domingo, 12 de dezembro de 2010

O CHOQUE DE ORDEM

A tomada dos antros de traficantes pela polícia aliada com as forças armadas agiu como uma injeção de auto-estima na alma dos brasileiros. Foi um "11 de setembro" ao contrário. Da depressão em que nos arrastávamos causada pela sensação de impotência ante a crescente criminalidade, passamos a um "nós podemos!" que descortina um futuro viável ao nosso país. A aceitação popular foi de uma unanimidade equivalente à copa do mundo.
Numa roda de amigos, onde se joga conversa fora, ensaiei uma infeliz crítica insinuando um fracasso militar da operação porque deixara vazar muitos bandidos e armas: as reações foram como se eu tivesse ousado criticar uma seleção que trouxesse vitoriosa um caneco. Reciclei imediatamente o papo, aliviando o prejuízo, mas, gostei. Ficou-me claro que o sentimento de guapecas que costumava nos unir, foi substituído por um sentimento nacional de união em torno de desejos e poderes de construírmos um país onde impere a lei e onde os direitos de todos são sustentados pelos deveres de cada um.

INVESTIGADORES

O que faz com que a polícia e o ministério público invistam tempo, dinheiro e tutano em teses acusatórias que não resistem nem à logica, nem aos fatos? Principalmente nos esforços para entronizar um mandante do crime próximo às vítimas: empacam como burros velhos, juntando os cacos da tese continuamente espatifada. Que desejos mórbidos de que famílias se trucidem os movem? Na literatura policial inglesa o primeiro suspeito era o mordomo. Na realidade tupiniquim é o marido, a esposa, o filho ou a filha. Que obviedade muar!
Mas eu sei o que é. Participei muito de comissões de sindicância, sei como as pessoas ficam. É o equivalente a uma dor de corno; uma fobia de serem enganados, de serem feitos de bobos pelo suspeito; medo de que ele se ria da sua inteligência. Daí, tendem a ver evidências em ilusões, e alimentam uma certeza paranóica sobre a perpetração do delito. Principalmente se os seus cérebros minados por conflitos edipianos ou amenos distúrbios neurológicos estranham certas respostas do infeliz interrogado.

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

PARABÉNS, MINISTÉRIO PÚBLICO!

O Ministério Público Federal deu uma bola dentro ao exigir que a Band e o Datena se retratem da lambança que fizeram ao provocar o ódio religioso contra os ateus. Recentemente, esse apresentador atribuiu a crescente criminalidade ao ateísmo. Ou seja, retrocedeu cinco séculos em inteligência, sociabilidade e política.
Se o apresentador usasse de um pouco de racionalidade, teria feito uma pequena amostragem nos presídios, entre os condenados por diversos crimes, e verificado o percentual de ateus. Seguramente é inferior ao de devotos.
A liberdade de pensamento, mantenedora da liberdade religiosa, é uma conquista que custou penas, vidas e sofrimentos. É um bem muito valioso para que um apresentador de televisão venha atacá-lo impunemente.
Tenho criticado, às vezes, o MP pelo seu corporativismo, pela sua exagerada independência da sociedade e pelos altos salários dos seus integrantes. Também pela sua exagerada ingerência em todos os passos dos cidadãos.
Mas, é claro que certa independência é necessária para que os promotores não se intimidem; e a ingerência deles em todas as áreas mantém a aplicação das leis. Os legisladores que façam leis melhores se essa ação incomoda. E, depois, eles não agem sozinhos; suas ingerências vão a julgamento do judiciário, para só depois efetivamente influenciarem nossas vidas.
No presente caso, a liberdade, independência e prontidão dos procuradores, nos salvará do retrocesso que poderia ocorrer pelos erros de quem tem um trombone nas mãos, como o apresentador de televisão.
Não sou ateu; mas, morro (nem tanto, claro) defendendo o direito de quem quiser sê-lo.

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

O ETERNO RETORNO?

Quando vocês lêem aqui que no futuro teremos eleições diretas para juízes e promotores, que os impostos arrecadados ficarão em sua maior parte no local de arrecadação, seguindo para estados e união apenas a contribuição da comunidade, vocês acham absurdo e dão uma risadinha de pena. Não se preocupem, nem se julguem diferentes. Era exatamente assim que reagiam as pessoas de bom senso, no século XVII, quando alguém dizia que era possível um pais existir sem um rei.

domingo, 14 de novembro de 2010

O FUTURO DO BRASIL

Que tal deixar para seus filhos e netos um país que não passará de um entreposto comercial? Sim, um país inteirinho só com estabelecimentos comerciais. Compraremos e venderemos. Talvez tenhamos alguma produção, mas, sempre o será de produtos desenvolvidos pela humanidade livre, pelos quais pagaremos altíssimos direitos.
Por que? Por causa das burrices de quem faz leis, e, mais ainda, de quem fiscaliza e aplica tais leis.
Como teremos cientistas, pesquisas, criatividades e criações, se nossos jovens são reprimidos até no elementar trabalho escolar ou acadêmico de coletar e classificar insetos? Antes, nos tempo em que éramos donos de nosso país, e este era livre, qualquer professor de biologia determinava um trabalho de coleta e classificação, desde o colegial até a falculdade, quiçá no pós. Hoje, uma burocracia que só alimenta os altos salários de fiscais de órgãos ambientais e promotores, cria tantos obstáculos que se torna muito mais seguro colocar os alunos para pesquisar na internet as descobertas alheias, feitas pelos povos livres. Ou é prá justificar salários, ou essas pessoas têm cérebros tão reduzidos que concebem a possibilidade de trabalhos dessa natureza extinguirem os insetos!
Tudo é criminalizado: justificando os salários da repressão e garantindo os honorários da defesa.
Cada povo tem o futuro que merece!

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

DIRETAS JÁ!

