domingo, 16 de outubro de 2011

A GAFE DO OLAVO DE CARVALHO

Uma vez eu fiquei indignado na minha infância. Vi dois bêbados brigando a pauladas porque um queria votar no Jânio Quadros e o outro no Ney Braga. Meus dez anos se indignaram com a burrice dos adultos, mesmo os adultos bêbados, pois o caso era tão simples de resolver, afinal, um era candidato a presidente e o outro a governador!
Pois bem, agora tenho visto um indignado tornando-se onipresente nos sites conservadores: um tal de Olavo de Carvalho. Vídeos e mais vídeos no youtube, com milhares e milhares de acessos, e comentários indignados: "esse pt é assim mesmo", "morte aos petistas!", "abaixo a Dilma!"...
Bem, vamos ver o que o cara diz, ainda mais que ele é apresentado como "filósofo".
Abri um vídeo ao acaso. Ele esbravejava contra o PT por causa de uma proposta de emenda constitucional aprovada pela CCJ, que tira a força do vice-presidente. Propõe que, em caso de vacância no cargo de presidente, o vice assuma apenas interinamente, e o parlamento convoque nova eleição, indireta (!), para o preenchimento do tempo restante. Segundo ele, isso é artimanha do PT -- e ele compara com a tomada do poder pelo Hitler --, para se perpetuar no poder e sacanear o Temer. Muito bem, seu Olavo! Onde já se viu isso, ainda mais ressuscitando o fantasma das indiretas? Estão certos os demais indignados vociferando palavrões contra o PT no rodapé do vídeo.
Só que... eu fui pesquisar quem seria o autor de tão atrevida proposta.
Pasmem! Trata-se de um substitutivo do Demóstenes Torres, do DEM-GO, a um projeto do Arthur Virgílio, do PSDB-AM!
Bom Deus, meio século depois os bêbados continuam brigando!

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

NÃO ERA BEM COM ESSA DESCATOLICIZAÇÃO QUE EU SONHAVA

Hoje é dia de Nossa Senhora da Aparecida e eu notei, não sem uma certa nostalgia, como está mais fraco o foguetório do meio dia. Quando eu era adolescente a procissão passava na rua principal ocupando toda a via e nela desfilavam todas as pessoas da cidade. Eu assistia da calçada, junto com os ateus, comunistas e espíritas. Éramos cerca de meia dúzia e nos considerávamos livres pensadores. Ao som da ladainha fazíamos entre nós -- claro, apenas entre nós e baixo para que não chegasse aos ouvidos da maioria cobraleante --, comentários, temperados pela arrogante e pretensiosa sabedoria juvenil, sobre a necessidade de acordar o povo para as benesses da laicização. Hoje, são raras e magras as procissões e os fogos, mas não aumentou o número de livres pensadores como eu sonhava; talvez tenha até diminuído. O Brasil não se tornou um grande país laico. As pessoas que largaram as velas e desapoiaram o andor tornaram-se fundamentalistas de diversos matizes. Se antes rezavam e depois voltavam descontraídas aos seus pecados saudáveis -- e abençoados por Deus --, agora tentam impor as orações, as crenças e as virtudes, ameaçando reeditar as intolerâncias medievais.
Conto os minutos cada vez mais escassos dos rojões e conjecturo com meus botões -- que ainda guardam certa dose de arrogância e pseudo sabedoria -- como já podemos sentir saudades da hegemonia católica.

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

OS "PRECONCEITOS" DE TWAIN, LOBATO E MACHADO

Há pouco tempo uma entidade de consciência negra pretendia proibir nas escolas os livros de Monteiro Lobato e crucificar o funcionário que os selecionara, acusando-o, o Lobato, de racismo porque, nas "Caçadas do Pedrinho", compara a agilidade da Tia Nastácia com a de um macaco, quando ela sobe numa árvore fugindo da onça. Como ficariam, diziam tais militantes, as criancinhas de descendência africana quando aquele texto fosse lido nas salas de aula? E não adiantava dizer que o professor aproveitaria a oportunidade para trabalhar tais valores ou desvalores; não adiantando nem mesmo mostrar, como defesa do autor, outra parte do mesmo livro em que o Lobato chama de "macacada" todas as crianças e personagens brancos da história, tornando evidente que a comparação com o nosso nobre primata se deve mais à agilidade e hiperatividade deste do que à sua cor (que nem sempre é negra, diga-se de passagem). Como sempre, poderíamos lamentar a falta de criatividade nacional, pois, tais investidas, parece, apenas repetem as que houve nos Estados Unidos contra Mark Twain e o tratamento, tornado pelos evos politicamente incorreto, que ele dá, em alguns momentos, aos amigos do seu Huck Finn.
Se formos adotar tais critérios, para sermos coerentes e imparciais, teremos que proibir nas escolas um dos principais artífices da língua pátria, nosso afro-descendente Machado de Assis. Pois se lermos com os mesmos olhos inquisitoriais as agruras do seu Brás Cubas, a partir do capítulo XXX das "Memórias Póstumas", vamos encontrá-lo lidando com o medo de uma borboleta apenas pela sua cor. Quando, finalmente, ele se deixa vencer pelos preconceitos e a mata, justifica sua consciência culpada dizendo: -"Também por que diabo não era ela azul?". E conclui que talvez mesmo azul ou laranja ela não escaparia da morte, porque ele poderia tê-la espetado para o deleite dos olhos. Vejam vocês, se é azul serve para o deleite dos olhos; como é negra, mata-se e joga-se às formigas. Qual seria a reação dos nossos paladinos se tal texto fosse de um autor branco?
Mas o "odioso" preconceito de Machado não para aí: volta-se, logo adiante, contra os deficientes físicos. A bela Eugênia (vejam a escolha do nome!) que ele começara a paquerar descontrói-se aos seus olhos quando ele descobre que ela tem um pequeno defeito na perna. "O pior é que era coxa" -- escreve o mestre do idioma -- "Uns olhos tão lúcidos, uma boca tão fresca, uma compostura tão senhoril; e coxa! Esse contraste faria suspeitar que a Natureza é às vezes um imenso escárnio. Por que bonita, se coxa? por que coxa, se bonita? Tal era a pergunta que eu vinha fazendo a mim mesmo ao voltar para casa, de noite, sem atinar com a solução do enigma. O melhor que há, quando se não resolve um enigma, é sacudi-lo pela janela fora; foi o que eu fiz; lancei mão de uma toalha e enxotei essa outra borboleta preta, que me adejava no cérebro".(!) Mais adiante, enquanto ele bendiz seus pés perfeitos ao descalçar as botas, "lançava os olhos para a Tijuca, e via a aleijadinha (!) perder-se no horizonte do pretérito". E finaliza, cruelmente, o episódio. "Tu, minha Eugênia, é que não as descalçaste nunca; foste aí pela estrada da vida, manquejando da perna e do amor, triste como os enterros pobres, solitária, calada, laboriosa, até que vieste também para esta oura margem... O que eu não sei é se a tua existência era muito necessária ao século. Quem sabe? Talvez um comparsa de menos fizesse patear (!) a tragédia humana".
Viram? Imaginem agora o drama na sala de aula onde as criancinhas negras de olhinhos arregalados e tristes pelas comparações de Lobato e Twain, vêem somar-se a isso a decepção das criancinhas com deficiência física, arrasadas pelo fato do Machado questionar até mesmo a necessidade de sua existência!
Ora, meus caros heróis da raça, não será melhor enfrentarmos o passado e seus preconceitos do que proibirmos os textos anteriores à bendita conscientização inclusiva que nos contagiou mais recentemente?
Senão, nessa paranóia proibitiva acabaremos mudos.
.

