ameaçadas do estado, dentre elas duas espécies de íbis, parentes bem próximos do guará e que ocorrem em maior abundância na mesma área: o tapicuru-de-cara-pelada (Phimosus infuscatus) e a caraúna-de-cara-branca (Plegadis chihi). Apesar de parentes próximos dos guarás, estas duas espécies possuem plumagem escura, bem diversa do seu parente mais famoso e tido como ameaçado. Como zoólogo profissional, Louri se encontrava em Guaratuba devidamente autorizado por todos os órgãos ambientais nacionais e estaduais competentes para estudar e, quando necessário, coletar para fins científicos exemplares, dentre várias espécies não ameaçadas de extinção, do tapicuru-de-cara-pelada e da caraúna-de-cara-branca, que nesses casos deveriam ser depositados num dos mais conhecidos museus de história natural do Brasil: o Museu de História Natural Capão do Imbuia (MHNCI), ligado à Prefeitura Municipal de Curitiba. Como todo zoólogo no Brasil, o processo para a obtenção das devidas licenças enfrentado por Louri não foi trivial e envolveu a comprovação em todos os níveis da sua qualificação como profissional, bem como da relevância e adequação da coleta para o seu projeto de pesquisa, tudo avaliado por técnicos independentes, credenciados e com legitimidade para emitir pareceres, que poderiam ser favoráveis ou desfavoráveis. Neste caso, Louri teve assegurado dentro das esferas legais por todos os órgãos ambientais competentes, o direito pleno de coletar espécimes de aves para seu projeto de pesquisa.
No dia 15 de maio de 2010, logo após coletar dois espécimes de íbis de plumagem escura durante suas atividades de campo de rotina em Guaratuba, Louri verificou tratarem-se na verdade de guarás jovens, que nessa fase na vida ainda não exibem a plumagem vermelha carmesim icônica dos adultos, mas sim, a mesma plumagem escura que caracteriza adultos das duas das espécies de íbis não ameaçadas e cuja coleta lhe haviam sido autorizada (tapicuru-de-cara-pelada e caraúna-de-cara-branca).
Pois o processo kafkiano contra Louri começou exatamente aí, com um equívoco que na verdade é previsto e tratado pela mesma legislação que o autorizou a trabalhar e coletar aves em Guaratuba como “Coleta Imprevista de Material Biológico”, e que deve ser relatada oportunamente aos órgãos ambientais que concederam a licença de coleta de material biológico.
Simples? Caso encerrado? Não, lembre-se, o processo kafkiano só está começando.
Os primeiros acusadores do “O Processo”, desta vez na sua versão paranaense, foram pessoas que acusaram Louri de leviandade, de coletar os pobres guarás supostamente ameaçados de extinção de modo consciente e deliberado. “O Processo” foi então tomando corpo e em breve eram os vários órgãos de imprensa do estado do Paraná que se juntaram ao coro de acusadores, mas desta vez omitindo da opinião pública um fato importantíssimo: legalmente, Louri não infringiu qualquer lei ambiental; pelo contrário: está e esteve amparado nela o tempo todo, mesmo tenho cometido o equívoco de ter coletado acidentalmente uma espécie oficialmente listada como ameaçada de extinção num estado brasileiro. Ademais, toda a sua história pregressa, assim como o contexto da coleta dos guarás, o inocentam, com ampla margem, de qualquer acusação de má fé e mau uso da sua licença de coleta.
O “Processo” contra Louri adquiriu o auge de um drama kafkiano quando o presidente do Conselho Regional de Biologia – 7 (CRBIO-7) veio a público engrossar o coro de algozes e declarar que, de antemão, o biólogo já poderia ser considerado errado e culpado pela coleta dos guarás, além de achar estranho o fato dos órgãos ambientais terem autorizado o mesmo a coletar espécimes da fauna. Para fechar com “chave de ouro”, a autoridade máxima do CRBIO-7, com sede em Curitba, a mesma cidade que sedia a Sociedade Brasileira de Zoologia (SBZ), proferiu seu julgamento sobre a coleta científica: desnecessária para o estudo dos animais.
Definitivamente, Louri e nós zoólogos estamos “muito bem na foto”. O presidente de um de nossos conselhos regionais mais influentes, quando vem a público se pronunciar sobre um episódio de coleta, além de declarar publicamente um colega culpado de antemão sem julgar o seu processo pelos trâmites regimentais, ignora por completo a legislação ambiental que rege a coleta científica no país, e, ainda por cima, não tem qualquer noção do papel da coleta científica para a zoologia.
E “O Processo” segue e, no seu calor, até o IAP declara a possibilidade de multar Louri em 50 milhões de reais, sem dúvida uma quantia modesta e justa, oferecida por qualquer mega-sena...
Como chegamos a esse ponto? Como, até mesmo os nossos representantes de classe ignoram por completo a legalidade e o valor da coleta científica e fornecem munição para campanhas de achaque e linchamento moral a zoólogos, ao invés de esclarecer ou pelo menos qualificar o debate junto á mídia e ao grande público? Tudo o que não precisamos nesse momento, é deste “fogo amigo”, que sepulta por completo a esperança de que a justiça vai se fazer presente e nos acordar do pesadelo desta versão moderna e brasileira de “O Processo”. Esse “fogo amigo”, no fundo, mostra que a atividade de coleta científica no Brasil chegou ao fundo do poço.
Meses atrás, ficamos todos deprimidos com o incêndio das coleções biológicas do Butantan em São Paulo e nos manifestamos das mais diversas formas, fizemos barulho sobre o que achávamos ainda ser inadequado ou insuficiente e que colocava em perigo as coleções e a zoologia no Brasil.
O drama pessoal de Louri é outra tragédia da zoologia brasileira, com uma simbologia própria: se a tragédia do Butantan envolveu a perda de milhares de exemplares coletados ao longo de várias gerações de zoólogos, a tragédia de Louri envolve a perda futura de um número desconhecido de exemplares que não serão coletados por ele e pelas novas gerações num país cada vez menos informado sobre o que é, para que serve e como é regulada legalmente a coleta científica.
Vamos, como sociedade, exigir justiça nesse caso e evitar um final kafkiano para “O Processo” de Louri Klemann Jr. Primeiramente, Louri precisa de nosso apoio para inocentá-lo de qualquer acusação de má-fé nesse episódio, como bem demonstram as condições e o contexto da coleta dos guarás em Guaratuba, além das credenciais por ele obtidas durante sua carreira profissional. Louri precisa da nossa ajuda e testemunho para se defender nos mais diversos processos que estão sendo abertos contra ele, inclusive aqueles que lhe cobram multas de valores insólitos, que devem estar lhe gerando uma angústia indescritível e com certeza o desestimulando a continuar com a atividade de coleta científica no futuro.
Além disso, temos que ativamente buscar espaço na imprensa e quaisquer foros para réplicas, esclarecimentos, retratações e ações afins, sempre que a coleta científica tiver uma cobertura parcial e sensacionalista, que contribui para repercuti-la negativamente junto à opinião pública. É inclusive uma sugestão minha instituir na Sociedade Brasileira de Zoologia (SBZ) e Sociedade Brasileira de Ornitologia (SBO), às quais sou filiado, comissões internas para esses casos, com a atribuição de avaliar cada caso e, quando oportuno, se pronunciar sempre que necessário junto à imprensa e o grande público de um modo geral. Não seria tampouco absurdo pensarmos em algum tipo de assistência jurídica permanente e de qualidade respaldando o trabalho dessas comissões.
Os personagens de Franz Kafka refletem sempre aquele que foi o drama pessoal do próprio autor: um indivíduo que, pela sua singularidade, sempre se sentiu culpado por ser diferente e aprendeu a não esperar outra coisa do mundo a não ser a rejeição gratuita associada à aniquilação. Num determinado ponto de “O Processo”, percebemos que toda a busca pelos termos e mesmo sentido da acusação sobre Joseph K. é inútil, já que o próprio protagonista começa a se sentir culpado por um crime cujo teor ele mesmo desconhece. Portanto, Joseph K. acaba aceitando a pena capital que lhe é decretada até com um certo alívio, já que o seu grande “crime” afinal era e sempre foi a sua própria existência. Em resumo: Joseph K. já nasceu culpado de um crime a ser punido com a pena capital.
De modo análogo, a imprensa, boa parte da opinião pública e pelo menos um conselho regional de biologia tem o mesmo posicionamento sobre a coleta: sua simples concepção é errada e meritória de punição exemplar. Mesmo sem jamais ter ido às verdadeiras fontes, mesmo sem sequer ouvir as duas partes; mesmo sem admitir qualquer tipo de defesa. Que isso não se repita mais com as coletas científicas no Brasil. Que nós não deixemos o obscurantismo transformar essa atividade prevista e regulada por lei e praticada por amantes e filósofos do mundo natural num crime banal, tornando-a equivalente ao desmatamento, especulação imobiliária e tráfico de animais silvestres, esses sim, os grandes vilões da fauna brasileira.

Belém, 13 de julho de 2010

domingo, 25 de abril de 2010

O QUE O COMUNISMO NÃO CONSEGUIU, O CAPITALISMO ARREMATOU.

"Para Mark Zuckerberg, executivo-chefe do Facebook, a era da privacidade acabou."
Esta frase, lida hoje na Folha on-line, trouxe-me imediatamente à memória outra, dita virtualmente há quase cem anos, pela personagem Pasha Strelnikov, no filme Doutor Jivago: "A vida privada acabou na Rússia".

terça-feira, 30 de março de 2010

...

Não digas de ti mesmo: servo do Senhor!
Sê honesto!
Deixa Deus fora disto.
Não te digas a serviço de Jesus.
Não o culpes pelos teus preconceitos.
Pelos teus erros, ambições e perseguições.
Livra-te tu mesmo dessas coisas.
Não o acuses de mandante
nem mentor intelectual
de tuas inquisições!
És sócio de satanás?
Pois ele assusta os incautos,
e tu lhes cobra proteção?
Ou até ele é inocente, só tu assustas?
Fica atento, um dia
ele virá cobrar sua parte!
Os verdadeiros servos do Senhor
se os houvesse,
não comprometeriam seu amo.
Assumiriam como próprias suas idéias.
Responderiam como seus, seus próprios atos.

domingo, 28 de março de 2010

MUDANÇA DE CONCEITOS... OU SUPERAÇÃO DE PRECONCEITOS.

