quarta-feira, 30 de abril de 2008

ANTROPOLOGIA E LIBERDADE

Não se trata de idéia fixa, mas de novo ocorreu-me uma dificuldade no ponto de equilíbrio. Desta vez é entre a preservação da cultura indígena e o congelamento daqueles indivíduos numa situação de escravidão. Se não é de escravidão, é muito parecida. Pelo menos é o que me ocorre quando vejo aqueles índios comportados, nus ou semi-nus, cantando, dançando, caçando, e cozinhando em suas choças, quando sei que seus caciques e pajés têm aviões e cercam-se de equipamentos de última geração. Preservar suas culturas não equivale a preservar suas religiões? Teríamos sido todos nós, que nos chamamos civilizados, beneficiados se preservassem nossas religiões? Como seria se alguns antropólogos extra-terrestres nos tivessem convencido a permanecermos apedrejando amores clandestinos na palestina, ou torturando e sendo torturados por inquisidores medievais, com a desculpa de preservar nossa cultura? Afinal, não posso deixar de notar que quem crucificou Jesus foram os pajés, com apoio dos caciques, para que ele não alterasse a ordem vigente, que, obviamente, trazia inúmeras vantagens a eles. Também a inquisição, sem dúvida, foi criada e mantida pelos pajés, de novo com apoio dos caciques, a fim de manter a população quieta e disciplinada, curtindo sua cultura, enquanto eles se mantinham no poder e usufruíam de suas vantagens. Portanto, temos que encontrar o ponto de equilíbrio que nos impeça de desfigurar o índio, transformando-o em um "civilizado" miserável, mas, ao mesmo tempo, não impedí-lo de seguir seus caminhos, traçados pelas suas vontades individuais, livres e soberanas.

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