Veja o que saiu na imprensa hoje:

"A Coordenação da Organização das Nações Unidas (ONU) no Brasil divulgou nota técnica em que defende a Teoria de Resposta ao Item (TRI) como uma metodologia que permite a elaboração de provas diferentes para o mesmo exame, que podem ser aplicadas em qualquer período do ano, para grupos diferentes, com o mesmo grau de dificuldade".
E mais:
"Na nota, a ONU diz que a TRI tem 'amplo respaldo na literatura científica internacional' e é utilizada em um 'conjunto importante de avaliações conduzidas por organismos internacionais'. A Organização cita como exemplos o Programme for International Student Assessment (Pisa), realizado pela Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE), e o Literacy Assessment and Monitoring (Lamp), iniciativa do Instituto de Estatística da Unesco".
E finaliza:
"Vale ressaltar ainda que a metodologia da TRI prioriza o uso de habilidades reflexivas e analíticas em detrimento à memorização de conteúdos, o que representa um avanço importante em relação a outros modelos de avaliação".
Mas, não adianta, nosso aiatolá de plantão é teimoso como uma mula (sem ofensas, apenas uma analogia com o temperamento desse valioso animal de carga):
"Para o procurador da República no Ceará Oscar Costa Filho, que moveu ações pedindo a suspensão e a anulação do Enem, o MEC quer transportar o princípio da TRI - de permitir provas comparáveis ao longo do tempo - para usá-lo na elaboração de um concurso público, ferindo a isonomia entre os candidatos. 'Relativizar o resultado de um vestibular é gravíssimo e atenta contra os direitos humanos', afirma".

Além de se insurgir contra a ciência e o desenvolvimento tecnológico atestados internacionalmente -- tal como o faziam os inquisidores com Galileu --, o cára se arroga uma realeza maior que o próprio rei: entende mais de direitos humanos que a ONU, organização que tem tais direitos como sua razão de ser.
Sempre me pareceu que, do jeito que está, o MP lembra bem a inquisição, metendo-se na vida de de todo mundo, com a desculpa de "fiscalizar as leis".
Mas, otários somos nós que pagamos um altíssimo salário para o rapaz.
Por isso, repito, "diretas já, prá promotor e juiz!"
Se o meu barbeiro fosse eleito promotor, não faria uma lambança dessa.

Agora, e o ministério da educação? Tá esperando o quê? O promotor recorrer e suspender de novo? Se o gabarito iria inicialmente ser divulgado na terça, não era para estar pronto? Então, por que a demora?

Parece que precisamos de "diretas já!" também para os ministérios do executivo...

VITÓRIA DA RAZÃO

Quem dera fosse sempre assim. Na questão do Enem prevaleceu o bom senso e a razão. A liminar que pretendia causar um imenso prejuízo aos cofres públicos e à vida de milhões de alunos, motivada pela ignorância do promotor em matéria de avaliação científica, foi derrubada.

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

INTERVENÇÃO DO JUDICIÁRIO

Podem constatar no Estadão de hoje (lido por mim no MSN), não sou só eu que o digo. Diversos especialistas em educação, comentando as dificuldades e soluções para o ENEM, concluem que as principais trapalhadas que travam o bom desenvolvimento do nosso país, são as exageradas intervenções do judiciário em assuntos acadêmicos e científicos. A mim, simples cidadão, subalterno por lei a todos esses poderosos senhores, parece-me (digo, parece-me, portanto não é uma afirmação), que o nosso aparato jurídico se envolve nesses assuntos para fugir de suas obrigações no combate ao que é realmente crime: drogas, homicídios, assaltos, etc., de onde, talvez, saíssem machucados.
Agora, sem querer ofender ninguém, mas, não lhes parece que o nosso judiciário -- melhor seria, talvez, dizer, os nossos "operadores do direito", para incluir aí não só juízes, como também promotores e advogados --, lembram bem os aiatolás do Irã?

terça-feira, 9 de novembro de 2010

O ESTADO TRAPALHÃO

O Estado todo, com todos os seus ilegítimos (porém legais) poderes.
Desde o congresso constituinte, a maior fraude da história do mundo que um dia será amplamente revelada, até as leis esdrúxulas que ele perenizou. E os poderes constituídos pela fraude.
O executivo faz uma nova trapalhada no Enem. Mas, convenhamos, desta vez foi uma trapalhada pequena: um erro de 0,0003%; facilmente corrigível. Corrigível, se tivessem tempo de o fazer, como em qualquer nação civilizada, se não entrasse em cena ("em cena", esta expressão é apropriada) as trapalhadas dos "operadores do direito"; que não têm a obrigação de conhecer as teorias matemáticas de avaliação pedagógica, mas poderiam ser mais humildes, ou menos gananciosos de mostrar poder, e consultar os especialistas da área.
Agora, um universo superior a três milhões de estudantes que se esforçaram e confiaram nas instituições está ameaçado de prejuízo por causa da precipitação dos nossos "juristas" que não estão nem um pouco atualizados com as teorias modernas de aferição, e, aferrados aos seus arcaicos conhecimentos clássicos de geração de testes e concursos emperram a máquina educacional do país, e lançam no descrédito o sistema que nos livraria da desgastada indústria dos vestibulares. E bastaria a esses senhores e senhoras, que têm em suas canetas o poder de travar qualquer possibilidade de progresso, apenas lançar no google a expressão "teoria da resposta ao item", ou mesmo a sigla TRI, para deixarem trabalhar quem é do ramo, e irem cuidar de assuntos mais prementes em suas áreas.

Enquanto isto, a pizzaria da minha rua acaba de ser assaltada pela enésima vez e ninguém faz nada: o Estado não existe!

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

DEU NO JORNAL:

"Vaticano vai realizar cúpula para discutir casos de abusos sexuais".

Mammamia! Que não imprimam o convite na mesma gráfica onde imprimem as provas do Enem. Se trocam uma letra!...

Poderiam usar o português da terrinha: realizar cimeira.
Mas, acho que ficava ainda pior.