"As feias que perdoem Vinicius, pois ele não sabia o que dizia."

(Frase encontrada na revista Universo Espírita, num texto que tratava de Susan Boyle).

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

VAIDADE DE VAIDADES...

Tudo é vaidade.
E flores da estação; que surgem, colorem e perfumam, e cumprem sua finalidade. Depois murcham, secam, desaparecem, e ninguém mais lembra delas.
Assim é tudo que adorna tua personalidade; tudo que te caracteriza: o corpo, a aparência, as posses, os títulos, as crenças, tudo flores da estação.
As leis e as organizações que te sustentam mudarão, não serão as mesmas.
Nenhuma das instituições para as quais trabalhas, nenhuma igreja ou religião, nada permanece, porque nada disso é de Deus. E Deus não se importa com elas.
Elas são flores da estação, que adornam tua personalidade.
Só o indivíduo permanece.Por isso é a ti, e só a ti, o indivíduo, que Deus se dirige, com quem Deus se preocupa.
As igrejas, religiões, crenças e convicções, são flores da estação.
E se pensas que tua religião é uma obra de Deus e te sentes justificado em todo o mal ou o bem que por ela fazes, saibas que ela não é obra de Deus, nenhuma delas. Mas Deus te argüirá, a ti somente, ao indivíduo, sobre o que fizeres, a ti e aos outros, com e por causa, das flores da estação.
E quando as flores morrerem e desaparecerem, delas não restando aromas ou cores, e nada, Deus então dirá só a ti, sem teus guias, teus gurus, teus padres, pastores, rabinos ou aiatolás, só a ti ele dirá, o que te sobrou dessas flores e que poderás levar, porque poderá te servir, no encontro que terás com outras cores e outros aromas, de outras flores, em outras estações.

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

ÁI... AYAHUASCA!

Sem dúvida, o mercado religioso é o mais concorrido e agressivo. Aliás, acho que é o único mercado, até agora na história deste planeta, que chegou ao ponto de admitir a eliminação física dos vendedores e consumidores de produtos concorrentes. Haja vista as caças a bruxas, inquisições, guerras santas, e outras práticas.
Agora, o mercado se arma contra o mais novo produto concorrente: o inocente chá de mato que emerge no horizonte oeste. E os que se acham ameaçados por ele -- uma vez que ameaça diminuir as hostes de seus adeptos fiéis e mantenedores servis --, o acusam de todos os males, desde disposições demoníacas, até dependências e efeitos semelhantes às drogas que sustentam a economia brasileira (e, consequentemente, o Estado Brasileiro, com seus podres poderes), quiçá mundial, a saber, maconha, cocaína, heroína e ópio.
Não sou ayahuasqueiro, não integro nenhuma dessas seitas, mas já bebi o chá. Bebi na UDV, bebi no Santo Daime, e bebi por conta própria, preparado por mim mesmo, já que conheço as plantas envolvidas e sei onde encontrá-las. Conheço o chá há cerca de dez anos; faz tempo que não bebo, e, em todo esse tempo, se o bebi dez vezes foram muitas. Por isso, divirto-me com a argumentação espalhada na mídia. Não bebo o chá há tempos porque é muito ruim. Querem ter uma idéia? Talvez os da minha idade, egressos do meio rural ou pequenas cidades, lembrem de nossos maiores pesadelos infantis: as cruéis mãos de nossas mãezinhas empurrando colheradas de tussaveto ou óleo de fígado de bacalhau. Multiplique esse terror por dois ou três, e teremos o gosto horrível da ayahuasca. Vencida a agressão ao paladar, começa o desagradável peso no estômago, que, até o final do ritual, certamente levará o usuário ao vômito ou à diarréia.
Então, por que bebem? Por que se dissemina o culto? Simples: para "encontrar Deus". As pessoas fazem de tudo para encontrar Deus. O pessoal do opus dei não se chicoteia até o sangramento? E os jejuns? E os homens-bomba? E afinal, o Mel Gibson já não mostrou em cores vivas o que Deus exigiu de seu próprio filho unigênito, para conceder-lhe a honra de sentar-se ao seu lado? Ora, perto disso tudo, a ingestão de uma bebida amarga se torna mel prá zangão.
Podem deixar livre; nem de longe vai atrair a molecada como as drogas oficiosas. Só passa da primeira tentativa os que realmente querem "encontrar Deus" (ou as equivalentes expansões espirituais). E, a despeito dos despeitados jurarem de pezinho, não cria dependência. Inúmeros são os que abandonam a seita e não sentem a menor crise de abstinência. Eu mesmo, se gerasse dependência, estaria viciado. No entanto, tenho ainda um estoque na geladeira, restos dos últimos preparos, aguardando o esquecimento do paladar e alguma motivação para o consumo. É possível imaginar alguém guardando um tantinho de cocaína no armário e dizendo: "deixa aí, prá se um dia der vontade"?
E a hipocrisia do "pode beber, mas não pode comercializar"?
Pois aí é o nó da questão!
Não se comercializam livros doutrinários, aguinhas do rio jordão, medalhinhas bentas e outras miçangas sagradas, para aqueles que precisam delas para encontrar Deus, já que não sabem que basta um simples: "olá, Jeová, tudo bem"?
E, essas coisinhas todas têm custo. O chá também: é preciso cuidar dos pés de mariri e de chacronas, colher, preparar à custa de lenha ou gás em panelas e caldeirões, transportar, distribuir, pagar aluguel, luz e água dos templos, e tudo o mais...
Oras... oras...

sábado, 2 de janeiro de 2010

AS VERDADES E AS FÁBULAS

Entre os poucos livrinhos infanto-juvenis que publiquei, num deles, "Brás Brasileiro", o protagonista mede-se num pé de mamão e acha que encolheu quando se mede tempos depois. Ganhei muitas críticas e reprimendas, até de dentro da família, onde tenho agrônoma e bióloga de plantão, uma vez que a árvore não poderia ter elevado a marca, pois elas crescem por superposição. Minha salvação foi que eu havia colocado na primeira página do livro um aviso assim: "Neste livro existem verdades e mentiras; mas eu acredito mais nas mentiras". Também aleguei que, se é verdade que as árvores não crescem "se esticando", elas engrossam; ou seja, encorpam. E, no se encorparem, acabam elevando, por pouco que seja, uma marca qualquer deixada em seu tronco. Não colou. Fui, então, cobrar do meu barranqueiro particular a gafe. Ele garantiu que a historia era verdadeira. E pouco se importava como as árvores cresciam.
Lembrei-me disso quando lia, hoje, num gibi do "Sítio do Pica-pau Amarelo", a Tia Nastácia, Emília e Pedrinho, às voltas com um macaco que roubava os amendoins da horta da cozinheira. Lá estavam os pezinhos de amendoim intactos, como se as frutinhas roubadas pendessem de seus galhos. A Emília chegou a acariciar um deles dizendo: "É mesmo! Este pé está depenadinho! Que coisa!"
A gafe do gibi, seguramente, se deve ao fato de o autor ser do meio urbano, sem nunca ter acompanhado uma cultura de amendoins.
A minha, porque meu informante, o barranqueiro particular, apesar de ter nascido, crescido e vivido sempre no meio rural, nunca observou com rigor científico o crescimento das árvores. Aliás, os camponeses que povoaram minha infância e adolescência sempre foram mais especializados em cortar árvores do que plantá-las e vê-las crescer...

sábado, 31 de outubro de 2009



Se você não for o maior, multiplique-se!
Mais abaixo existe uma imagem mais próxima desse palmito "galhado".

sexta-feira, 30 de outubro de 2009

SCHOPENHAUER NO BLOG

O Schopenhauer andava louco prá colaborar neste blog. Assim, dei-lhe uma chance. Mas, trouxe-me um texto de 150 anos! Julguem se serve...

"... só chegará a elaborar novas e grandes concepções fundamentais aquele que tenha suas próprias idéias como objetivo direto de seus estudos, sem se importar com as idéias dos outros. Entretanto os eruditos, em sua maioria, estudam exclusivamente com o objetivo de um dia poderem ensinar e escrever. Assim, sua cabeça é semelhante a um estômago e a um intestino dos quais a comida sai sem ser digerida. (...) Não é possível alimentar os outros com restos não digeridos, mas só com o leite que se formou a partir do próprio sangue. (...) Diletantes, diletantes! -- Assim os que exercem uma ciência ou uma arte por amor a ela, por alegria, per il loro diletto , são chamados com desprezo por aqueles que se consagram a tais coisas com vistas ao que ganham. Esse desdém se baseia na sua convicção desprezível de que ninguém se dedicaria seriamente a um assunto se não fosse impelido pela necessidade, pela fome ou por uma avidez semelhante. O público possui o mesmo espírito e, por conseguinte, a mesma opinião: daí provém seu respeito habitual pelas "pessoas da área" e sua desconfiança em relação aos diletantes. (...) O grande público culto busca viver bem e se distrair, por isso deixa de lado o que não é romance, comédia ou poesia. Para, excepcionalmente, chegar a ler algo com o objetivo de se instruir, o público aguarda antes uma carta de recomendação com o selo daqueles que mais entendem do assunto, declarando que de fato se encontra ali um ensinamento válido. E os que mais entendem do assunto, supõe o público, são as pessoas da área. Ele confunde, assim, os que vivem de uma matéria com os que vivem para uma matéria, embora essas duas atividades raramente sejam exercidas pelos mesmos homens. Como Diderot já disse, em O sobrinho de Rameau, a pessoa que ensina a ciência não é a mesma que entende ela e a realiza com seriedade, pois a esta não sobra tempo para ensinar."

Suponho que, hoje em dia, os tais diletantes sejam conhecidos pelo nome de amadores.
Quando encontrá-lo eu pergunto...