terça-feira, 20 de setembro de 2011

A CONDIÇÃO HUMANA

Talvez a principal prova que milita a favor da tese de que a Terra é um vale de lágrimas e nós somos seres destinados ao sofrimento, é o total descompasso entre o cérebro e o corpo. O cérebro busca o prazer; e tudo o que dá prazer ao cérebro -- comidas apimentadas, carnes vermelhas, doces, bebidas alcóolicas e outras drogas -- arrebenta com o corpo, destrói o fígado, os rins, o coração, os pulmões e por aí vai. Existe, claro, o sexo, algo em que a natureza permitiu sintonia, vez que dá prazer ao cérebro e faz bem o corpo. Mas, quem viveria só de sexo?

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

SER OU ESTAR, EIS A QUESTÃO.

Antigamente a gente conseguia saber quem eram, ou o quê eram, nossos amigos. Mesmo quando ficávamos muito tempo sem ver alguém, ao reencontrá-lo podíamos perguntar sobre a esposa, lembrar de alguma novidade sobre sua religião, ou convidá-lo para uma cerveja num bar ou alguma casa noturna conhecida de ambos. Hoje, você se despede de um amigo espírita; reencontra algum tempo depois com ele evangélico; e, mais alguns meses, budista. No próximo Ano Novo, prepare-se, será espírita de novo, reiniciando o ciclo que por certo incluirá outras crenças. Quanto ao estado civil, não foi apenas uma vez que me aconteceu de rever um amigo de muito tempo, perguntar-lhe sobre a esposa, e ele, sadicamente, responder apenas: "ela está logo ali; quer cumprimentá-la?" Lá vou eu esperando encontrar uma velha amiga, quando dou de cara com uma mulher completamente diferente, ou mais alta, ou mais loira, ou vice-versa, mas que me custa alguns segundos de surpresa e constrangimento. E o velho companheiro de bar e de paquera, agora é um gay assumido. Ou aquele amiguinho do colégio, que todo mundo discriminava, mas você, bonzinho, acolhia e mantinha a amizade, agora você reencontra, e quando espera que ele te apresente seu atual "amigo", ele aparece com uma loiraça de metro e tanto de pernas... e legítima! E não me venham os militantes GLS afirmarem, cheios de certezas, que "não existe ex-gay"; pois os religiosos também dizem coisas semelhantes. Tenho amigos espíritas que quando lhes conto que fulano tornou-se evangélico, eles respondem arrogantes: "ele nunca foi espírita, senão, não mudava". E a mesma reação você encontrará entre evangélicos, católicos, budistas, umbandistas ou ateus.
Daí se conclui que ninguém foi, nem é, nem nunca será coisa alguma. Nós todos, agora e permanentemente, estaremos.

terça-feira, 2 de agosto de 2011

O STF NA LUTA CONTRA O FASCISMO

Pode não ser tão republicana a atuação do STF usurpando poderes legislativos. Mas, temos que reconhecer que os homens legislam muito bem. Muito melhor, aliás, do que aqueles paspalhões que nós paspalhosamente elegemos para legislar (assim, na verdade, os paspalhões somos nós mesmos, os eleitores).
O Grupo dos 11 do STF estão, pacientemente mas sem recuo, limpando nossa legislação de todos os entulhos fascistas ali colocados pelas mentes autoritárias com o intuito de controlar a liberdade de expressão, tal como a obrigatoriedade do famigerado "deploma" de jornalista e, agora, enfrentando os assédios e recursos da também famigerada "ordem dos músicos", que pretende controlar a apresentação dos que dessa arte tentam sobreviver. Nossos 11 Samurais acabam de rejeitar novo recurso da "ordem" e se preparam para cortar de vez a cabeça dessa forma patétita de DIP, inconstitucionalizando a Lei de 1960 que a criou. Com a expectativa do julgamento próximo da ilegalidade do exame da OAB -- rompimento de mais um laço com nosso resistente passado medieval --, fica restando a desregulamentação, e consequente libertação total da atividade de ator, para que abandonemos o ultrapassado e vergonhoso salazarismo ibérico, que trava nosso desenvolvimento atando-nos à idade das trevas e suas guildas e corporações.