TRI - TEORIA DE RESPOSTA AO ITEM

Pretender que nossos promotores e juízes saibam o que é isso, é confiar demais num sistema educacional que não consegue nem realizar um exame de avaliação sem trapalhadas.

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

O BRASIL ESTÁ SALVO!

Mas, sobraram sequelas... E ameaças.
As ameaças ficam por conta da persistência do candidato em continuar se autodesconstruindo até no discurso final. Em todos os países, o candidato derrotado procura, no discurso de admissão da derrota, mostrar-se magnânimo, pensar mais no país que em si mesmo, e usa um tom conciliatório para não prejudicar as condições de governabilidade, pelo menos no início do mandato do adversário; condições que ele desejaria para si mesmo se a situação fosse inversa.
Não foi o que aconteceu. O candidato derrotado, mostrando-se relutante até mesmo em pronunciar o nome da oponente, serviu-se de palavras duras, belicosas, armadas: "...prá quem pensa que a luta acaba aqui, ela está apenas começando..." "...vocês (os adeptos dele) cavaram uma trincheira... ergueram uma fortaleza..."
E as sequelas ficam por conta não só do candidato e seus adeptos, mas, principalmente, de parte da imprensa, que se empenharam irresponsavelmente em destruir a laicidade do Estado, um dos pilares da convivência republicana. Para isso contaram com a ajuda de entidades nada republicanas, como o excêntrico "partido monarquista", o papa, e os falsos profetas evangélicos que sonham, talvez, com a implantação de um estado teocrático. Ainda bem que vários bispos católicos, e muitos pastores evangélicos, salvaram a situação, resgatando a dignidade da religião.
Pior sequela ficará pela tentativa encetada de reescrever a história e inverter seus valores, o que provocou o ressurgimento da mais abjeta direita, e levou até um membro da suprema corte do país a declarar na imprensa que são válidas, para conhecimento de candidatos, por decorrência de qualquer pessoa, "informações" obtidas sob cruéis torturas. Foram tantos e tão virulentos os saudosos do período militar que ousaram sair de seu armário político, que vale aqui a pergunta: "onde escondeste, todo esse tempo, o teu fascismo?"

sábado, 30 de outubro de 2010

STF LEGITIMANDO A TORTURA?

Tem que ser muito criancinha, de colo mesmo, prá não saber como são os métodos de interrogatório e de "processo judicial" durante os regimes de exceção.
Os adversários desses regimes (ditaduras latino-americanas, ditaduras nazifascistas, e outras), quando presos, são submetidos a tratamento tão vil e degradante que perdem momentaneamente toda dignidade, autoestima e autocontrole, agarrando-se a mínimas chances de sobrevivência ou interrupção das dores atrozes impostas pelos verdugos.
Daí, todo mundo sabe, e, principalmente, o sabem todos os companheiros envolvidos em lutas contra ditaduras, o prisioneiro "entrega até a mãe". Por isso, em todas essas lutas, os grupos criam estratégias, que implicam na tentativa do preso de resistir quanto possa, para dar tempo dos demais tomarem conhecimento de sua queda e desmontarem o "aparelho" subversivo que operavam. Do lado dos verdugos, elevam o grau de brutalidade e crueldade, justamente na tentativa de obter as informações a tempo de prender os demais, derrotando, assim, sua estratégia. Nesse embate, os primeiros caídos de um grupo sempre sofrerão mais que os últimos. Há sempre maior probabilidade de mortes entre os primeiros que entre os últimos.
Agora, imaginem que constrangedor, para o torturado, a exibição dos depoimentos e relatos de um "processo" dessa natureza. É evidente que o "processo" não relatará os métodos de tortura empregados, procurando legitimidade, onde constarão como se fossem expontâneas ou fáceis, delações e retratações.
Portanto, qualquer pessoa de bom senso sabe que as informações assim obtidas, as informações contidas em relatos tão traumaticamente conseguidos, não têm nenhum valor informativo sobre as vítimas. Podem servir para psicólogos estudarem os limites de resistência e de crueldade da nossa espécie, isso sim. São capítulos deprimentes da história do ser humano. Alias, são capítulos da história em que duvidamos até de que certas pessoas sejam realmente humanas.
A Folha de São Paulo queria porque queria os relatos constantes do "processo" de Dilma, quando esta se encontrava presa nos porões da ditadura militar. Evidentemente, para uso político, inserindo-se na ignominiosa campanha de desconstrução a que se dedicaram, como cúmplices dos comitês serristas, órgãos como a Globo, o Estadão, a Veja, e a própria Folha, além de outros tablóides.
O STM negou, claro, atentos aos direitos humanos.
Espantosamente, a ministra Cármem Lúcia, do STF, disse que se tratava de censura, e saiu-se com esta pérola:
"Cidadãos estão impedidos, por uma autoridade, de ter mais informações sobre a candidata".
Informações, ministra? A senhora considera informações dados obtidos com a degradação de uma pessoa, com a retirada de toda sua dignidade, por submetê-la a tratamentos insuportáveis. A senhora não vê que a divulgação dessas "informações", sobre qualquer daquelas vítimas, significa submetê-la novamente, desta vez moralmente, o que talvez seja pior, a todo o sofrimento pelo qual ela passou?
Ah! Minha senhora...

sábado, 23 de outubro de 2010

LIBERDADE DE IMPRENSA

A imprensa brasileira sofre de uma miopia intelectual muito grave: julga que a liberdade de expressão os liberta da ética.

sábado, 2 de outubro de 2010

A DECISÃO DOS INDECISOS

As eleições 2010, tanto para Presidente do Brasil como para Governador do Paraná, serão decididas pelos indecisos!

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

PRESIDENCIÁVEIS

No último debate dos candidatos, quinta-feira na Globo, Plinio de Arruda Sampaio teve seu dia de Weislain Roriz.

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

REFORMA TRIBUTÁRIA?