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

SEGURANÇA NO RIO EM 2016

Nem se preocupem. A imprensa internacional, os organizadores da Olimpíada, os turistas, e demais interessados podem ter certeza: o Rio lhes dará total segurança em 2016. O Rio já demonstrou capacidade para tal na Eco-92 e nos Jogos Panamericanos. O governo federal ajuda, juntam as policias do Rio, a guarda nacional, polícia federal, exército, e quem mais for preciso e, garanto, não se ouvirá um pum nas favelas do Rio.
Podem ficar tranqüilos.
Quem não poderá ficar tranqüilo somos nós, os demais brasileiros de Curitiba, Belo Horizonte, Porto Alegre, e todo o interior. Os negócios do tráfico não podem parar; o prejuízo seria grande, afetaria a economia. Então, migram para outros lugares. Caem sobre nós. De início, com intenção provisória; mas, após o relaxamento da segurança no Rio e a volta prá casa, deixam o que por aqui instalaram como postos avançados ou expansão dos negócios.

domingo, 18 de outubro de 2009

MAITÊ PROENÇA VERSUS PORTUGUESES: ZERO A ZERO

A Maitê Proença foi desastrada ao divulgar um vídeo que deveria ser mostrado apenas aos amigos, e os portugueses reagiram com exagerada e preconceituosa violência verbal. Se ela demonstrou desconhecer a história esotérica de Portugal, eles demonstraram ignorância total em geografia e principalmente demografia, atribuindo aos quase duzentos milhões de brasileiros certas características peculiares a vítimas da exclusão social, como vandalismo, prostituição e outros crimes.
Além do quê, não entenderam que a cuspida na fonte foi apenas uma imitação da estátua que deveria fazer a água jorrar e, não, como gritaram, um atentado a um "patrimônio da unesco".
Mas, assim como a professora entrevistada pelo canal português relevou a ignorância da atriz em história, nós relevamos o fato deles não conseguirem siquer imaginar o que sejam duzentos milhões de pessoas.
Uma das réplicas youtubianas dizia: "Maitê Proença ofende dez milhões de portugueses!" E fico a imaginar o autor, ante o silêncio dos brasileiros, completando: "Estais a pensaire o quê? É tudo o que nós temos!"

sábado, 17 de outubro de 2009

O HÓSPEDE ZELAYA

Os italianos têm um ditado curto e grosso sobre hóspedes:

"l'ospite è come il pesce, fra tre giorni rincresce".

Na falta de rima, os italianos da colônia costumam traduzir assim: "hóspede é como peixe, apos três dias fede".

A turma do Zelaya já está hospedada há mais de vinte dias na embaixada brasileira;
como é que deve estar o ar por lá?...

sábado, 26 de setembro de 2009

HIPOCRISIA E PRECONCEITO

O povo brasileiro está, sem dúvida alguma, em crise. Refiro-me ao povo, bem entendido. Rejeitado em todo o mundo, impotente em seu país, alienado de seu próprio destino por leis e corporações espúrias, manipulado pela mídia, acuado pelo crime organizado e desorganizado, alterado pelas drogas, e mergulhado num sentimento inconsciente de culpa pelos preconceitos que se escondem nos escaninhos da mente mas teimam em não desaparecer, tenta fugir de si mesmo surfando numa onda de denuncismo que não faz mais que denunciar seu próprio interior confuso.
Moralistas de plantão forçam a guilda correspondente a censurar a propaganda do "sexo com Cauã". Duplo preconceito: velhos têm que ser assexuados; moças têm que ser recatadas. Machismo somado ao pavor da velhice. Se fosse um baita macho dizendo ao filho homem que é melhor sexo casual do que casamento teria passado despercebido.
E a complicação que um casal de sanguessugas de Brasília lançou na vida do italiano, em Fortaleza? Se fosse um homem e uma menina, ambos brancos, em carinhos filiais e paternais, ninguém perceberia. Como era um branco e uma menininha negra, ninguém pensou que pudessem ser pai e filha; a mente suja das candinhas em alerta só podia aventar pedofilia.

Tudo isso para tentar não enxergar a realidade: um país que, apesar dos índices duvidosos de desempenho econômico, dilui seus valores num mar de crueldade e crime.

Denunciem, compatriotas, denunciem; assentem seus celulares e câmeras para a intimidade alheia, devassem-na e a exponham nos youtubes da vida; enquanto isso a pressão do vulcão aumenta e suas lavas de hipocrisia, drogas e violência nos levarão de roldão, como a vingança de um Deus irado e cansado digna dos mais ameaçadores livros sagrados.
O problema é que Deus sempre foi um cara distraído: quando castiga um povo por seus vícios, atinge também os inocentes...

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

SE É BRASILEIRO, PAGA A CONTA...

Cardoso posava de socialista enquanto usava nossos recursos e esforços para ficar de bem com a direita do mundo. Lula, que se acha socialista, usa nossos recursos, esforços e sangue para agradar a esquerda da américa e do mundo. É o velho arrivismo atávico do político brasileiro: administra sempre pensando no próximo cargo (no caso deles, alguma auréola da onu ou da oea).
Ajuda a eleger e manter no cargo o Morales, dá direitos e proteção aos bolivianos de São Paulo, e a paga é a expulsão dos brasileiros que produzem na fronteira daquele fim de mundo. Move céus, terras e prestígios prá eleger o Lugo, e a paga é a hostilização dos brasiguaios, únicos a darem àquilo uma alternativa econômica à trambicagem. O Chaves sempre dá a impressão de que trata Lula como o bobo da corte, e os demais brasileiros como otários. Agora vem esse tal Zelaya usar nossa embaixada em Honduras como escritório político, como se fosse a casa da maria-machadão.
Se apoia tanto o Zelaya, que foi expulso do seu país por tentar convocar uma constituinte, por que, diabos, não convoca ele, o Lula, uma constituinte por aqui, já que nunca na história desse país tivemos uma de verdade?
Quer dizer que quem deseja constituinte em Honduras é mocinho, com direito até ao chapéu, enquanto o mesmo desejo por aqui é coisa de bandido?

terça-feira, 22 de setembro de 2009

DE LEIS, LEGITIMIDADES, PESSOAS E COISAS...

Morreu um amigo. Ainda relativamente jovem, 64 anos. O Mussi. É bem verdade que não nos falávamos havia quase duas décadas; mas, num mundo complicado como o de hoje (em todas as épocas o "hoje" foi complicado para os de "ontem") nos encontramos mais à distância que pessoalmente. Lembro de quando ele tentou chegar à constituinte. Eu, também, tentava chegar à constituinte estadual: que pretensão! Acabei fazendo dobradinha com o Cícero e o Napoleão (outro que se foi cedo) e não com ele, que era "compañero" da velha petrobrás. Ficou um pouco chateado... Depois, vendo a quantidade de votos que tirei dele em São Mateus (será que alguém de lá se lembra de mim?) e aportei aos outros dois, pediu-me apoio numa campanha municipal; e, eu, apoiei. Nenhum dos três chegou à constituinte nacional, assim como eu não cheguei à estadual. Tentamos dar legitimidade a um processo ilegítimo; a um estelionato político condizente com a história do Brasil: a transformação em "constituinte" de um congresso eleito sob os vícios incuráveis da política brasileira -- favores, antipós, telhados e empregos. Só haveria legitimidade naquela constituinte se fosse uma convocação exclusiva, que levasse o povo a discutir leis; e, ao final, que fosse submetida a referendum... Eu e uns amigos participamos de um circo na Santos Andrade, de discussões, com a presença de meia dúzia de "cidadãos". Redigimos cartas e intenções, idéias e projetos, em minha velha olivetti lettera não-lembro-o-quê. Lembro também do Mussi um pouco antes, quando ele era secretário de segurança. Numa reunião sobre "espiritismo e constituinte", na federação espírita, ao término, tive a infeliz surpresa de encontrar vazio o lugar onde antes estava o meu carro. Como era costume na época, pedi socorro a ele, telefonei pedindo uma forcinha a fim de que a polícia se interessasse. Deu certo, dois ou três dias depois encontraram o carro; depenado, mas encontraram... Dias atrás fui a uma palestra de um daqueles amigos do circo e da constituinte, o Ney (ele fora desentocado por algumas horas de seu sítio nos confins de Itaiacoca). Na palestra ele fez uma alusão afetiva e simpática à minha maquininha lettera olivetti. Não tive coragem de dizer-lhe que ela não está mais comigo... Foi levada, junto com outras coisas, por um "cidadão" que invadiu minha casa em minha ausência; não deu nem prá ligar para o secretário de segurança, agora um "promotor", cidadão de primeira classe que eu nem conheço (como não conhecia os de "primeira classe" antes da constituinte, os militares -- na verdade, só tive amigos no poder naquele intervalo, quando o poder escapava das mãos dos militares, mas ainda não havia caído nas mãos dos novos senhores)... E a maquininha não voltou... como muitas coisas e muitas vidas hoje não voltam... nessa diluição total de direitos e valores em que a constituição ilegítima derrete lenta e imperceptivelmente o país...

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

EU TENHO UM SONHO

Lembram quando escrevi este poemeto?

Eu tenho um sonho;
Um sonho de poder.
Meu sonho de poder
Era obrigar todas as autoridades,
De todos os poderes,
Em todos os níveis,
A colocarem seus filhos
Em escola pública.
Aos que já o fazem: meus parabéns!

Meu sonho de poder
Era obrigar todo juiz de direito
Estadual ou federal
A abastecer seus automóveis
Nos postos aos quais desse liminar
De reabertura,
Quando fechados por fraude.
Aos que já o fazem: meus parabéns!


Pois bem, ontem um Senador defendeu na tribuna do Senado medida semelhante à do primeiro verso. Ninguém ouviu!
Em todo caso, tomara que defenda também a idéia do outro verso...

NOVAMENTE PISOS SALARIAIS

Incrível: os governadores recorrem ao Supremo para não pagarem aos professores um piso de novecentos reais!
Então, vale repetir o que já disse lá longe...

Nosso país contrata dois jovens formados pela universidade: um, na área da educação (geralmente com pós-formação); outro, na área do direito. Ao primeiro, paga R$415,00 por mês para formar bons caráteres. Ao segundo, paga R$22.500,00 por mês para punir maus caráteres. Podemos sonhar com um bom futuro enquanto estivermos investindo na repressão 50 vezes mais (!) do que na formação?

Noutro dia a imprensa noticiava que o Congresso, pressionado pelo lobby correspondente, vai votar um projeto equiparando o salário dos delegados ao dos promotores, aumentando consideravelmente a despesa nacional. Deveria ser ao contrário: equiparar o salário dos promotores ao dos delegados. Mais: deveriam equiparar o salário dessas duas categorias ao dos professores!
Só há um projeto, ou decreto, ou seja que diabo for, que poderá salvar o nosso país, retirando-o dos indecentes níveis de criminalidade e candidatando-o à civilização; e, esse decreto seria:

Todos os servidores públicos do país, de qualquer categoria, em qualquer nível, em qualquer dos poderes, sejam ou não alcunhados de "autoridade", terão como teto salarial o salário do professor primário!

sábado, 12 de setembro de 2009

OS SEIS PODERES DA REPÚBLICA

Ao contrário do que você aprendeu na escola, a república brasileira possui seis poderes:

1 - A Imprensa
2 - O Ministério Público
3 - O Judiciário
4 - As Corporações de Ofício
5 - O Executivo
6 - O Legislativo.