sábado, 2 de julho de 2011

OS "ERROS" NOS LIVROS DIDÁTICOS

Os jornalistas brasileiros - e, aqui, é necessária a adjetivação, pois se trata de uma espécie de jornalistas dependentes do diploma universitário, ao contrário de toda a prática nos países responsáveis pela vanguarda do conhecimento, onde o jornalista não é dependente de um diploma mas, sim, de sua capacidade jornalística, vindo de que área do conhecimento vier, funcionando o diploma apenas como uma láurea adicional, importante mas adicional - deveriam estudar uma matéria básica para qualquer um que pretenda servir-se da língua para interagir com seus semelhantes: a comunicação. Eu pensei que estudassem comunicação nas faculdades de jornalismo. Parece que não. Quem estuda comunicação, deve, obrigatoriamente estudar linguística e literatura. Reconheço que, da primeira, servem noções básicas. Mas que contemplem o clássico Saussure e uma pincelada em quem se dedicou a pensar no assunto, como Chomsky e outros, não deixando de conhecer os linguistas brasileiros como Eurico Back e Geraldo Mattos. Na literatura, é evidente que não se dispensa a leitura dos que usam a lingua para tal fim, desde os clássicos Alencar e Machado, passando pelos Ramos, Drumonds e Veríssimos, sem nunca desprezar os Rosas e Amados, e desaguando nos atuais Soares e Tezzas, sem esquecer os Ribeiros . Tantavia, quem pretende servir-se de sua língua pátria como principal instrumento de trabalho deve ir um pouco adiante e dar uma vista d'olhos nos teóricos, como Ataíde (o triste e o alegre) e Martins. Parece que nada disso passou perto dos jornalistas que criaram e alimentaram a polêmica artificial e burra sobre "os erros nos livros de português", que chegou a movimentar os parlamentares sempre à cata de escândalos, e os promotores de tocaia, gerando processos natimortos condenados ao arquivo para esconder a vergonha. Ou então, o que talvez seja pior, nossos jornalistas diplomados conhecem a linguistica, porém, incapazes intelectualmente de desnudar fatos, alimentam-se de factóides, tais como a oposição - e sua síndrome de Salieri - compensa seu apagão de criatividade com sua voracidade por escândalos.

sexta-feira, 1 de julho de 2011

O LADO "ESCURO" DA LUA

Por que será que a imprensa, a literatura, o cinema e grande parte das pessoas chamam o lado oculto da Lua de "lado escuro da Lua"? Na lua nova ele não é nada escuro; apenas oculto. Por que tem que ser escuro aquilo que não vemos ou não conhecemos?

segunda-feira, 20 de junho de 2011

O DIPLOMA DE JORNALISMO

Estive lendo um trabalho sobre as exigências para exercício da profissão de jornalista em vários países, elaborado por um professor e colocado no seu blog. (Não é difícil encontrar trabalhos dessa natureza pelo google). O tal professor é francamente a favor da exigência de diploma, e essa sua necessidade psíquica orientou o trabalho. Mas, o tiro sai pela culatra: o que o trabalho evidencia é que a exigência do diploma é mais comum nos países mais atrasados. E, isso não é difícil de se compreender. Os paises mais atrasados ainda estão com muitas de suas partes sociais componentes mergulhadas na Idade Média. Daí o dizer-se que são "emergentes". E, na Idade Média, todos sabem, prevalecia um fascismo corporativista que "protegia" as pessoas da concorrência. Havia, assim, uma obsessiva reserva de mercado para os trabalhadores, para garantir seu ganha-pão, e sua inclusão numa sociedade classista e estanque. Os países pioneiros na "emersão", ou seja, na adesão à revolução capitalista, no abandono do catolicismo medieval e da inquisição, foram obrigados a caminhar para uma sociedade onde a livre competição motiva o permanente aperfeiçoamento das pessoas. Daí porque esse regime tem vencido os nostálgicos retornos aos fascismos, tanto de esquerda como de direita. E os países onde permanece a saudosista reserva de mercado nas profissões têm caminhado na esteira do progresso dos desenvolvidos, beneficiando-se como vampiros de suas benesses, sem sacrifício equivalente para o surgimento delas. No que se refere à profissão de jornalista, a exigência de diploma é mais claramente evocadora de um controle medieval da sociedade, vez que contraria (ou contrariava até pouco tempo) a liberdade de expressão. Tanto é que tal exigência vem sempre trazida pela legislação das ditaduras. Sobrevivem , depois, como entulho autoritário defendido pelos incompetentes que temem justificadamente qualquer concorrência. O autor do trabalho enfatiza, tentando defender o diploma, que nos Estados Unidos, por exempo, onde não é exigido o diploma para o exercício profissional, 75% dos que atuam na área são diplomados; ou seja, evidencia-se a preferência dos patrões pela contratação dos diplomados. Isto se deve, e se constata numa rápida observação, à qualidade das faculdades de jornalismo. E essa qualidade existe porque há concorrência. As faculdades têm que concorrer com a vida na formação dos jornalistas. Daí, esmeram-se em oferecer ao mercado um profissional melhor que o formado em carreiras empíricas dentro dos órgãos de comunicação. No caso dos países que têm essa legislação ainda submersa no medievalismo ou no autoritarismo, as faculdades funcionam como cartórios: detêm o direito de conferir o grau de jornalista aos seus alunos como uma escritura prévia que lhes permite o acesso ao trabalho, sem o perigo de concorrerem com pessoas igualmente ou melhor capacitadas, saídas não só das várias áreas das ciência humanas, como de qualquer outra; ou ainda, mesmo com apenas o ensino médio. E nós, cidadãos desses países, que já não cremos em lobisomem e papai noel, vamos continuar acreditando que essas faculdades, assentadas comodamente no direito exclusivo de distribuir diplomas (ou permissões de trabalho), vão, por motivação própria, preocupar-se em aperfeiçoamentos que aumentem seus custos?
Voltando àqueles parênteses que coloquei acima sobre a liberdade de expressão, eu diria que o jornalista diplomado, como único porta-voz licenciado e autorizado dessa liberdade em nossa sociedade, tem o seu fim desenhado no horizonte pela internet (seus blogs e seus sites de relacionamentos), e a revolução que ela representa nas formas de expressão do pensamento. A não ser, claro, que os adeptos da obrigatoriedade do diploma iniciem uma campanha para exigí-lo a quem publica seus blogs ou sites.

segunda-feira, 13 de junho de 2011

O AFFAIRE BATTISTI

A Itália reclama do quê?
Manteve o cára preso por APENAS dois anos.
A França até publicou os sofríveis romances dele.
Enquanto que o Brasil, ora o Brasil:
- condenou o cára a prestação de serviços comunitários e a multa de dez mínimos pelo passaporte falso;
- manteve-o na prisão, em regime fechado, por QUATRO anos, apenas na suposição de que seria extraditado.
Aqui tem justiça, viu Berlusconi?