Só se for assim, ó:

Cada município coleta o icms, recolhe à sua tesouraria a parte que lhe é destinada (digamos que fosse 70%), e o restante repassa ao estado. A tesouraria do estado recebe, portanto, 30% de cada município, recolhe aos seus cofres 70% desse montante, e repassa 30% à união.
Diminui-se o custo com a viagem do dinheiro até brasilia e sua volta; diminui-se custo de lobistas e consquentes tráficos de influência; e diminui-se o cruel custo com esqueletos de obras inacabadas. Para que haja lisura no recolhimento no município, o coletor pode continuar sendo estadual.

Quem vai querer perder o poder que a centralização confere?

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

DEUS CRIOU A FÍSICA, UÁI!


"Deus não criou o universo e o 'Big Bang' foi uma consequência inevitável das leis da física, argumenta o eminente físico teórico britânico Stephen Hawking em um novo livro".


Deu no jornal.

Ora, se o universo é consequencia inevitável das leis da física, então as leis da física existiam antes do universo. Eram o quê: um para-universo? Não eram elas o universo naquele momento?
Se não há necessidade de Deus nessa história, então crie logo uma teoria prá explicar o big-bang que criou as leis da física; ou o universo antes do universo!

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

VAIDADES DE VERDADES

Deus, livrai-me das pessoas que sabem a Verdade;
elas perseguem, prendem, torturam e matam
por causa dela!

sábado, 7 de agosto de 2010

FICHA LIMPA, BARRA SUJA.

Cada vez eu entendo menos esse povo. Acho que penso diferente de todo mundo. Claro que isso não é bom.
Esse povo adora entregar sua autonomia, ou sua soberania. Primeiro, entregava ao soberano, mesmo: ao rei de Portugal. Depois, deixou de exigir que o rei fosse o seu senhor, para exigir que o fosse o Imperador. Cansou do Imperador, passou a fazer salamaleques para os militares. Viram? Sempre alguém, ou alguma classe, que não é eleito, ou eleita. Parece que há uma necessidade do povo de submeter-se a alguém que o controle, sem que seja controlado por ele. Como fruto do estelionato político que chamaram de "constituinte", ele entregou o controle de sua vida, as decisões sobre sua alimentação, sobre a educação de seus filhos, seu trabalho, tudo, enfim, ao ministério público e ao judiciário. Claro, não dá prá viver (ainda!) sem essas corporações. Mas, nos países civilizados há, ao menos, um mínimo de controle popular sobre elas. Afinal, quem paga a conta deveria discutir os preços: aqui eles fixam seus próprios salários!
Agora, todos festejam o aumento do controle desses senhores: eles passam a decidir a lista daqueles em quem nós podemos ou não votar. Como? Não é bem assim? É só o cara processado e julgado, e tal? Mas, meu chapa, com tanta lei, ninguém se livra de ser enforcado. O primeiro paranaense que teve seus direitos políticos cassados pela nova ordem, o foi com a desculpa de pesca ilegal! Vejam, o cara saiu com o filhinho e uma varinha equipada com um anzol de lambari numa tarde de sol; foi resvalando pela margem do riacho, até chegar a um local onde a pesca era proibida. Flagrado, teve seus direitos políticos cassados.
E mais... tem um outro poder não eleito e decorrente da constituição ilegítima: as corporações de ofícios, alcunhadas hoje em dia de "conselhos de classe". Desde a Idade Média até o salazarismo resistente no Brasil, pelas mais diversas razões alguém pode ser impedido do exercício profissional pela guilda; e, nem todas são razões criminosas. Algumas até meritórias, como a insurgência contra práticas cristalizadas; ou pela realização de inovações técnicas, tecnologicas ou científicas. Pois bem, o cara inova, desperta o ciúme da corporação, insurge-se, é expulso, pronto, automaticamente é cassado politicamente. Pois está lá na lei: quem é impedido de exercício da profissão pelo conselho de classe cai na malha da lei da ficha limpa.
Será que só eu vejo isso? Será que só eu desejo as rédeas do meu destino, incluindo decidir livremente em quem eu voto, sem ter alguém "cuidando de mim"?
Vai, povo, vai renunciando à sua soberania... Quando quiser acordar e retomar o controle se sua vida, não vai mais conseguir...

quarta-feira, 28 de julho de 2010

RELAXE... E IDOSE!

Tendo visto tantos velhos bons, amorosos, pacientes, cavalheiros e altruístas, chego a acreditar que os que culpam a idade pela perda dessas qualidades na verdade nunca as tiveram.
Já posso pensar livremente essas coisas, pois, segundo nossa exuberante legislação, sou um idoso.
Confesso que resisti. De acordo com o famigerado estatuto que nos discrimina (mais um saboroso fruto da inépcia e desídia de nossos legisladores) completei meu primeiro trimestre de idosidade.
Três meses olhando as melhores vagas no estacionamento do supermercado e resistindo aos apelos do netinho que me acompanhava ("Vô, pára ali, você já é idoso!"). Até que um dia parei... apenas para sair novamente correndo de medo de uma enorme placa que me ameaçava de multa, pela lei tal e tal (mais lei?) se eu não tivesse um tal papel que a prefeitura fornece. Descobri que eu era um idoso descadastrado!
Fui atrás do cadastro, e vi o custo de nossa incivilização.
Não poderiam, simplesmente, criar as vagas para idosos e deficientes, todos respeitarem e a coisa funcionar?
Não. Ninguém pensa em investir na educação, que geraria a civilização, o respeito ao próximo e, consequentemente, às vagas do próximo um pouco dissemelhante.
Não poderiam, então, ao menos aceitar que o idoso colocasse no painel do carro uma xerocópia da carteira de identidade, evitando que o agente desavisado o multasse?
Não. Quem não investiu em educação, também se julga exime de investir em segurança, e o idoso, como qualquer pessoa, tem medo de expor seus dados pessoais a desconhecidos em lugar público.
Então, ao cadastro! Uma prévia pela internet -- custo do erário em informática. Uma ida ao local da entrega da "credencial de idoso" -- custo em combustível e estacionamento. Três rapazes solícitos atendendo -- custo do erário em mão-de-obra (é bom que eles estejam empregados, mas, poderiam estar em atividade mais produtiva e à custa do empresário). Registro e impressos -- mais custo do erário em informática e papel.
Finalmente, um idoso cadastrado. Espero não "engolir o rei", como fazem alguns, e sair por aí gritando meus direito em filas, atropelando jovens com crianças pequenas no colo, ou obrigando deficientes cujas deficiências não são aparentes a exibí-las, a fim de que não os expulse também da fila privilegiada.
Ainda não cheguei a tanta ranzinzice. Por enquanto, me satisfaço em ficar criticando o Estado!