Desses, você elege apenas os dois últimos e menos significantes... E se acha o dono da casa... Êita democracia arretada!...

EVOLUÇÃO

Evoluídos eram os dinossauros: dominaram o planeta bem uns trezentos milhões de anos, todo esse tempo no topo da cadeia alimentar, e não desequilibraram o meio-ambiente; acabaram extintos por um fator externo, um cometa. Já nós, os primatas, em menos de um milhão...

sábado, 29 de agosto de 2009

FOGO CONTRA FOGO

Prá que tanto esforço em combater as milícias?
Afinal, cada vez mais na história deste País,
os bandidos nos livram dos bandidos.
Vejam, por exemplo: quem está nos salvando da Globo é a Record!

segunda-feira, 17 de agosto de 2009




Imagens que minha filha Dani captou na Serra do Mar.


Vocês já viram palmeira juçara "galhar"? Pois aí está: em minha chácara, no Rio Cachoeira, Antonina, nasceu essa palmeira, que se abriu em dois ramos, e um deles abriu-se de novo. Numa só palmeira, tenho três palmitos!

sexta-feira, 31 de julho de 2009

A LENDA DA CRIANÇA

As lendas, mais do que verdadeiras mentiras, são mentiras verdadeiras. Mesmo que fosse um jogo de palavras já teria seu valor. É que as lendas, sendo mentirosas em suas vestimentas, construídas de fantasias, dizem, ao final, coisas das profundezas mesmo de nosso ser, que de outra forma não entenderíamos. Li, certa vez (pois eu já estou na idade do ter lido não sei quando em não sei onde), que havia um povo que tinha uma lenda da criança. Segundo essa lenda, Deus teria feito o mundo de uma vez, com todas as criaturas prontas, portanto, nós todos, adultos. Mas, o mundo era muito triste, as pessoas vagavam sem ânimo, todos se esbarravam sem muito interesse em conhecer-se. Até que Deus teve um idéia genial e criou a criança! (Ou seja, claro, introduziu o mecanismo corrente da reprodução). O fato é que as coisas mudaram. Uns serezinhos que, ao lado de quererem que se lhes alimente e limpe, não têm outra preocupação senão em descobrir o mundo. Querem novidades, querem ver e entender tudo o que os cerca, sem exigências de como as coisas são ou deveriam ser. Querem absorver o mundo como ele é. Quem tem pequenos filhos, netos, sobrinhos, ou mesmo se detenha em conviver por algum tempo com um desses seres, verá como eles desnudam nossos preconceitos, destroem nossa rotina e clareiam nossa mente. Estamos sempre preocupados em como deveria ser o mundo, e, portanto, magoados porque não é mais do jeito que era, nem se parece com o que queríamos que fosse. E a criança chega e nos pede apenas que lhe mostremos o mundo como ele é, que a deixemos sentir as coisas, cheirá-las, ouvi-las, pois mais para a frente, num depois, elas saberão como mudá-las. Assim, a lenda nos diz que Deus, quando criou a criança, inventou o futuro e a esperança, e que seremos felizes se, nesses assuntos, soubermos ser crianças pela vida afora.

quarta-feira, 29 de julho de 2009

DESMORALIZAÇÂO DO RECURSO DA PRISÃO

Ou desmoralização da autoridade confererida pela sociedade ao juiz.
Eu não consigo acreditar que ouço certas notícias. Uma paciente é internada em hospital particular, e este sugere à família transferência para a rede pública. Não há vagas. A família recorre à justiça, que determina a transferência da paciente em duas horas(sic!). A médica encarregada da administração dos leitos informa que não há leitos disponíveis. O juiz manda prender a médica!
Ela e detida, fica três horas e meia na delegacia prestando depoimento, é exposta na imprensa, e, possivelmente, será indiciada, tendo que destinar parte de seus rendimentos, sacrificando quem sabe a educação de seus filhos, para honorários de advogados que a defenderão dessa lambança do juiz.
Agora, eu pergunto: será que se a comunidade elegesse para juiz o padeiro da minha rua, o verdureiro da quitanda, ou o serralheiro da esquina (tal como acontecia no "velho oeste"), algum desses cidadãos tomaria uma decisão tão pouco inteligente e tão pouco sensível como esta?
Por isso eu repito: diretas já, para juiz e promotor!
(P.S. A notícia saiu no Jornal Nacional)

quarta-feira, 22 de julho de 2009

OS RISCOS DA IMPORTAÇÃO

Claro que é muito saudável a permanente troca de mercadorias e idéias entre os povos. Assim como a expectativa de que, agindo com total liberdade na busca de atender seus interesses particulares, cada um acaba contribuindo para o bem estar coletivo. Mas, envolve risco.
Veja-se, por exemplo, o acontecido quando alguém, na legítima aspiração de enriquecer mas infenso a criar um caminho próprio seja por questões culturais ou pessoais, resolveu importar pneus usados. Quase viramos escoadouro mundial desse descarte incômodo.
Mais recentemente, outro brasileiro resolveu importar lixo para reciclagem. Quase viramos o aterro sanitário da Inglaterra.
Contudo, sem dúvida, o que envolve maior riscos é a importação de bandeiras. Na intenção (também legítima, claro) de crescer politicamente, candidatar-se e angariar votos, mas não possuindo criatividade própria para suscitar uma causa tupiniquim, correm ao mercado internacional de idéias políticas em busca de uma bandeira. E o valor nunca é dado ao que a bandeira agasalha em termos de conteúdo, e, sim, ao seu charme mobilizador.
Importa-se, dos Estados Unidos -- um país diferente do nosso na política, na economia, na educação e na questão racial --, a tal "discriminação positiva" e as cotas, e ganharemos como subproduto um apartheid, seja com qual sinal matemático for.
Na década de 70 chegam ao poder na Itália os partidos de esquerda portando, entre outras, a bandeira da luta antimanicomial. Dramáticos como são os italianos, saíram a derrubar a marretas os muros dos hospícios, libertando alguns, mas lançando outros ao abandono das ruas ou à desorganização de famílias. Na década de 80, toda a sociedade recuou e restaurou a instituição. Evidentemente corrigida nas piores falhas, o que seria o correto desde o começo. E, finalmente, na década de 90 as esquerdas brasileiras, carentes de causas ou de sensibilidade para descobri-las em nossas necessidades, importaram essa bandeira rota e abandonada pelas esquerdas italianas.
O mais trágico nessas causas importadas é a carência de senso crítico que se desenvolveria naturalmente se a idéia fosse gestada localmente ou decorresse de necessidades nacionais. Sem essa massa crítica, elas são assimiladas apaixonada e irracionalmente pelos que se julgam por elas beneficiados, e qualquer um que tente argumentar em sentido contrário torna-se um potencial inimigo. Assim, quem argumenta contra as cotas é acusado de racista. Quem, por labutar na área, sabe que existem muitas pessoas necessitadas de períodos de internação -- seja para defendê-la dos outros, os outros dela, ou ela de si mesma; ou, ainda, por causa da mania de nossos políticos de começarem as reformas pelo telhado, criando leis que obrigam coisas para as quais ainda não foram criadas as condições materiais --, e argumenta contra o delenda internamento, é acusado de estar defendendo seus próprios interesses. Aliás, em muitos casos, se fossem antes criadas as condições materiais, a lei se tornaria desnecessária, e com ela a bandeira, e com esta os votos.
Talvez mais trágico ainda do que isso tudo, seja a presteza com que os poderes do Estado adotam tais bandeiras importadas, de olho na diminuição das despesas públicas, o que permite sobrar numerário que garanta a manutenção do maior, mais caro e mais inoperante contingente de servidores públicos que a história humana jamais viu. Assim, ao invés de investir pesado na educação de base, cria-se uma lei de cotas como paliativo. Ao invés de melhorar a saúde pública e corrigir as gritantes aberrações hospitalares, extingue-se os hospitais psiquiátricos. Em lugar de uma política eficiente na proteção da velhice, joga-se o problema para o contribuinte, obrigando um cidadão a conviver com quem nada fez durante a vida para lhe conquistar o afeto ou o respeito, exigindo-lhe uma responsabilidade que seria meritória se assumida voluntariamente, mas torna-se uma violência à liberdade individual quando imposta.
Enfim, assim como há uma alfândega que protege o erário da sonegação fiscal, deveríamos desenvolver uma barreira crítica que nos protegesse da importação de idéias e soluções.

domingo, 12 de julho de 2009

LEIS CEGAS (OU BURRAS?)

Tem que ser assim?
Bairros são dominados por traficantes que exercem seu trabalho durante anos, aterrorizando moradores, com incômodo mínimo pela polícia.
Casas são invadidas por homens armados e, mesmo com telefonemas de vizinhos, a polícia comparece apenas várias horas depois, com as indefectíveis pranchetinhas de anotar a ocorrência.
Carros e residências são roubadas e não acontece a mínima investigação, mesmo havendo sempre suspeitos citados por moradores, vizinhos ou seguranças.
Por outro lado...
O caso da menina Rita, que caiu do quinto andar, por flagrante fatalidade (a família estava numa festa julina, a pequena dormiu, a mãe levou-a à cama e voltou prá buscar a filha mais velha, no pátio, nesse lapso de tempo, a criança acordou e debruçou-se na janela), o delegado apressou-se em prender em flagrante os pais da criança, indiferente à sua dor, à dor da filha que permanece sem saber o que fazer, e o atropelo dos tios que não sabem nem mesmo como sepultar a vítima.
O caso dos dois jovens estudantes da faculdade de São Carlos que pesquisavam as causas do aquecimento global, retirando lama do fundo de uma lagoa no Mato Grosso, com as devidas autorizações do Ibama, mas, como tinham com eles, num projeto de intercâmbio, três estudantes americanos, para os quais julgavam não ser necessária a licença, pois já a tinham para aquele trabalho, e que foram presos em flagrante (os cinco) por um delegado da polícia federal e indiciados.
Um dos caso é, flagrantemente, uma fatalidade.
O outro caso é, flagrantemente, um engano, ou má interpretação da burocracia.
Num dos casos, a lei e a ordem acabam de destroçar uma família já enlutada.
Noutro caso, a lei e a ordem contribuem para inibir a pesquisa já tão debilitada em nosso país.
Mas, os primeiros casos citados são flagrantes desrespeitos à vida, à propriedade, ao direito de locomoção, das pessoas. No entanto, é tão difícil "dar o flagrante", alega a polícia quando é cobrada.
Por que não o mesmo empenho da lei, da justiça e da polícia em punir os crimes bárbaros, quanto em punir enganos, erros, esquecimentos?...
Que fizemos de nosso país?
Em que escala baseamos nossos valores?