sábado, 11 de junho de 2011

CQC - CARETICE A QUALQUER CUSTO

Não gostaram da piadinha? Pois é esse o nível desse programa.
Será que a veia humorística nacional se esgotou tão completamente, a ponto de surgirem esses necessitados de holofotes a qualquer preço? Trocadilhos infames que, reconheço, assomam à mente de quase todo mundo, mas que as pessoas calam em nome do bom gosto, são vomitados pelo grupo como se fossem as maiores genialidades.
"Helô! Eu sou humorista!", diz um deles. Que falta de autocrítica!
O pior é que, segundo dizem, pagamos royalties à Argentina por uma coisa dessas.

quinta-feira, 9 de junho de 2011

HERÓIS DO FOGO E DA DEMOCRACIA

Quem não nutre admiração pelos bombeiros?
Só o Cabral, o cabra do mal.
Bravos homens que ousam exigir dignidade.
Um saláro de dois mil, quando
os que fogem do fogo ganham vinte, trinta.
Presos, fazem das grades a honra,
e dos palácios os antros da covardia.
Bombeiros presos e bandidos soltos,
é a equação da vergonha.
Rio de Janeiro agonizante,
aproveita e ressuscita
da tua exacerbada violência.
Sacode o jugo dos fascínoras,
estejam eles travestidos
de traficantes ou de autoridades!

SUPREMA CORTE DO BRASIL: ONDE IMPERA A TRANSPARÊNCIA, A DEMOCRACIA E O BOM SENSO.

Transparência, sim, pois, perguntaríamos, quantos membros de supremas cortes pelo mundo ousariam expor-se dessa forma na televisão, discutindo, dando suas justificativas e pareceres, seus votos, suas decisões, em transmissão direta para quem quisesse ver?
Democracia, porque tal transparência permite a todos, cidadãos deste e doutros países, verificarem por si mesmos a liberdade, sinceridade e o respeito com que as justificativas são expressas e os votos dados.
E, finalmente, bom senso, porque nossos ministros da suprema corte, no julgamento de um caso específico como o do Battisti (e independentemente do mérito da ação), souberam definir exatamente a competência dos poderes num estado democrático, ajudando a manter e fortalecer, com a força de suas decisões e a lucidez de suas inteligências, o equilíbrio em nossas instituições.

quinta-feira, 2 de junho de 2011

SAUDADES

Hoje o dia está radiante: sol dominando um céu totalmente azul - a não ser por algumas poucas nuvens próximas do horizonte, que apenas aumentam a beleza.
Só o frio curitibano impede a lembrança da infância.
Às vezes eu mato a saudade, ultrapassando o trópico de Capricórnio e voltando.
Volto ao calor, mas não volto ao sonho...

quarta-feira, 1 de junho de 2011

DOMÍNIO DO INGLÊS

Tanto se fala em "analfabetismo funcional" nas críticas à educação. Tudo bem, não está errado. Mas, hoje em dia, o verdadeiro "analfabeto funcional", de qualquer nacionalidade, é aquele que não domina a língua inglesa. Isto veio, claro, no pacote da hegemonia anglo-saxã. Durante muito tempo a Inglaterra dominou os mares, o que fez sua língua ir se impondo como o código comercial por excelência; apesar de, por vários séculos, o francês permanecer como a língua da diplomacia e da nobresa. Com o declínio das antigas potências européias no início do século XX e a bipolarização do poder entre USA e URSS, seguida da estonteante vitória do primeiro ao final do século, o inglês sobrepôs-se à multipolarização do século XXI, principalmente na infovia (a via que tende a substituir todas as vias).
A guinada do inglês para o francês como língua universal talvez se tenha efetivado na Conferência de Paz que seguiu-se à Primeira Grande Guerra, a guerra que iria acabar com todas as guerras (e a Conferência que pretendia criar a paz permanente, mas que apenas adiou a hecatombe por mais vinte anos). Pelo menos é o que se depreende da leitura de um trecho do livro "Paz em Paris - 1919", da historiadora Margaret MacMillan, bisneta de Lloyd George:

"Depois de muita briga, ficou decidido que o francês e o inglês seriam as línguas oficiais para os documentos. Os franceses queriam só a sua língua, argumentando abertamente que era mais precisa e, ao mesmo tempo, tinha mais nuances que o inglês, mas na realidade não desejavam admitir que a França perdia posição entre as grandes potências. O francês, diziam eles, vinha sendo, por séculos, o idioma das comunicações internacionais e da diplomacia. Os ingleses e americanos ressaltavam que sua língua aos poucos suplantava o francês. Lloyd George revelou que sempre se arrependeu de não saber francês um pouco mais (quase não sabia nada), mas que, para ele, era absurdo que o inglês falado por mais de 170 milhões de pessoas não tivesse status idêntico ao francês. Os italianos declararam então que, nesse caso, por que não também o italiano? "Senão", disse o ministro do exterior Sonnino, "a Itália parecerá tratada como inferior, quando se exclui seu idioma". Sendo assim, disse Lloyd George, por que não também o japonês? Os delegados japoneses, que davam sinal de mal acompanhar o debate em francês ou inglês, permaneceram calados. Clemenceau cedeu, para consternação de muitos de seus próprios auxiliares".
E cedeu para sempre. Dia desses anunciaram o fechamento da biblioteca francesa em São Paulo.
Nem é preciso explicar a ausência do alemão e do russo no diálogo, uma vez que, nessa data aí, essas duas potências estavam dilaceradas, uma pela derrota, outra pela revolução.

segunda-feira, 30 de maio de 2011

ANA DE HOLANDA

Ela é a vítima atual dos egos infeccionados de uma porção de "artistas" e "intelectuais".
Talvez daqueles que não criam o suficiente para se sustentarem e precisam de cargos públicos ou nos escritórios da guilda que os protege.
É certo que o intelectual, se o quisermos eficiente, deve ter ampla e irrestrita liberdade de pensamento. E é justificável que isto o torne dependente, mais que outros cidadãos, do egoísmo, ou do egocentrismo. Daí que o meio intelectual, seja o artístico ou o científico, é um campo minado de orgulhos feridos, ressentimentos, paranóias, e ingredientes semelhantes. Principalmente porque, como diz a música do Juca Chaves, "existe um só Beethoven prá mil Carlos Imperial". Quantos compositores existirão para um Chico Buarque? Quantos sociólogos com cargos comissionados para um Darci Ribeiro?
Então, compreende-se as boas e más intenções que comburem a fritura da Ana.