quinta-feira, 15 de julho de 2010

O BIÓLOGO E OS DOIS GUARAS: EQUÍVOCOS DO DENUNCISMO

A prática de se suspeitar, acusar, denunciar e, na sequência e inconsequentemente, julgar e condenar ao escrachamento público na imprensa está tão comum neste país que achei muito útil reproduzir esta carta de um cientista brasileiro.


KAFKA + FOGO "AMIGO" = ZOOLOGIA NO FUNDO DO POÇO

Alexandre Aleixo
Curador da Coleção de Ornitologia
Museu Paraense Emílio Goeldi
Belém – Pará



O escritor tcheco Franz Kafka, autor de jóias da literatura como “A Metamorfose” e “O Processo”, tinha um talento especial para narrar como o insólito pode entrar na vida das pessoas sem qualquer aviso prévio e com conseqüências trágicas. A odisséia kafkiana do biólogo Louri Klemann Jr. começou no dia 15 de maio deste ano no litoral do Paraná, mas seu fim ainda parece longe, com um possível desfecho que pode representar a total falência da Zoologia brasileira como uma ciência que se comunica eficientemente com o grande público e até com alguns de seus supostos líderes nos conselhos regionais de biologia.
O site “Google” é um medidor acurado da odisséia kafkiana de Louri Klemann Jr. Quem digitar o nome completo dele achará várias entradas logo na primeira página. Nas mais acessadas, ele aparece como um criminoso condenado sem julgamento, como Joseph K., protagonista de “O Processo”. Em outras, ele aparece como um prolífico consultor ambiental. Além disso, existe também o Louri Klemann Jr. mestrando do curso de Pós-graduação em Ecologia e Conservação da Universidade Federal do Paraná, bem como aquele que trabalhou em associação com o ICMBIO, a Secretaria de Meio Ambiente do Paraná e o Instituto Ambiental do mesmo estado (IAP) em diversos projetos que vão desde a elaboração de planos de manejo de unidades de conservação, até a revisão da lista de espécies ameaçadas do Paraná e a elaboração de planos de ação para espécies ameaçadas do estado. Curiosamente, o mesmo IAP pode condená-lo em breve a pagar uma multa de 50 milhões de reais por crime ambiental...
Tudo tão contraditório que pode parecer que existem dois Louri Klemann Jr., antípodas um do outro: o criminoso ambiental impiedoso / psicopata implícito e o biólogo conservacionista de formação, parceiro dos órgãos ambientais no estado do Paraná. Infelizmente, todas as páginas do “Google” citadas acima tratam da mesma pessoa! Surpresos?! Lembre-se, como escrevi logo no início, este texto trata de uma odisséia kafkiana. Mas vamos ao que interessa agora: quem é, afinal, Louri Klemann Jr. e por que é toda a Zoologia brasileira que está encarnando o papel de Joseph K. junto com ele num verdadeiro simulacro de processo por um crime inexistente?
A chave para entender a natureza real de Louri Klemann Jr. é o seu currículo Lattes, instrumento de avaliação acadêmica obrigatório no Brasil. Nele, estão bem caracterizados todos os Louri Klemann Jr. “do bem” das páginas do “Google”, mas que se resumem em um só: um jovem e atuante zoólogo com especialidade em ornitologia, cujos feitos não são nada modestos para alguém que começou a cursar o mestrado ainda em 2010. Como, então, apareceu o Louri Klemann Jr. bandido, criminoso ambiental no mesmo “Google”? Qual a origem deste personagem, condenado pela mídia à condição de pária sem julgamento, tal qual Joseph K. em “O Processo”?
A persona Louri Klemann Jr., como aparece caracterizada nas páginas de “A Gazeta do Paraná” nas suas edições de 27 de junho, 4 e 6 de julho de 2010, dentre os links de Louri mais acessados no “Google” nestes dias, surgiu a partir da coleta de dois espécimes de guarás (Eudocimus ruber) em Guaratuba, no litoral do estado do Paraná. Digitem “guará” no “Google” e uma das primeiras entradas sobre a ave a surgir é ilustrada por um indivíduo adulto em magnífica plumagem vermelha carmesim, típica da espécie. Dado importante, e que fará sentido apenas mais adiante: os guarás coletados por Louri em nada se parecem com a ave vermelha vistosa do “Google”, mais um dado a se juntar ao processo kafkiano enfrentado por ele.
Comuns no norte do Brasil e, principalmente por isso, ausentes da lista nacional da fauna ameaçada de extinção, no estado do Paraná os guarás eram ainda considerados ameaçados de extinção até 2009, quando especialistas credenciados pelos órgãos ambientais do estado decidiram pela retirada da espécie da condição de ameaçada, uma vez que ela voltava a se estabelecer no litoral do estado, com até cerca de 200 indivíduos avistados recentemente em Guaraqueçaba. Como essa decisão ainda não foi homologada, o guará ainda é, burocraticamente pelo menos, considerado ameaçado no Paraná.
As histórias de Louri e dos guarás do Paraná se cruzaram no dia 15 de maio deste ano, quando o biólogo se encontrava em Guaratuba desenvolvendo um projeto de pesquisa de longo prazo sobre a avifauna do Paraná, que inclui o estudo e a coleta científica de espécies de aves não ameaçadas do estado, dentre elas duas espécies de íbis, parentes bem próximos do guará e que ocorrem em maior abundância na mesma área: o tapicuru-de-cara-pelada (Phimosus infuscatus) e a caraúna-de-cara-branca (Plegadis chihi). Apesar de parentes próximos dos guarás, estas duas espécies possuem plumagem escura, bem diversa do seu parente mais famoso e tido como ameaçado. Como zoólogo profissional, Louri se encontrava em Guaratuba devidamente autorizado por todos os órgãos ambientais nacionais e estaduais competentes para estudar e, quando necessário, coletar para fins científicos exemplares, dentre várias espécies não ameaçadas de extinção, do tapicuru-de-cara-pelada e da caraúna-de-cara-branca, que nesses casos deveriam ser depositados num dos mais conhecidos museus de história natural do Brasil: o Museu de História Natural Capão do Imbuia (MHNCI), ligado à Prefeitura Municipal de Curitiba. Como todo zoólogo no Brasil, o processo para a obtenção das devidas licenças enfrentado por Louri não foi trivial e envolveu a comprovação em todos os níveis da sua qualificação como profissional, bem como da relevância e adequação da coleta para o seu projeto de pesquisa, tudo avaliado por técnicos independentes, credenciados e com legitimidade para emitir pareceres, que poderiam ser favoráveis ou desfavoráveis. Neste caso, Louri teve assegurado dentro das esferas legais por todos os órgãos ambientais competentes, o direito pleno de coletar espécimes de aves para seu projeto de pesquisa.
No dia 15 de maio de 2010, logo após coletar dois espécimes de íbis de plumagem escura durante suas atividades de campo de rotina em Guaratuba, Louri verificou tratarem-se na verdade de guarás jovens, que nessa fase na vida ainda não exibem a plumagem vermelha carmesim icônica dos adultos, mas sim, a mesma plumagem escura que caracteriza adultos das duas das espécies de íbis não ameaçadas e cuja coleta lhe haviam sido autorizada (tapicuru-de-cara-pelada e caraúna-de-cara-branca).