Continuemos, inertes, observando, e vamos resvalando todos, sem exceção, mesmo os representantes dos podres poderes, para o fundo do abismo onde nos espera a submissão ao crime organizado...

segunda-feira, 22 de junho de 2009

O FASCISMO ENDÊMICO

Hoje, podem falar o que quiserem; mas, eu lembro muito bem. A grande maioria do povo brasileiro apoiava a ditadura militar. Mudaram, quando mudou a Globo. Diversas vezes tive que baixar a cabeça e me calar ante amigos ameaçadores nas discussões políticas (uma vez que, naquele tempo, pobre ingenuidade, eu era de esquerda); amigos que apoiavam abertamente o regime e ostentavam, orgulhosos, suas filiações à arena, o partido do governo; para logo depois, com os novos ventos internacionais e midiáticos, amanhecerem anti-ditadura desde pequenininhos. E por que o povo brasileiro apoiava a ditadura? Porque o fascismo é uma endemia cultural do nosso povo. A ditadura, simplesmente, dava-lhe justificativa legal (ainda que não legítima).
Provar o que digo? Veja o caso da obrigatoriedade do diploma universitário para o exercício do jornalismo. Não era exigido nem no Brasil, nem em canto nenhum do mundo civilizado. Pois bem, visando controlar melhor a imprensa, a ditadura militar o implantou em 1969. Casou tanto com a alma do brasileiro, pegou tanto, que a ditadura acabou e essa exigência espúria continuou. Agora, que num lance de lucidez o STF a aboliu, o corporativismo salazarista grita.
Mas, o mais tragicômico é o argumento que usam: vai prejudicar a educação no Brasil!
Ora, como se nossa educação estivesse indo muito bem, obrigado, e tal decisão fosse miná-la. Como se ela fosse pior antes de tal exigência. Como, por fim, se nos países onde nunca houve tal exigência a educação fosse pior que a nossa!
Se a moda do retorno à democracia e à liberdade pegar e atingir outras profissões, nossa educação irá melhorar, e muito. Teremos um salto qualitativo. Isto porque as faculdades deixarão de ser cartórios que conferem direitos de acesso a fatias de mercado reservado, e terão que concorrer com as formas ancestrais, eternas e naturais de formação para o oferecimento de um serviço qualquer necessário à sociedade.

quinta-feira, 18 de junho de 2009

LIBERDADE DE IMPRENSA

A lei brasileira de imprensa, que exigia a obrigatoriedade do diploma universitário para o exercício da profissão de jornalismo, era um entulho autoritário do tempo da ditadura militar. Não só essa lei, mas toda a prática generalizada de regulamentação de profissões, é um artifício fascista para melhor controlar a sociedade. Não entendo como muitas pessoas esclarecidas não vêem isto. Ou vêem, mas lhes interessa a inibição da concorrência.
Agora, o Supremo Tribunal Federal implantou a verdadeira liberdade de imprensa no país. Isto não seria função do legislativo? Do Congresso Nacional? Sim. Então, por que não foi implantada pelo Congresso? Por que tal entulho autoritário não foi removido no momento devido e adequado que era a elaboração da nova Constituição, em 1986/1988? Resposta: porque o sindicato dos jornalistas lotou as galerias com a ameaça de "gelar", impedir a frequencia à midia, dos congressistas que votassem contra essa esdrúxula obrigatoriedade. Podem consultar os jornais da época e encontrarão esta verdade histórica registrada. Por isso que eu digo e repito que essa constituição é ilegítima!

quarta-feira, 17 de junho de 2009

VIVA O SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL!

A Suprema Corte do País, numa decisão lúcida, aboliu essa excrescência jurídica corporativista salazarista que era a exigência de diploma universitário para que alguém expressasse seus pensamentos, coletasse e transmitisse notícias e idéias, publicasse um jornal, enfim, tudo o que é necessário para o exercício do jornalismo.
Que a liberdade estenda suas asas também para a profissão de artista, modelo, corretores,e tantas outras cujo acesso é dificultado e cuja criatividade fica tolhida pela obrigatoriedade de todos seguirem os mesmos caminhos.
Tenho certeza de que as faculdades de jornalismos vão passar por sensíveis progressos dada a necessidade que agora terão de que seus formandos concorram com os jornalistas formados na prática, na realidade. Até então, elas eram simples cartórios que conferiam a alguém o título e o direito do exercício profissional; desnecessitadas, portanto, de qualquer capacidade.

terça-feira, 16 de junho de 2009

O MEDO DA CONCORRÊNCIA

Deu no jornal.
Aquela menina chamada Priscila, que participou do último BBB, não pode ser atriz. Uma odiosa reserva de mercado da guilda correspondente a impediu:
"O elenco de "Malhação" se uniu na Globo para impedir que Priscila entrasse na novela. O motivo é o fato de ela ser ex-BBB e não atriz."
Esse corporativismo medieval é o que impede o progresso e estimula a dependência cultural nos países ibero-americanos.
Além dessa atitude anti-humanista impedir o desenvolvimento das potencialidades individuais e a livre expressão das pessoas, ainda prejudica a ordem econômica, pois os serviços são da sociedade não dos grupos.
Quem garante que oferecem melhores serviços aqueles que são formados pelos que já se formaram por outros já formatados?
O progresso só se faz quando apostamos nas novidades e na diversidade; quando aceitamos as novas contribuições que surgem por novos caminhos, reciclando as vias tradicionais que oprimem impondo sua mesmice.

domingo, 14 de junho de 2009

O CASO SUSAN BOYLE

Não é fácil para uma pessoa,além de ter alguns transtornos de personalidade decorrentes de acidente no parto, ter que administrar uma fama repentina, tardia, depois de 48 anos de uma existência em que recebia atenção limitada.
Susan Boyle, que já viveu uma vida exemplar dedicada à sua família, poderá ainda dar uma imensa contribuição à humanidade com sua voz bela e afinada.
Mas, vai precisar de ajuda. O mercado não poderá absorvê-la com a mesma voracidade com que costuma atacar jovens que não fogem ao padrão. Espero que os responsáveis por ela se contentem com uma velocidade menor: um show, seguido sempre de um tratamento de stress. Assim ela aguenta.

quarta-feira, 10 de junho de 2009

DANÇANDO À SOMBRA DO VULCÃO II

A economia vai bem. A qualidade de vida vai mal.
A crise financeira internacional demora prá vencer nossas amuradas e penetrar em nosso território devido ao vigor de nosso mercado interno, que tem compensado as quedas nas exportações.
E sabem por que vai bem nosso mercado interno? Porque o cidadão honesto, trabalhador, que paga escorchantes impostos para sustentar poderes inúteis, adquire com sacrifício um determinado bem, digamos um televisor; o excluído (se assim o é por razões sociais ou próprias, não sei; só sei que são, excluídos e incluídos, feitos da mesma cepa, e no entanto...) invade o reduto sagrado do seu lar e surrupia o televisor; ele, pacientemente, compra outro; vem outro excluído e grau! leva o outro televisor; ele, pacientemente, compra um teceiro. Pronto; o governo pode festejar as estatísticas que lhe garantem que no mercado se vendeu três televisores no período!
Isto não é qualidade de vida, nem para o incluído nem para o excluído.

domingo, 7 de junho de 2009

DANÇANDO À SOMBRA DO VULCÃO

Não vai demorar muito e veremos as estatísticas oficiais demonstrarem que a criminalidade está em baixa. E essas estatísticas não estarão mentindo, uma vez que elas se baseiam nas queixas apresentadas, nas ocorrências registradas, enfim, nos famigerados BO's. Acontece que a criminalidade está crescendo de tal maneira, as ocorrências de furtos e roubos tornaram-se tão banais, que poucas pessoas animam-se a registrar a ocorrência, a darem queixa. E depois, darem queixa prá quê? Quando há seguros envolvidos, ainda a queixa é dada apenas para cumprir um quesito burocrático. Se não há seguro, o cidadão honesto, contribuinte, curte uma depreçãozinha, e assimila a perda do bem, adquirido com suados esforços e a despeito da enorme sangria que o Estado fez nos frutos do seu trabalho para sustentar os inúteis e podres poderes da nação. Queixa prá quê, se a polícia aparece no local do roubo mais de hora depois, armada com indefectível pranchetinha para registro da ocorrência, e lamentando que nada podem fazer.
Gente, as escolas, as ruas, a ordem, a traquilidade, os valores que construíram nossa sociedade, estão derretendo, e logo, logo, os dançarinos da Ilha Fiscal, que vivem outra realidade devido aos astronômicos salários que recebem, ficarão com a única alternativa de serem pagos pelo crime organizado!

quarta-feira, 20 de maio de 2009

A DISCRIMINAÇÃO DO CICLISTA

Existem coisas proibidas por lei; existem coisas proibidas na prática.
A bicicleta é algo terminantemente proibido pela população e pelas autoridades.
(Separo "população" e "autoridades" porque nossa democracia é uma falácia).
E ninguém se dá conta de que a bicicleta, talvez o objeto mais útil e salvador de todo o ecossistema, é proibida (e, como tal, reprimida).
Os motoristas (de ônibus, caminhões e carros) a vêem como uma intrusa nas pistas; o que os leva a negligenciarem medidas e práticas de proteção. Se um ciclista é atropelado, todos anestesiam suas consciências pensando num "também, por que estava na pista dos veículos motorizados".
Os pedestres a vêem como uma invasora nas calçadas, a lhes ameaçar o andar livre e distraído.
E o poder público (muito mais "poder" que "público") não se preocupa em construir espaços específicos para elas. Quando o fazem, colocam lama asfáltica numa calçada e a apelidam de "ciclovia"; irritando mais ainda o pedestre que vê seu espaço invadido com ares de oficialidade.
E assim, prosseguimos todos, supervalorizando os monstrinhos fumacentos que ameaçam o ambiente inviabilizando a vida...