quarta-feira, 25 de maio de 2011

CÓDIGO FLORESTAL

Nessa celeuma toda em torno da aprovação do novo Código Florestal, que limita bastante o acesso aos rios, alguém está pensando no aspecto lazer?
Sim, porque o pessoal do PV e das ONGs vivem em Ipanema, com aquele marzão todo à disposição. Não sabem que no interior do Brasil, principalmente nas regiões mais quentes, o lazer nos rios é gênero de primeiríssima necessidade. Tem que deixar prainhas, tem que permitir o barranqueio dos pescadores de fim de semana, tem que permitir o acesso aos barcos e aqueles equipamentos motorizados de nome inglês. Enfim, tem que permitir a nós, os pobres, a frequência ao rio; senão, nós vamos invadir sua praia.

DESENVOLVIMENTO DO BRASIL

Vendo a quantidade de obras inacabadas, a impossibilidade de construirmos a infra-estrutura de uma copa do mundo, as usinas impedidas e empreendimentos industriais coibidos, sou levado a pensar que o Brasil está fadado ao "em desenvolvimento". Nossa ascenção ao status de "desenvolvidos" era emperrada pela corrupção, e, agora, bloqueada pelo combate à corrupção. Talvez corrupção seja como a inflação: muita, explode; nenhuma, paralisa.

sexta-feira, 20 de maio de 2011

PERGUNTA INDISCRETA

Eu pergunto (já que não tenho, nem pretendo ter, autoridade para interrogar) a essas autoridades não eleitas que percebem salários 25 ou 30 vezes o salário de um professor primario, e ainda se julgam mal remuneradas, eu pergunto, face certos absurdos como o relatado pela professora do link ao lado (um promotor fiscaliza a escola e a "tremenda irregularidade" que aponta é que os pobres professores pegavam carona num pratinho de merenda escolar), e face aos aumentos abusivos de pedágios com apoio da justiça, e outras cositas más, eu pergunto se essas tais autoridades pagariam o que lhes paga a sociedade a alguém que trabalhasse para elas o tanto que elas trabalham para a sociedade.

quinta-feira, 19 de maio de 2011

DEPOIMENTO DE UMA PROFESSORA BRASILEIRA

Vejam no canto superior direito da página o link para o depoimento dramático de uma professora brasileira. Vejam quando ela se refere ao fato de que a autoridade que fiscaliza a lei, quando faz fiscalização da escola, a irregularidade que ousa encontrar é que a professora também está comendo da merenda que se destina aos alunos (Na certa, todo o resto vai bem, obrigado!) As professoras que são "denunciadas" pela autoridade por participarem do cuscuz com os alunos recebem um salário mensal de R$960,00; a autoridade que encontrou essa "imensa" irregularidade (e, pelo jeito, não viu mais nenhuma) recebe um salário mensal de R$25.000,00! É bom nem lembrar o salário do legislador.
Veja o vídeo; e depois durma tranquilo... se puder.

domingo, 15 de maio de 2011

DOIS PESOS, DUAS MEDIDAS?

No caso do metrô do Higienópolis a prefeitura e seu preposto fizeram a lição de casa: consultaram a comunidade local sobre a instalação de uma estação do metrô, a população local(repito) foi contra, optaram pelo mais racional. Ou não é mais racional uma estação a cada quilômetro, do que uma em quinhentos metros e outra a quilômetro e meio? A mídia fez um barraco hipócrita (será que todo "politicamente correto" não é também hipócrita?) e, não deu outra: o onipotente e onipresente "ministério público" imediatamente detetou o holofote midiático e baixou no pedaço, a fim de defender "os interesses de um número maior" contra uma "minoria insignificante"; assim se expressou o promotor presente, esquecendo-se que seria esta minoria a pagar diretamente e em maior dose o preço do suposto conforto à maioria.
Já quando o país precisa contruir uma base de lançamentos para ter seus próprios satélites e diminuir a evasão de divisas pagando satélites americanos, ou quando precisamos de uma hidrelétrica para que não ajam apagões de energia, empreendimentos que beneficiam, ou até salvam, toda a população da nação (não uma "simples maioria"), o mesmo "ministério público" interfere alegando defender uma minúscula comunidade quilombola ou alguns "índios artificais" (porque, geralmente, trazidos de outros lugares por antropólogos, com a desculpa do nomadismo, mas com a indisfarçável estratégia de "ocupar espaços").
Afinal, defesa do politicamente correto, ou necessidade de aparecer?
(Como eu sempre digo: ainda bem que ninguém me lê... senão eu entrava em cada "lista de indesejáveis"! (já que não seria politicamente correto usar o tradicional "lista negra").

segunda-feira, 2 de maio de 2011

A HUMANIZAÇÃO DA GUERRA?

A Al Qaeda adota uma estratégia de guerra que os países abandonaram desde 1945. Lembremos que até então, e durante mesmo este último grande conflito mundial, aceitava-se como válido o bombardeio das cidades, das populações civis. Veja-se a destruição das cidades alemãs, e as bombas atômicas nas cidades japonesas. O objetivo era claro: lançar a opinião pública dos países atacados contra seus próprios governos, ou, ao menos, levá-la a exigir a paz, uma vez que era a população, e não o príncipe, quem estava pagando a maior parcela da conta. Dessa forma, minavam-se os esforços de guerra do inimigo.
Com a criação da ONU e dos tribunais internacionais, o Estados passaram a conter-se nessa estratégia. Já os terroristas, por não serem Estados, por se insurgirem contra toda a ordem internacional, sentem-se livres para herdarem a tática. Por isso os alvos mais recentes da Al Qaeda não são propriamente instalações militares ou edifícios de Estados. São as populações civis. Se num passado recente atacaram embaixadas e porta-aviões, neste século, apenas prédios civis, como as Torres Gêmas, e estações de trem e metrô. E, tudo indica que seguirão nesse caminho. O ataque às populações civis, com aquelas aberrações chamadas homens-bomba, dissemina o mêdo e a insegurança, aumentando a decepção e a desconfiança do cidadão em relação ao Estado.