Pois o processo kafkiano contra Louri começou exatamente aí, com um equívoco que na verdade é previsto e tratado pela mesma legislação que o autorizou a trabalhar e coletar aves em Guaratuba como “Coleta Imprevista de Material Biológico”, e que deve ser relatada oportunamente aos órgãos ambientais que concederam a licença de coleta de material biológico.
Simples? Caso encerrado? Não, lembre-se, o processo kafkiano só está começando.
Os primeiros acusadores do “O Processo”, desta vez na sua versão paranaense, foram pessoas que acusaram Louri de leviandade, de coletar os pobres guarás supostamente ameaçados de extinção de modo consciente e deliberado. “O Processo” foi então tomando corpo e em breve eram os vários órgãos de imprensa do estado do Paraná que se juntaram ao coro de acusadores, mas desta vez omitindo da opinião pública um fato importantíssimo: legalmente, Louri não infringiu qualquer lei ambiental; pelo contrário: está e esteve amparado nela o tempo todo, mesmo tenho cometido o equívoco de ter coletado acidentalmente uma espécie oficialmente listada como ameaçada de extinção num estado brasileiro. Ademais, toda a sua história pregressa, assim como o contexto da coleta dos guarás, o inocentam, com ampla margem, de qualquer acusação de má fé e mau uso da sua licença de coleta.
O “Processo” contra Louri adquiriu o auge de um drama kafkiano quando o presidente do Conselho Regional de Biologia – 7 (CRBIO-7) veio a público engrossar o coro de algozes e declarar que, de antemão, o biólogo já poderia ser considerado errado e culpado pela coleta dos guarás, além de achar estranho o fato dos órgãos ambientais terem autorizado o mesmo a coletar espécimes da fauna. Para fechar com “chave de ouro”, a autoridade máxima do CRBIO-7, com sede em Curitba, a mesma cidade que sedia a Sociedade Brasileira de Zoologia (SBZ), proferiu seu julgamento sobre a coleta científica: desnecessária para o estudo dos animais.
Definitivamente, Louri e nós zoólogos estamos “muito bem na foto”. O presidente de um de nossos conselhos regionais mais influentes, quando vem a público se pronunciar sobre um episódio de coleta, além de declarar publicamente um colega culpado de antemão sem julgar o seu processo pelos trâmites regimentais, ignora por completo a legislação ambiental que rege a coleta científica no país, e, ainda por cima, não tem qualquer noção do papel da coleta científica para a zoologia.
E “O Processo” segue e, no seu calor, até o IAP declara a possibilidade de multar Louri em 50 milhões de reais, sem dúvida uma quantia modesta e justa, oferecida por qualquer mega-sena...
Como chegamos a esse ponto? Como, até mesmo os nossos representantes de classe ignoram por completo a legalidade e o valor da coleta científica e fornecem munição para campanhas de achaque e linchamento moral a zoólogos, ao invés de esclarecer ou pelo menos qualificar o debate junto á mídia e ao grande público? Tudo o que não precisamos nesse momento, é deste “fogo amigo”, que sepulta por completo a esperança de que a justiça vai se fazer presente e nos acordar do pesadelo desta versão moderna e brasileira de “O Processo”. Esse “fogo amigo”, no fundo, mostra que a atividade de coleta científica no Brasil chegou ao fundo do poço.
Meses atrás, ficamos todos deprimidos com o incêndio das coleções biológicas do Butantan em São Paulo e nos manifestamos das mais diversas formas, fizemos barulho sobre o que achávamos ainda ser inadequado ou insuficiente e que colocava em perigo as coleções e a zoologia no Brasil.
O drama pessoal de Louri é outra tragédia da zoologia brasileira, com uma simbologia própria: se a tragédia do Butantan envolveu a perda de milhares de exemplares coletados ao longo de várias gerações de zoólogos, a tragédia de Louri envolve a perda futura de um número desconhecido de exemplares que não serão coletados por ele e pelas novas gerações num país cada vez menos informado sobre o que é, para que serve e como é regulada legalmente a coleta científica.
Vamos, como sociedade, exigir justiça nesse caso e evitar um final kafkiano para “O Processo” de Louri Klemann Jr. Primeiramente, Louri precisa de nosso apoio para inocentá-lo de qualquer acusação de má-fé nesse episódio, como bem demonstram as condições e o contexto da coleta dos guarás em Guaratuba, além das credenciais por ele obtidas durante sua carreira profissional. Louri precisa da nossa ajuda e testemunho para se defender nos mais diversos processos que estão sendo abertos contra ele, inclusive aqueles que lhe cobram multas de valores insólitos, que devem estar lhe gerando uma angústia indescritível e com certeza o desestimulando a continuar com a atividade de coleta científica no futuro.
Além disso, temos que ativamente buscar espaço na imprensa e quaisquer foros para réplicas, esclarecimentos, retratações e ações afins, sempre que a coleta científica tiver uma cobertura parcial e sensacionalista, que contribui para repercuti-la negativamente junto à opinião pública. É inclusive uma sugestão minha instituir na Sociedade Brasileira de Zoologia (SBZ) e Sociedade Brasileira de Ornitologia (SBO), às quais sou filiado, comissões internas para esses casos, com a atribuição de avaliar cada caso e, quando oportuno, se pronunciar sempre que necessário junto à imprensa e o grande público de um modo geral. Não seria tampouco absurdo pensarmos em algum tipo de assistência jurídica permanente e de qualidade respaldando o trabalho dessas comissões.
Os personagens de Franz Kafka refletem sempre aquele que foi o drama pessoal do próprio autor: um indivíduo que, pela sua singularidade, sempre se sentiu culpado por ser diferente e aprendeu a não esperar outra coisa do mundo a não ser a rejeição gratuita associada à aniquilação. Num determinado ponto de “O Processo”, percebemos que toda a busca pelos termos e mesmo sentido da acusação sobre Joseph K. é inútil, já que o próprio protagonista começa a se sentir culpado por um crime cujo teor ele mesmo desconhece. Portanto, Joseph K. acaba aceitando a pena capital que lhe é decretada até com um certo alívio, já que o seu grande “crime” afinal era e sempre foi a sua própria existência. Em resumo: Joseph K. já nasceu culpado de um crime a ser punido com a pena capital.
De modo análogo, a imprensa, boa parte da opinião pública e pelo menos um conselho regional de biologia tem o mesmo posicionamento sobre a coleta: sua simples concepção é errada e meritória de punição exemplar. Mesmo sem jamais ter ido às verdadeiras fontes, mesmo sem sequer ouvir as duas partes; mesmo sem admitir qualquer tipo de defesa. Que isso não se repita mais com as coletas científicas no Brasil. Que nós não deixemos o obscurantismo transformar essa atividade prevista e regulada por lei e praticada por amantes e filósofos do mundo natural num crime banal, tornando-a equivalente ao desmatamento, especulação imobiliária e tráfico de animais silvestres, esses sim, os grandes vilões da fauna brasileira.