quarta-feira, 13 de maio de 2009

O CASO DO DEPUTADO

Faz pensar, esse caso.
Pelo que dizem os jornais, um deputado estadual de 26 anos, com a carteira de motorista suspensa por acumular 130 pontos, 30 infrações, sendo 23 por excesso de velocidade, sai completamente bêbado de um restaurante, dirige a 190 quilômetros por hora, bate noutro carro e mata dois jovens estudantes.
Por que o povo o elegeu?
Tão jovem, terá tido expressiva participação, seja na política estudantil, seja em algum movimento de massas, para merecer os votos que recebeu? Não há notícia disto. E, pela maneira destrambelhada que levava a vida vê-se que não foi por dotes pessoais que o elegeram. Sem dúvida nenhuma, os que o sufragaram obedeceram ao mando de seu pai, um poderoso cacique político regional.
Ele foi eleito, em pleno século XXI, pelo voto de cabresto!
É isto que faz pensar.
Várias vezes, inclusive neste espaço, critiquei o processo que gerou nossa constituição: um congresso constituinte, ao invés de uma assembléia específica para o mister. Disse que isto cerceou (melhor seria dizer "cercou") o debate popular. E defendo a convocação de uma assembléia constituinte exclusiva, com temporária inelegibilidade dos membros após a aprovação da constituição em referendo popular. Defendo uma democracia verdadeira, onde seriam eleitos diretamente todas as autoridades que nos governam, em todos os escalões, de todos os poderes.
Mas, um caso desses me faz pensar.
Saberia, nossa população, votar e eleger corretamente seus melhores representantes e governantes?
Quantos são os casos de filhos e netos de caciques políticos eleitos apenas pelo comando dos pais ou avós? Quantos são os eleitos pelo poder econômico de distribuir empregos, tijolos, cestas básicas e outros agrados?
Se não temos maturidade, como povo, para uma democracia direta, é justo então que permaneçamos com esta democracia tutelada, com uma constituição feita por grupos e elites, permeada de cláusulas pétreas que protegem interesses de corporações -- econômicas, jurídicas ou burocráticas -- e guildas eufemísticamente oficializadas como "conselhos de classe" ou "autarquias"? Sim, porque os bêbados, fanfarrões e corruptos que elegemos tornam-se, por sua própria natureza, reféns dessas instituições que aprovam os projetos que desejam.
Qual seria a alternativa para um povo tão imaturo e incapaz de gerir a si mesmo? Uma ditadura? Talvez sim, mas aí teríamos que ter a sorte de que nos subisse a cavaleiro um bom tirano, por que senão, seria pior. Se é que dá prá ficar pior do que está: uma nação onde o cidadão é obrigado a sustentar no poder uma elite (a vontade inicial era dizer "uma corja") que não lhe garante nenhum direito; nem à propriedade, nem ao livre trânsito, nem mesmo à vida e integridade física dele e sua família.

sábado, 9 de maio de 2009

SE OS JORNAIS DISSESSEM A VERDADE

Haveria uma manchete assim:
PM'S SOCORREM ASSALTADO, UMA HORA DEPOIS, EMPUNHANDO BRAVAMENTE UMA PRANCHETA!

Ou outra assim:
REQUIAO REARMA PM: AUTORIZA LICITAÇÃO DE PRANCHETAS!

Mas, um bom jornal não faz manchetes tão longas. Se bem que, é apenas isto que anda fazendo nossa PM: chega nos locais assaltados sempre muito tempo depois; e sempre empunhando a pranchetinha prá registrar a ocorrência...

quinta-feira, 23 de abril de 2009

A JUSTIÇA DESTRUÍDA

Já tinha notado. Mas, agora, fiquei sabendo quem a destrói. A boa filosofia mineira diz que quando você aponta o dedo indicador acusando alguém, você está apontando outros três dedos para você mesmo. Confira a posição da mão no ato. O ministro Joaquim apontou o dedo para o ministro Gilmar, acusando-o de destruir a justiça brasileira. Até concordo. Mas, concordo mais ainda com os três dedos que ele apontou para si mesmo, confessando que destrói três vezes mais que o outro!
Por isso repito: eleições diretas já... para juízes e promotores! Assim, cada cidadezinha escolheria os seus, como no faroeste americano. (Já que, atualmente, o faroeste é aqui; e, sem mocinho, só com bandidos).
Tenho certeza que o padeiro e o verdureiro de minha rua se sairiam melhor que eles.
Enquanto isto, nossas autoridades dançam à beira do vulcão os últimos "bailes da ilha fiscal".

quarta-feira, 22 de abril de 2009

A ORIGEM

Outro dia eu vi na tv o físico falando sobre a origem do universo. Toda a matéria, todas as galáxias, tudo o que conhecemos, estava condensado num núcleo, como se fosse um átomo, do tamanho da cabeça de um alfinete, e era quente. Como se sabe que tudo que é quente tende a se esfriar, ou tudo o que é tensionado, oprimido, tende a explodir, o átomo original explodiu, expandiu-se e deu origem ao universo. Mas, penso eu, essas tendências poderiam ser diferentes. Podiam ser de tal forma que uma compressão não produzisse nada, ou que a ausência do frio esquentasse -- e, não a recíproca --, ou outras tendências igualmente diferentes.
As tendências conhecidas e reconhecidas, as leis que fazem com que o que esquenta tem que esfriar, ou o que se comprime tem que explodir, e etc., não estão no universo? Como, se, segundo o físico, são anteriores a ele? Teríamos, talvez que falar num pré-universo, ou num meta-universo, ou seja, em um "local" ou "tempo" onde estão essas tendências e essas leis que produziram o big-bang? E por que não chamarmos esse meta-universo de Deus?

A CIDADE

Sonho com a cidade da minha infância,
com muros baixos e portões abertos,
fechados apenas no mês de cachorro louco.
Agora, os cachorros estão sempre loucos
e saltam aterradores nos quintais,
obrigando todos a terem grades e
muros altos...

O SILÊNCIO E A VERDADE

Jesus calou-se ante Pilatos,
porque a verdade é a origem,
e a origem é o silêncio,
até que deus disse algo,
e algo se fez...

domingo, 12 de abril de 2009

AS BOAS AÇÕES E AS NECESSIDADES

Todo mundo conhece a piadinha do escoteiro que chegou atrasado no acampamento porque estava realizando sua boa ação do dia -- ajudar uma velhinha a atravessar a rua --. E a pergunta do Chefe sobre o tempo que isto demorou; e a resposta de que a velhinha não queria atravessar a rua.
Lembraram... e riram nostalgicamente...
Mas, o que muita gente não sabe é que num outro dia, quando a velhinha realmente queria e precisava atravessar a rua, o escoteiro não se dispôs a ajudá-la, e relacionou várias desculpas -- não podia; já tinha feito o possível; estava de consciência tranquila, quites com sua boa ação, etc --.
Quanto se pode aprender com uma simples piada...
Principalmente se a cotejarmos com a parábola do bom samaritano, que aquele sábio da Galiléia contou, e observarmos a diferença entre os que se propõem salvar o mundo e a humanidade e os que simplesmente se debruçam sobre as necessidades do próximo.
Porque muitos de nós somos assim: prontos para fazermos o "bem" no momento que quisermos e da forma que nos apraz. Indiferentes às reais necessidades do próximo. Esse procedimento às vezes transforma o nosso "bem" em "mal"; pois ele se materializa numa "boa ação" inconveniente, algo que o "beneficiado" não precisa, não deseja, e nem sempre está pronto para recebê-lo. E o pior, a sensação egoísta do "dever cumprido" nos cega e nos leva a racionalizações que justifiquem nossa omissão nos momentos de necessidades reais e imediatas.

quarta-feira, 11 de março de 2009

O CÃO PORTUGUÊS DE OBAMA

Li, no Caderno do Saramago, que o cão selecionado para as filhas do Obama, na Casa Branca, é um cão d'água português. Essa informação me levou a um texto lido na infância, não me lembro o autor -- e quem me lê, na certa estará reconhecendo o texto e se lembrando, "ah, é de fulano"; ou, pior prá mim: "ah, foi na Seleções" --. Mas, a história é a seguinte. O sujeito mudou-se com o cão para uma pequena cidade -- do interior, já que o interior, não o litoral, alberga a maioria das pequenas cidades --. Passava os dias lidando com seus textos, enquanto o cão passeava livremente pelas ruas e casas ainda sem cercas. Um dia o sujeito também saiu a passear e, passando em frente ao açougue, lembrou-se que precisava comprar carne. Feito o pedido, a pesagem e o embrulho, levou a mão ao bolso e descobriu-se sem a carteira. O açougueiro já olhava desconfiado o forasteiro, quando adentrou o estabelecimento o cão, voltando de um de seus passeios e começou a fazer a festa que os cães sempre fazem aos seus donos. O açougueiro imediatamente baixou a guarda, sorriu amistoso, e perguntou o que já descobrira por si: "É seu cão?" "Sim", respondeu o forasteiro. "É um bom cão, gosto muito dele; a carne o senhor leva e paga amanhã, quando vier mais prevenido". O cão foi seu avalista. Já me aconteceu coisa semelhante. Andando pelo bairro, encontrei meu cãozinho confraternizando com um vizinho. Era um tempo em que eu trabalhava o dia todo, à noite estudava ou participava de algum movimento de amor ao próximo, por isso não tinha tempo de conhecer meus próximos mais próximos: os vizinhos. O Bob acorreu feliz ao meu chamado, e o vizinho -- como todo mundo hoje em dia prevenido e desconfiado com estranhos -- abriu-se num sorriso amigável: "É seu, o cãozinho? Muito simpático; gostamos muito dele". E entregou-se descontraído à nova amizade, transferindo ao dono as qualidades que já identificara no animal.
Daí, lamentei não ter sido um cachorro brasileiro o escolhido pela imperial família. Não poderíamos ter melhor representação. Mas, qual é mesmo o cão brasileiro? É o fila, não? É, não é um ser muito diplomático...

domingo, 8 de março de 2009

EMPREGO PARA OS MEUS

Deu no jornal:

"O arcebispo de Olinda e Recife, dom José Cardoso Sobrinho, rebateu hoje as críticas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva sobre sua decisão de excomungar os envolvidos --a mãe e os médicos que realizaram o procedimento-- no aborto da menina de nove anos.
O arcebispo disse que Lula deveria procurar assessoria teológica para falar com mais propriedade sobre o tema."