ENQUANTO ISSO, ALHURES...

Obama matou Osama...

terça-feira, 26 de abril de 2011

LEGISLADORES, JULGADORES E PROMOTORES: UNIDOS CONTRA O POVO?

Como se vê, por este Brasil a fora, esqueletos de obras!
Onde havia uma cancha esportiva, pequena mas que servia à comunidade, agora se vê o enorme esqueleto de um ginásio de esportes inacabado, em ruínas, utilizado impunemente por moradores de rua e consumidores de craque.
Ora é um pequeno erro na licitação, ora um desvio de verba, as desculpas se sucedem e permitem às "otoridades" paralisarem obras e mais obras e elevarem seu orgulho de ilegítimo poder.
E o povo é punido quantas vezes? Vejamos.
Primeiro, tem que sustentar os salários e mordomias dos senhores do Estado.
Segundo, vê os impostos pagos com seu dolorido suor esvair-se no erro ou na corrupção.
Terceiro, fica sem o bem de uso público: seus filhos empilhados por falta de escola, doentes por falta de hospitais, e sem laser por falta dos ginásios; todos em obras paralisadas pelos orgulhosos e obesos senhores do Estado.
Quarto, perde a segurança por ganhar em sua vizinhança um antro de vício e desvios tratados com complacência pelos mesmos senhores citados.
Quinto, vê suas propriedades se desvalorizarem ou se tornarem invendáveis pela proximidade daquele desastre que é o enorme esqueleto de obra inacabada albergando marginais protegidos da lei e da desordem.
É pouco? E os envolvidos, os que deveriam ser realmente punidos?
Esses, com bons advogados, sócios na ilegítima legislação vigente, rebolam entre os recursos, agravos, desagravos, e outros trâmites espúrios, e permanecem impunes.

Se houvesse um pouco, um pouco só que fosse, de bom senso e inteligência entre os senhores do Estado (todos: legisladores, julgadores, promotores, executores, et caterva) as coisas seriam diferentes. Afastavam e processavam o incompetente que errou na licitação, ou o desonesto que desviou fundos, e passavam a continuidade da execução da obra para outro executor, outro órgão, outra instância, ou um interventor. Mas, não puniam o povo!

sexta-feira, 15 de abril de 2011

A FLORESTA

Eu consigo imaginar como deve sentir-se o índio quando lhe tomam a floresta.
Dos sete aos quatorze anos vivi numa cidade cercada de florestas.
Havia uma em especial, que começava atrás da máquina de café do meu tio,
e se estendia até o início dos cafezais e de um campo de pouso.
Eu e meus amigos vivíamos a explorá-la...
Vários anos depois eu voltei lá, mas a floresta já não existia.
Confesso que chorei.

quinta-feira, 7 de abril de 2011

GEMA, GEMA, GEMA...

Lembram da brincadeirinha de infância? -"Diga: gema, gema, gema..." -"Como é que chama a clara do ovo?" -"Gema!"
Assisti a entrevista do Bolsanaro naquele programa argentino e, o que notei, foi isso. Fizeram uma série de perguntas sobre homossexualismo; e, todo mundo sabe que ele é homofóbico; no final, a filha do Gil vem e pergunta o que ele faria se seu filho namorasse uma negra. Como toda comunicação tem ruídos; além do quê, é comum entrarmos em armadilhas quando o assunto muda bruscamente; não deu outra: tenho certeza de que o cara entendeu "se seu filho namorasse um gay".
Basta atentar para a resposta dele: "meu filho não corre o risco dessa promiscuidade, porque não vive num ambiente como lamentavelmente é o teu!"
Pelo jeito ele é homofóbico, mas, não racista.
Só que as pessoas fingem que entendem o que lhes interessa entender...

quarta-feira, 6 de abril de 2011

E NÃO ENTENDO TAMBÉM O QUE OUÇO!

Alguém viu na tv o caso das tornozeleiras usadas pelos States nos condenados autorizados a trasitarem por aí, que, importadas para o Brasil, aqui não deram certo?
Deu na Globo.
Dispensa comentários tamanho absurdo...

domingo, 3 de abril de 2011

EU NÃO ENTENDO MAIS O QUE LEIO!

Parece que eu li na IstoÉ dessa semana que os nossos nobres juízes pretendem entrar em greve no próximo dia 27 se não aumentarem seus salários dos míseros R$26.000,00 mensais que recebem, para R$30.000,00 mensais! Quem será essa autoridade cruel que se recusa a pagar-lhes R$360.000,00 por ano, e quer obrigá-los a continuarem com seus parcos R$312.000,00 anuais? Aliás, parece que são "autoridades cruéis", no plural, porque a mesma notícia dizia que os juízes pretendem processar os congressistas por omissão, se eles não votarem o tal aumento. Já vimos tudo? Imaginemos, então, uma sentença judicial determinando no quê alguém deva votar!

Falar em sentenças, lembro de decretos; e lembro de uma história bastante conhecida e repetida de que o Imperador do Japão, no século XIX, ao traçar a estratégia para sua nação alcançar rapidamente o desenvolvimento técnico e industrial do ocidente, determinou, decretou, que ninguém poderia ganhar mais que o mestre-escola. Todo mundo sabe que esse era o nome do professor primário na época; hoje em dia, também conhecido como "professor do ensino fundamental". E fez mais: como todo mundo era obrigado a reverenciar o Imperador, ele decretou que dali em diante o mestre-escola seria o único ser dispensado dessa reverência; e, mais ainda: o Imperador é quem se curvaria em reverência ao professor primário.

Já pensou se os nossos congressistas resolvessem realmente catapultar nosso país para o rol dos desenvolvidos, e fizessem um decreto semelhante: ninguém, nem mesmo um juiz, poderá ganhar mais que um professor primário? E, mais, determinassem que os juízes ficariam obrigados a chamarem os professores primários de "meritíssimos" e "excelências"?

Mas, como tudo vai ficar do jeito que está, eu fico pensando se esses mesmos juízes terão coragem, a partir de maio, de decretarem a ilegalidade de uma greve dos professores primários pleiteando elevação do seu piso salarial de R$600, para R$900. Ou mesmo de R$1.000 para R$1.500, no caso de Curitiba, que é o maior do Brasil.