Belém, 13 de julho de 2010

domingo, 25 de abril de 2010

O QUE O COMUNISMO NÃO CONSEGUIU, O CAPITALISMO ARREMATOU.

"Para Mark Zuckerberg, executivo-chefe do Facebook, a era da privacidade acabou."
Esta frase, lida hoje na Folha on-line, trouxe-me imediatamente à memória outra, dita virtualmente há quase cem anos, pela personagem Pasha Strelnikov, no filme Doutor Jivago: "A vida privada acabou na Rússia".

terça-feira, 30 de março de 2010

...

Não digas de ti mesmo: servo do Senhor!
Sê honesto!
Deixa Deus fora disto.
Não te digas a serviço de Jesus.
Não o culpes pelos teus preconceitos.
Pelos teus erros, ambições e perseguições.
Livra-te tu mesmo dessas coisas.
Não o acuses de mandante
nem mentor intelectual
de tuas inquisições!
És sócio de satanás?
Pois ele assusta os incautos,
e tu lhes cobra proteção?
Ou até ele é inocente, só tu assustas?
Fica atento, um dia
ele virá cobrar sua parte!
Os verdadeiros servos do Senhor
se os houvesse,
não comprometeriam seu amo.
Assumiriam como próprias suas idéias.
Responderiam como seus, seus próprios atos.

domingo, 28 de março de 2010

MUDANÇA DE CONCEITOS... OU SUPERAÇÃO DE PRECONCEITOS.

"As feias que perdoem Vinicius, pois ele não sabia o que dizia."

(Frase encontrada na revista Universo Espírita, num texto que tratava de Susan Boyle).

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

VAIDADE DE VAIDADES...

Tudo é vaidade.
E flores da estação; que surgem, colorem e perfumam, e cumprem sua finalidade. Depois murcham, secam, desaparecem, e ninguém mais lembra delas.
Assim é tudo que adorna tua personalidade; tudo que te caracteriza: o corpo, a aparência, as posses, os títulos, as crenças, tudo flores da estação.
As leis e as organizações que te sustentam mudarão, não serão as mesmas.
Nenhuma das instituições para as quais trabalhas, nenhuma igreja ou religião, nada permanece, porque nada disso é de Deus. E Deus não se importa com elas.
Elas são flores da estação, que adornam tua personalidade.
Só o indivíduo permanece.Por isso é a ti, e só a ti, o indivíduo, que Deus se dirige, com quem Deus se preocupa.
As igrejas, religiões, crenças e convicções, são flores da estação.
E se pensas que tua religião é uma obra de Deus e te sentes justificado em todo o mal ou o bem que por ela fazes, saibas que ela não é obra de Deus, nenhuma delas. Mas Deus te argüirá, a ti somente, ao indivíduo, sobre o que fizeres, a ti e aos outros, com e por causa, das flores da estação.
E quando as flores morrerem e desaparecerem, delas não restando aromas ou cores, e nada, Deus então dirá só a ti, sem teus guias, teus gurus, teus padres, pastores, rabinos ou aiatolás, só a ti ele dirá, o que te sobrou dessas flores e que poderás levar, porque poderá te servir, no encontro que terás com outras cores e outros aromas, de outras flores, em outras estações.