Viram só; que cara inteligente? Além de assustar o povo com excomunhões, pretende arranjar uns empreguinhos para o seus. Quer que o presidente acrescente à sua equipe alguns ASSESSORES TEOLÓGICOS. Como o Lula tem sido imitado aqui e alhures, a moda pode pegar, e cada governador, cada prefeito, também poderá ter o seu.
Qual seria o ordenado de um ASSESSOR TEOLÓGICO? Certamente, o Assessor Teológico Federal (do Lula), ganharia mais que o Assessor Teológico Estadual (do Requião). E o Richa, teria um Assessor Teologico Municipal?

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

ONDE JOGAR O DINHEIRO

Os Estados sempre injetaram dinheiro em suas economias. É por isso que os grupos se mobilizam gastando horrores para elegerem seus preferidos: de olho nas construções, nos financiamentos, nos subsídios. Durante milhares de anos, jogaram esse dinheiro "por cima"; ou seja, entregavam nas mãos dos ricos empreendeddores, certos que estavam injetando dinheiro na sociedade. Só que tais empreendedores, primeiro separavam um pouco prá continha no paraiso fiscal; depois, compravam mais uma grande propriedade num paraiso de fato; depois, propriedades em solo pátrio, com direito a troca da frota de veículos de toda a família. Assim, bem menos do que saiu dos cofres públicos chegava na obra; e, muito menos ainda nas mãos dos trabalhadores. Neste século, o Lula inovou: passou a jogar o dinheiro "por baixo": criou inúmeras bolsas a fim de injetar dinheiro diretamente na mão do povinho. A grita era geral: "sustentando vagabundos; dando dinheiro de graça a quem não trabalha". Mas, entre os vagabundos de cima e os de baixo, ele preferiu os de baixo. Um vagabundo que recebe R$50 ou R$100 do governo, não vai colocar numa conta na Suiça; nem comprar um apartamento em Miami. Vai é correr até a venda da esquina comprar papel higiênico prá aposentar o sabugo; o dono da venda junta o dinheiro de todo mundo e manda reformar o prédio; o fabricante de material de construção junta o de todos os vendeiros e... a roda gira... Daí, quando todo mundo do mundo pára de comprar e a crise econômica chega, nós temos um mercado interno razoavelmente forte prá compensar, e podemos nos dar ao luxo de sofrer em menor escala a crise.
Agora, o nordestino que chegou a São Paulo num pau-de-arara fez escola. Obama, num lance de coragem, assusta economistas e desdenha o deficit americano fazendo o quê? Jogando dinheiro por baixo. Parabéns, Obama, por aprender com os humildes!

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

A GENI DO GLOBO

Eu disse que o brasileiro tanto apanha e é maltratado lá fora que podemos chamá-lo de "Geni" do mundo atual. Vejam a letra abaixo da música do Chico Buarque, "Geni e o Zepelim"; substituam "Geni" por "Brasil", "Zepelim" por "Crise Econômica", "cidade" por "mundo", e vejam se não tenho razão:

De tudo que é nego torto
Do mangue e do cais do porto
Ela já foi namorada
O seu corpo é dos errantes
Dos cegos, dos retirantes
É de quem não tem mais nada
Dá-se assim desde menina
Na garagem, na cantina
Atrás do tanque, no mato
É a rainha dos detentos
Das loucas, dos lazarentos
Dos moleques do internato
E também vai amiúde
Co'os velhinhos sem saúde
E as viúvas sem porvir
Ela é um poço de bondade
E é por isso que a cidade
Vive sempre a repetir
Joga pedra na Geni
Joga pedra na Geni
Ela é feita pra apanhar
Ela é boa de cuspir
Ela dá pra qualquer um
Maldita Geni

Um dia surgiu, brilhante
Entre as nuvens, flutuante
Um enorme zepelim
Pairou sobre os edifícios
Abriu dois mil orifícios
Com dois mil canhões assim
A cidade apavorada
Se quedou paralisada
Pronta pra virar geléia
Mas do zepelim gigante
Desceu o seu comandante
Dizendo - Mudei de idéia
- Quando vi nesta cidade
- Tanto horror e iniqüidade
- Resolvi tudo explodir
- Mas posso evitar o drama
- Se aquela formosa dama
- Esta noite me servir

Essa dama era Geni
Mas não pode ser Geni
Ela é feita pra apanhar
Ela é boa de cuspir
Ela dá pra qualquer um
Maldita Geni

Mas de fato, logo ela
Tão coitada e tão singela
Cativara o forasteiro
O guerreiro tão vistoso
Tão temido e poderoso
Era dela, prisioneiro
Acontece que a donzela
- e isso era segredo dela
Também tinha seus caprichos
E a deitar com homem tão nobre
Tão cheirando a brilho e a cobre
Preferia amar com os bichos
Ao ouvir tal heresia
A cidade em romaria
Foi beijar a sua mão
O prefeito de joelhos
O bispo de olhos vermelhos
E o banqueiro com um milhão
Vai com ele, vai Geni
Vai com ele, vai Geni
Você pode nos salvar
Você vai nos redimir
Você dá pra qualquer um
Bendita Geni

Foram tantos os pedidos
Tão sinceros, tão sentidos
Que ela dominou seu asco
Nessa noite lancinante
Entregou-se a tal amante
Como quem dá-se ao carrasco
Ele fez tanta sujeira
Lambuzou-se a noite inteira
Até ficar saciado
E nem bem amanhecia
Partiu numa nuvem fria
Com seu zepelim prateado
Num suspiro aliviado
Ela se virou de lado
E tentou até sorrir
Mas logo raiou o dia
E a cidade em cantoria
Não deixou ela dormir
Joga pedra na Geni
Joga bosta na Geni
Ela é feita pra apanhar
Ela é boa de cuspir
Ela dá pra qualquer um
Maldita Geni

ALÉM DO VEXAME

Que vá que a menina tenha mentido. Seja por influência do "lupus", seja por pressões desconhecidas. A mentira foi grave, na medida em que teve consequencias maiores do que ela esperava. Mas, continuo achando de fundo fascista e xenófoba a atuação da polícia, pressionando-a já no primeiro momento do atendimento, e chamando-a de "golpista" apenas dois dias depois. Nunca fariam isto com um cidadão europeu ou americano. E, não retiro nada do que eu disse sobre o tratamento dispensado a brasileiros no aeroporto de Madrid.

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

EUROPA DE VOLTA À BARBÁRIE

Essa notícia da advogada brasileira (bem sucedida, diga-se de passagem) retalhada por nazistas na Suíça (e o descaso da polícia no caso), mais o que se tem dito do tratamento fascista dado aos brasileiros nos aeroportos europeus, me levaram a concluir que não é o caso de sermos, os brasileiros, a "geni" do mundo; o caso é que a velha Europa está voltando à barbárie, mesmo. Fatos como esses só se justificam numa Europa que retoma sua vocação nazi-fascista, de triste memória; e, o pior: desta vez incluindo a Inglaterra e a França (que no episódio Nazismo I se mantiveram do lado da civilização), e o beneplácito dos USA!

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

ITALIANO NÃO DÁ NÓ SEM PONTA...

O Ignazio La Russa queria cancelar o amistoso da seleção italiana contra a seleção brasileira porque sabia que iria perder. Daí, deu a desculpa de que era por causa do Cesare Battisti...

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

FORMAÇÃO X REPRESSÃO

Nosso país contrata dois jovens formados pela universidade: um, na área da educação (geralmente com pós-formação); outro, na área do direito. Ao primeiro, paga R$415,00 por mês para formar bons caráteres. Ao segundo, paga R$22.500,00 por mês para punir maus caráteres. Podemos sonhar com um bom futuro enquanto estivermos investindo na repressão 50 vezes mais (!) do que na formação?

Hoje mesmo a imprensa noticia que o Congresso, pressionado pelo lobby correspondente, vai votar um projeto equiparando o salário dos delegados ao dos promotores, aumentando consideravelmente a despesa nacional. Deveria ser ao contrário: equiparar o salário dos promotores ao dos delegados. Mais: deveriam equiparar o salário dessas duas categorias ao dos professores!

Só há um projeto, ou decreto, ou seja que diabo for, que poderá salvar o nosso país, retirando-o dos indecentes níveis de criminalidade e candidatando-o à civilização; e, esse decreto seria:

Todos os servidores públicos do país, de qualquer categoria, em qualquer nível, em qualquer dos poderes, seja ou não alcunhado de "autoridade", terão como teto salarial o salário do professor primário!

sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

SERES FANTÁSTICOS

É, tenho muito o que observar: esposa, filhas, nora, neta, amigas, conhecidas, anônimas, celebridades... Se Deus acertou na medida, foi quando fez a mulher.

sexta-feira, 28 de novembro de 2008

O CONTRATO

A escravidão foi decorrente de um contrato espúrio entre Deus e Mamom.
Disse Mamom: - "Vou à África, comprar gente; mas, preciso só dos corpos, dou-te as almas.
Respondeu Deus: - "Combinado; dá-me as almas e eu te justifico os corpos".

Se não foram Deus e Mamom, foram seus representantes na terra. E, afinal, somos responsáveis pelos nossos representantes; por destituí-los quando nos contrariam. A não ser que não o possamos. Poderá Deus tudo? Bem, dizem que "a voz do povo é a voz de Deus"; nesse caso, um e outro se confundem. Assim, talvez não pudesse Deus naquele tampo, tal como não pode o povo hoje, controlar seus procuradores. Mas, aí já entra em teologia e...

terça-feira, 25 de novembro de 2008

MUDANÇA DE CARGO

A Polícia Federal afastou o Delegado Protógenes do Departamento de Inteligência.
Na certa, foi colocado no Departamento de Burrice!

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

ENFIM, DESCOBRE-SE A FONTE DA JUVENTUDE!