E o bobo aqui fica comentando essas coisas, arriscando se indispor com gente tão nobre e operosa. Seguramente, eu não li direito a notícia. Ou, como se trata da primeira semana de abril...

sexta-feira, 1 de abril de 2011

ALGUNS DAQUELES TAPAS AMIGOS NA CARA PARA ACORDARMOS...

"A auto-estima elevada pode ser prejudicial para você e para os que lhe são próximos. Pense sobre o seguinte: quando falta a alguém a capacidade de autocrítica, ele pode atropelar os sentimentos dos outros - ou seus direitos- sem remorsos".
"A culpa é uma emoção nobre; a pessoa que não a sente é um monstro".
(Paul Pearsall)

LILIPUTIEDADES

Conheço um país que se julga uma democracia porque possui três poderes.
Assim como uma área aqui perto que se julga uma floresta porque tem três esquilos;
e um vizinho mais adiante que se julga um agro-negociante porque tem três porquinhos.
Os três poderes são: o poder eleito; o poder corporativo; e o poder sacerdotal.
O poder corporativo é o mais forte; realmente, um poder; últimas instâncias de qualquer suplicação individual ou coletiva. E, dentro dele, as corporações mais poderosas são a dos defensores regulamentados -- única alternativa imposta aos que suplicam ao poder sacerdotal --, e a dos noticiadores e comentadores regulamentados -- porta-vozes e mediadores das vontades populares de expressão. Todos estes, devidamente formatados no ensino oficial, e registradinhos em suas ordens, associações e sindicatos. A dos defensores regulamentados ganhou assento -- e acento -- até num texto confuso e prolixo que o tal país chama de constituição. A dos noticiadores não tem tal assento -- nem acento -- mas mete medo. Os membros do poder eleito e do poder sacerdotal são, usualmente, altaneiros e arrogantes com o populacho e até entre si. Mas, quando um membro da corporação dos noticiadores entra pela porta, qualquer membro dos outros poderes salta pela janela. Todos têm medo da imagem que podem projetar sobre filhos, parentes, vizinhos, ou para a posteridade. Além dessas duas, existem as corporações dos diagnosticadores e curadores, dos construtores, dos guerreiros, e outras. Todas juntas talvez consigam poder equivalente àquelas duas.
O poder sacerdotal é composto dos julgadores e dos provocadores de justiça. O que o faz sacerdotal é a total independência em relação aos cidadãos mantenedores -- e quem é mantenedor compulsório é, na verdade, um servo. Seus quadros são completados -- para não dizer locupletados -- por eles mesmos, pelos mais antigos, em concursos internamente preparados; e as chefias em listas sêxtuplas, que se tornam tríplices, e acabam unas; assim como a fixação de seus vencimentos. Nesse tal país ninguém nota que todo salário fixado arbitraria e autoritariamente pelo próprio servidor torna-se uma extorsão. Outra característica da sacerdotalidade é a forma mística e sacralizada com que exigem serem tratados, prenhe de deferências e palavras terminadas em íssimo. Devem ser tratados da mesma forma temerosa e respeitosa que, instruem os delegados, deve o pobre cidadão mantenedor tratar o marginal que lhe aponta a arma na hora do assalto. Vejam vocês, o poder de ingerência é tanto que um educador, doutrinado por Rousseau, Pestalozzi, e tantos outros, no momento de subsidiar a formação de um educando, deve pedir autorização para um julgador que nunca leu Freud ou Piaget. Um diagnosticador-curador, para sua própria sobrevivência, deve dar mais atenção aos formulários e prontuários exigidos por um provocador de justiça, do que ao pobre paciente. Quem manda pertencerem a corporações mais fracas.
Finalmente, o poder eleito; sempre relacionado em primeiro lugar mas que possui menos poder dentre os três. Talvez até possa ser chamado de poder otário. Sua vertente executiva é constantemente achincalhada pelo poder corporativo e acuada pelo poder sacerdotal, tendo, não obstante, que trabalhar servilmente para sustentar a ambos. Sua vertente legislativa vive pressionada entre as ameaças e gritos do poder corporativo -- que exige essas ou aquelas leis em seu benefício --, e as ingerências do poder sacerdotal -- que lhes cancelam as leis, ou decidem sua aplicação e seu âmbito, deformando-as com um aferidor fajuto de constitucionalidade.
O povo desse tal país, coitado, sustenta tudo isso com seu suado trabalho diuturno e não tem poder nenhum; pois o seu mísero poder é eleger o poder eleito, dentro das regras e interpretações impostas pelo poder sacerdotal, que também possui o poder de recompor o quadro dos supostamente eleitos, baseados em fichas sujas ou limpas que eles mesmos preencheram adredemente. Além de, esse tal povo, ir à eleição sob uma massacrante manipulação orweliana -- para não dizer goebelsiana -- por parte do poder corporativo, especificamente a corporação dos noticiadores e comentadores.

Well, ainda bem que esse país não é o nosso. E que ninguém leva a sério o que eu escrevo. Afinal, hoje é primeiro de abril.

quinta-feira, 17 de março de 2011

TROCOU DE COMBUSTÍVEL, O CARRO NÃO PEGOU?

Não sei como acontece com carros de ricos (assim, digamos, 1.6, 1.8, 2.0, etc.), mas, com carro de pobre, ou seja, 1.0, acontece muito. O feliz comprador confia no total flex inscrito no carro e resolve trocar o álcool pela gasolina, ou vice-versa. Guarda o carro na garagem e, na próxima partida: nada; o carro está afogadinho.
Não está no manual, nem na conversa de vendedor nenhum, mas não é assim no ôba-ôba que você pode escolher o combustível do seu carro. Existe um ritual que me foi revelado pelo rapaz do guincho (já que o cidadão descobre isso geralmente ainda na garantia).
Primeiro, você tem que esperar chegar na reserva. Não pode tentar o meio-a-meio, nem próximo disso. O álcool chegou na reserva, você já pode tentar a gasolina; ou claro, vice-versa.
Segundo, você tem que rodar, no mínimo, 12 quilômetros antes de desligar. É isso mesmo! Portanto, atenção: não tente a troca de combustível a menos de 12 quilômetros de casa. Isto, explica o rapaz do guincho, porque você tem que dar tempo ao sensor para ele se alfabetizar no novo combustível. Só após os tais 12 quilômetros, ele consegue "ler" o novo combustível.
Esse mesmo problema de leitura exige a primeira medida do ritual: se está meio-a-meio, o sensor não consegue "ler" quais são suas intenções, e, em consequência, não "autoriza" a entrada do novo combustível.
É bem isso mesmo. Agora compreendo porque uma garçonete teve tanta dificuldade em "ler" meus desejos em Nice, quando eu usei com ela um "mix" de inglês, francês e italiano.

quarta-feira, 16 de março de 2011

QUEM SABE?