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

ÁI... AYAHUASCA!

Sem dúvida, o mercado religioso é o mais concorrido e agressivo. Aliás, acho que é o único mercado, até agora na história deste planeta, que chegou ao ponto de admitir a eliminação física dos vendedores e consumidores de produtos concorrentes. Haja vista as caças a bruxas, inquisições, guerras santas, e outras práticas.
Agora, o mercado se arma contra o mais novo produto concorrente: o inocente chá de mato que emerge no horizonte oeste. E os que se acham ameaçados por ele -- uma vez que ameaça diminuir as hostes de seus adeptos fiéis e mantenedores servis --, o acusam de todos os males, desde disposições demoníacas, até dependências e efeitos semelhantes às drogas que sustentam a economia brasileira (e, consequentemente, o Estado Brasileiro, com seus podres poderes), quiçá mundial, a saber, maconha, cocaína, heroína e ópio.
Não sou ayahuasqueiro, não integro nenhuma dessas seitas, mas já bebi o chá. Bebi na UDV, bebi no Santo Daime, e bebi por conta própria, preparado por mim mesmo, já que conheço as plantas envolvidas e sei onde encontrá-las. Conheço o chá há cerca de dez anos; faz tempo que não bebo, e, em todo esse tempo, se o bebi dez vezes foram muitas. Por isso, divirto-me com a argumentação espalhada na mídia. Não bebo o chá há tempos porque é muito ruim. Querem ter uma idéia? Talvez os da minha idade, egressos do meio rural ou pequenas cidades, lembrem de nossos maiores pesadelos infantis: as cruéis mãos de nossas mãezinhas empurrando colheradas de tussaveto ou óleo de fígado de bacalhau. Multiplique esse terror por dois ou três, e teremos o gosto horrível da ayahuasca. Vencida a agressão ao paladar, começa o desagradável peso no estômago, que, até o final do ritual, certamente levará o usuário ao vômito ou à diarréia.
Então, por que bebem? Por que se dissemina o culto? Simples: para "encontrar Deus". As pessoas fazem de tudo para encontrar Deus. O pessoal do opus dei não se chicoteia até o sangramento? E os jejuns? E os homens-bomba? E afinal, o Mel Gibson já não mostrou em cores vivas o que Deus exigiu de seu próprio filho unigênito, para conceder-lhe a honra de sentar-se ao seu lado? Ora, perto disso tudo, a ingestão de uma bebida amarga se torna mel prá zangão.
Podem deixar livre; nem de longe vai atrair a molecada como as drogas oficiosas. Só passa da primeira tentativa os que realmente querem "encontrar Deus" (ou as equivalentes expansões espirituais). E, a despeito dos despeitados jurarem de pezinho, não cria dependência. Inúmeros são os que abandonam a seita e não sentem a menor crise de abstinência. Eu mesmo, se gerasse dependência, estaria viciado. No entanto, tenho ainda um estoque na geladeira, restos dos últimos preparos, aguardando o esquecimento do paladar e alguma motivação para o consumo. É possível imaginar alguém guardando um tantinho de cocaína no armário e dizendo: "deixa aí, prá se um dia der vontade"?
E a hipocrisia do "pode beber, mas não pode comercializar"?
Pois aí é o nó da questão!
Não se comercializam livros doutrinários, aguinhas do rio jordão, medalhinhas bentas e outras miçangas sagradas, para aqueles que precisam delas para encontrar Deus, já que não sabem que basta um simples: "olá, Jeová, tudo bem"?
E, essas coisinhas todas têm custo. O chá também: é preciso cuidar dos pés de mariri e de chacronas, colher, preparar à custa de lenha ou gás em panelas e caldeirões, transportar, distribuir, pagar aluguel, luz e água dos templos, e tudo o mais...
Oras... oras...

sábado, 2 de janeiro de 2010

AS VERDADES E AS FÁBULAS

Entre os poucos livrinhos infanto-juvenis que publiquei, num deles, "Brás Brasileiro", o protagonista mede-se num pé de mamão e acha que encolheu quando se mede tempos depois. Ganhei muitas críticas e reprimendas, até de dentro da família, onde tenho agrônoma e bióloga de plantão, uma vez que a árvore não poderia ter elevado a marca, pois elas crescem por superposição. Minha salvação foi que eu havia colocado na primeira página do livro um aviso assim: "Neste livro existem verdades e mentiras; mas eu acredito mais nas mentiras". Também aleguei que, se é verdade que as árvores não crescem "se esticando", elas engrossam; ou seja, encorpam. E, no se encorparem, acabam elevando, por pouco que seja, uma marca qualquer deixada em seu tronco. Não colou. Fui, então, cobrar do meu barranqueiro particular a gafe. Ele garantiu que a historia era verdadeira. E pouco se importava como as árvores cresciam.
Lembrei-me disso quando lia, hoje, num gibi do "Sítio do Pica-pau Amarelo", a Tia Nastácia, Emília e Pedrinho, às voltas com um macaco que roubava os amendoins da horta da cozinheira. Lá estavam os pezinhos de amendoim intactos, como se as frutinhas roubadas pendessem de seus galhos. A Emília chegou a acariciar um deles dizendo: "É mesmo! Este pé está depenadinho! Que coisa!"
A gafe do gibi, seguramente, se deve ao fato de o autor ser do meio urbano, sem nunca ter acompanhado uma cultura de amendoins.
A minha, porque meu informante, o barranqueiro particular, apesar de ter nascido, crescido e vivido sempre no meio rural, nunca observou com rigor científico o crescimento das árvores. Aliás, os camponeses que povoaram minha infância e adolescência sempre foram mais especializados em cortar árvores do que plantá-las e vê-las crescer...