Lembram daquela piadinha de que entrevistavam a mulher de 120 anos e perguntaram como ela fez prá chegar nessa idade? -"Acho que foi porque parei de fumar", ela disse. -"Quando?", perguntou o reporter. -"Acho que foi quando fiz 110!" Pois é, era verdade. Deu no site da Folha de hoje: um povoado no Equador com a maior proporção de centenários. Vale a pena dividir a informação:

Don José Medina parou de beber aos 106. De vez em quando, ainda toma "um puro" (aguardente), mas não mais de um por dia (!). Fuma, mas muito menos do que quando "era jovem" --ali pelos 70 anos. Aos 112, não conseguiu largar o chamico, cigarro feito com uma erva alucinógena.
Medina vive em Vilcabamba, um povoado com cerca de 4.000 habitantes no interior do Equador (650 km ao sul da capital, Quito). As condições sanitárias do local são um desastre --na maioria das casas, não há esgoto nem água encanada. Seus habitantes fumam, bebem álcool, comem muito sal, tomam muito café, usam drogas. E são um dos povos com maior proporção de pessoas centenárias no mundo --cerca de dez vezes mais do que a média. Centenários e saudáveis.
Por ali, é comum encontrar idosos de 110, 120 anos. Lêem sem óculos, conservam os dentes originais. A maioria ainda trabalha e tem vida sexual ativa. Os cabelos ficam brancos quando chega a idade, mas depois voltam à cor natural, sem explicação. E, ao contrário da maioria dos lugares do mundo, os homens vivem mais do que as mulheres.
"Alguma coisa estranha acontece em Vilcabamba", diz o médico e escritor argentino Ricardo Coler, um entre tantos profissionais que foram à cidade em busca de uma explicação. Sobre o mistério, ele escreveu "Eterna Juventud - Vivir 120 Años" (editora Planeta, sem previsão de lançamento no Brasil), em que relata histórias como a de José Medina.
São várias as teorias que tentam explicar a longevidade saudável dos habitantes de Vilcabamba. Cientistas americanos afirmaram que era a composição da água que bebem. Franceses atribuíram o fato ao clima da região. Outros dizem que é o ar, a alimentação saudável à base de milho, batata, vegetais e pouca carne ou a vida tranqüila. Nenhuma explicação foi comprovada até hoje.
"Estudei a água de Vilcabamba, e sua composição se parece bastante com a água que se bebe em Buenos Aires", diz Coler, que também exclui a possibilidade de a longevidade ser genética. "Até os cachorros vivem mais, cerca de 25 anos. Ninguém descobriu a causa, senão já estaria rico."
Há também algumas teorias pseudocientíficas, que vinculam os efeitos benéficos de Vilcabamba à eletricidade no ar ou à possível presença de óvnis e extraterrestres.
Seja qual for a explicação, a fama de Vilcabamba atrai todo tipo de gente...
...chegam os multimilionários, os crentes, os políticos, os messiânicos. Vêm por esses 40 anos como antes se ia por ouro ao velho oeste ou por petróleo ao Oriente Médio
.

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

HOSANAS A OBAMA!

Confesso que no começo eu tinha um pé atrás.
Preferia a Hilary, e desconfiava que a imprensa, podendo ser republicana, insensava o Obama para desbancá-la e, assim, derrotar mais facilmente um desconhecido na segunda etapa. Alguns, mais apressadinhos, chegaram a escrever que o Obama era o democrata preferido dos republicanos. Enganei-me; o cara tem valores próprios de montes. Mas, ainda preferia a Hilary; acho que era a vez de uma mulher.
Tanto festejam a vitória do Obama por ser negro. Eu não vejo diferença entre negro e branco. Qualquer item usado para definir um negro pode eventualmente aparecer num branco; e vice-versa. O que faz restar de diferença apenas a cor; só que, culturalmente, eu sou daltônico. Gosto tanto da tarantela quanto do samba; estudo com o mesmo prazer cerimonioso a mais judaica, ou oriental, das religiões, tanto quanto as de matriz africana. Conheço, pela observação isenta da história, quadros de sofrimentos de muitas diversas etnias; ora uma, ora outra. Assim como, identifico privilégios distribuídos para todas, em momentos diferentes. Portanto, nesse sentido as diferenças apresentadas não passam de bandeiras políticas usadas de acordo com as conveniências.
Já, com as diferenças entre homens e mulheres, não acontece o mesmo. São tantas - anatômicas, hormonais, humorais -, que parecemos duas raças distintas. Chegam a dizer que uns vieram de Marte e outras de Vênus, transportados, na certa, na cauda de um cometa cupidamente faceiro. O que, sem duvida, lhes dá pontos de vista diferentes. Daí que, pensava eu, era a hora dessa metade da humanidade ser mais representada nos governos. Em muitos lugares já o são. Citemos a Inglaterra, a Alemanha, a Argentina, e outros lugares. Mas, nas duas nações mais importantes do mundo - a maior potência e a maior impotência -, isto ainda não aconteceu - a não ser por efêmeras regências de uma princesa num passado remoto, nas terras da vera cruz. Era a hora da Hilary.
Apesar de que, dizem, seria reeleição. Pois não contavam, durante o governo Clinton, aquela piada de que os dois deram uma fugidinha e tiveram que parar num posto prá abastecer? O frentista cumprimentou tão efusivamente a Hilary que o Bill, enciumado, perguntou quem era o cara. "Um antigo namorado, do Hight School", ela disse. E ele: "Viu? Se você tivesse casado com ele, seria a esposa de um frentista; assim, você é a primeira-dama dos USA". Ao que ela respondeu: "Não. Se eu tivesse casado com ele, ele seria o presidente. Você seria um frentista!"
ATAQUE DO BEM-TE-VI

Viram na tv aquele bem-te-vi que ataca os transeuntes numa rua de Vitória? Só ataca os homens. Se fosse na Itália, na certa já estariam usando prá teste de virilidade!

domingo, 2 de novembro de 2008

(Quando o saudoso século vinte morria levando ao seu túmulo cem anos de ilusões e os homens pensavam ter chegado ao fim da história inconscientes de que a natureza estava com a palavra, eu escrevi isso aí, que aqui deixo prá que não seja esquecido sem ter sido conhecido...)

POESIA ARMADA
I
Caíram
as últimas
trincheiras.
Agora
a luta
é só
na poesia.
II
Poetar
entre colunas
de ferro, fumacentas
grades de uma prisão
voluntária.
Poesia
que viaja
no cheiro mórbido
das tochas
transformando ramos verdes
em braços magros
filamentos tristes.
Poetar
ao barulho das máquinas
em formulários frios
que medem produção e custo.
É possível fazer poesia?
Só mesmo poesia-luta
poesia-violência, poesia-raça
poesia engajada
poesia brava, poesia feia
poesia-mudança, talvez.
III
A luta
é pela liberdade
Todas as liberdades
Liberdade até
de Deus-peia
Prá se atar
A Deus-liberdade.

sábado, 4 de outubro de 2008

O QUE HOUVE COM O BRASIL?

Brasil.... Brasil... mas como é grande o meu Brasil!... Lembro da minha infância ouvindo a dupla sertaneja Tonico e Tinoco cantando isto. Lembro do nosso Brasil descuidado, por desnecessidade de cuidados; dos portões abertos; as cercas caídas, pois não precisavam ser levantadas. As crianças indo a pé e sozinhas prá escola. A fuga para as periferias, que naquele tempo era apenas um composto de paisagens bucólicas de casas simples e árvores frondosas, em busca da cachoeira. Havia molecagens (como não as houvera de haver, se éramos moleques); mas, eram inocentes; e acompanhadas de um temeroso respeito pelos adultos e seus flagrantes. A maior das molecagens, admito, perigosa, eram as bombas de retardo. Colocávamos um cigarro aceso na ponta de uma bombinha-de-são-joão, de regular tamanho, e corríamos para bem longe, até para nossas casas, outras vezes a sala de aula. Cinco a dez minutos depois ouvíamos o estampido na varanda de alguém, na borda da calçada, perto da diretoria, seguido das imprecações.
O que não imaginávamos, absortos em sonhar com a vida que parecia sorrir à nossa frente, é que as pessoas que lutavam e açambarcavam o poder em nosso Brasil, armavam uma grande bomba de retardo sobre nossas vidas e nossas cabeças. Era o desvio de verbas da educação para outros fins, criando uma massa de ignorantes dependentes de "direitos" e concessões; era o financiamento preferencial de grandes propriedades, expulsando as famílias do campo para a periferia das cidades. Tudo escamoteado por obras faraônicas, campanhas pirotécnicas de vacinação, edição de "estatutos" falaciosos, porque geralmente virtuais.
Lembro da minha juventude, quando já o processo de internacionalização do nosso capital (se é que alguma vez o tivemos) provocava intercâmbio de técnicos e executivos, para a montagem de industrias e equipamentos. Ao lado das boas risadas com os legisladores que propunham a cobrança do lateral com o pé, no futebol, ou a anexação da guiana francesa, criando problemas prá diplomacia, lembro de um fato alentador. Quando nossos técnicos eram enviados à europa (é bom lembrar que, naquele tempo, a europa terminava nos pirineus; os europeus ainda não haviam anexado a espanha e portugal, em busca de balneários; os ibéricos migravam para o Brasil, para enriquecer ou simplesmente alimentar suas famílias, e nem imaginavam que um dia iriam se dar ao luxo de barrar brasileiros em aeroportos), ficavam extasiados com a ordem e a limpeza daqueles redutos; escreviam ou contavam por telefone, entusiasmados, as benesses da civilização. Mas, não viam a hora de voltar para o Brasil. Para casa. Irritavam-se com qualquer prorrogação de sua missão. Já os estrangeiros que vinham para o Brasil, dentro dos mesmos projetos, não queriam mais ir embora. Causavam problemas para suas empresas com a insistência em cá permanecer, se estabelecer, residir, animados, talvez, com nossa liberdade, descontração, inocência, ou falta de ordem.
Nós, os pobres (que não éramos apenas negros, como hoje alguns teimam em dizer, mas, também branquinhos, descendentes de italianos, polacos, árabes ou alemães), nem pensávamos em emigrar, tendo à disposição um verdadeiro continente onde se falava a mesma língua. Não emigrávamos: apenas migrávamos internamente.
Tudo isto me vem à cabeça quando vejo na televisão um documentário francês sobre os garimpos ilegais na guiana francesa, e a abordagem de uma família de brasileiros clandestinos no meio da mata. Eu, que sentia um incômodo frio na espinha quando, antigamente, ouvia o poeta dizer que o Brasil poderia se tornar um imenso portugal, tive que ouvir o oficial da gendarmeria dizer que ia expulsar esses ilegais, porque não queria ver a guiana francesa se transformar num Brasil!