Eu não só sei que nada sei,
como sei que cada vez sei menos ainda.
Nada mal, sei mais que o velho Sócrates.

segunda-feira, 14 de março de 2011

IMORALIDADES

Todo mundo vive dizendo que nossos políticos são imorais.
Todo mundo sabe, também, que são nossos políticos que fazem nossas leis.
Então, nossas leis são imorais também, já que são feitas por políticos imorais?
E, se nossas leis são imorais, e nós nos submetemos a elas, impomos, portanto, aos nossos conterrâneos leis imorais, então, somos imorais também?
E, sendo, assim, nós, como legítimos imorais, elegemos políticos imorais, que fazem leis imorais, nas quais deleitamos nossa imoralidade.

sábado, 12 de fevereiro de 2011

IGREJA LAICA E DESBATISMO

A novidade, nos arraiais de língua inglesa dos brejos da cruz, é a meninada, ao aderir ao ateísmo, se desbatizar. Aproveitei a imagem do poeta sobre os brejos da cruz porque, como todos sabem, nos brejos da lua crescente quem se torna ateu nem pensa em desbatismo, pois é logo desencarnado pelo fio da adaga. O fato é que basta lançar a palavra no Google ou no Youtube e encontraremos lá as cerimônias, promovidas por um ou outro líder dos ateus convictos e militantes.
Eu acho uma boa, essa de desbatismo; e atende uma demanda. A demanda das pessoas que foram batizadas ainda bebês, ou crianças pequenas, sem, portanto, condições de decidirem em que deus ou em que deuses iriam crer. Chegados à fase adulta, incursionando pela razão e pela ciência, não encontram o deus sorvido no leite materno ou nas prédicas paternas, e querem livrar-se de um compromisso que não escolheram, que assumiram por eles.
Mas, pensando bem, não seriam só os ateus interessados nessa cerimônia. Ela deve interessar também aos crentes. Já se vão longe os tempos em que todos tinham que adotar a religião do príncipe e, hoje, graças a Deus, podemos ser até ateus, ao menos no mundo ocidental. Assim, troca-se de religião, de seita ou de igreja com a facilidade com que trocamos o programa do final de semana. Ao mudar de igreja, o cidadão batiza-se, mas como era já batizado na outra, fica com dois batismos, às vezes três, ou até quatro. Algum pastor pode escandalizar-se com isto e decretar que não precisa um novo batismo para ingressar em sua igreja, se o neófito já o foi em outra denominação cristã qualquer. O que poderá gerar duas categorias de adeptos, os que foram batizados aqui mesmo, e os que assim já chegaram, e com isto o nhenhenhem da ciumeira e concorrência pelos favores divinos.
Tudo isto pode ser evitado se o interessado, quer por se tornar ateu, quer por adotar outra religião e desejar livrar-se do compromisso anterior para chegar pagão e zerado ao novo altar, tiver acesso, sem exclusão, ao desbatismo.
Fica, portanto, a sugestão para pessoas corajosas, ousadas e batalhadoras, atentarem para esse novo nicho do mercado, e se estruturarem para atender a essa demanda.
Sugiro que criem uma igreja laica, onde na qualidade de líder, pastor, sacerdote, sindico, ou que nome queiram adotar, oferecessem tal prática aos interessados. Claro que a cerimônia teria que ter toda a pompa e o estardalhaço devido, para impressionar a vítima tanto quanto a outra, a do batismo. O ser assim renascido pelo desbatismo, poderia, então, correr livre e feliz, virgin-again, para adquirir um novo batismo em sua nova crença. Ou, melhor ainda, integrar-se, como laico ou ateu, à igreja laica, e passar feliz o resto dos seus dias participando de rituais onde comeria o sacramento da batata frita e beberia o sangue do seu deus em forma de vinho ou cerveja.
Como digno é o trabalhador do seu salário, o fundador da igreja e executor da cerimônia, seria, claro, recompensado com as espórtulas daí decorrentes; e as propriedades, principalmente as picapes, que adquirisse com a labuta honesta deste novo e exótico templo ostentariam um decalque com os dizeres: "não é propriedade de deus nenhum". (A exemplo do caminhoneiro que, não querendo perder a onda de dísticos religiosos, escreveu simplesmente, no parachoque do seu caminhão: "se o mundo fosse bom, o dono estaria nele").

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

?POR QUÉ NON TE CALAS?

Todo mundo reclama dos "políticos".
Os programas humorísticos se sustentam em piadas sobre os "políticos".
Os sites de relacionamento, as caixas de e-mails, os blogs, transbordam de anedotas, queixas e denúncias sobre os "políticos".
Ora, toda crítica aos "políticos" é, na realidade, uma autocrítica.
Nós somos os "políticos". Nós os elegemos de dentre nós mesmos.

Que análises, que elocubrações, que tipo de justificativas elaboras no momento de dar teu voto a alguém para um cargo "político"?
Votas em quem te dá um emprego, ou um emprego ao um teu parente, ou te dá o telhado, ou uma casinha na invasão, ou seja lá que ganho pessoal?
Ele dá o que pediste, e está quite contigo. Não tens mais nada a reclamar.
Votas pelo teu bairro, pelo asfalto de tua rua, pela pintura da tua escola?
Ele faz o que pediste, e está quite contigo. Não tens mais nada a reclamar.
Votas pela tua cidade, para que ele traga a ela o que não trará às outras?
Ele defende a tua cidade, e está quite contigo.
Não tens que reclamar se o restante do tempo ele usa em leis estapafúrdias para agradar certos segmentos da sociedade, ou vota nos projetos dos outros, para ajudar as cidades dos outros (onde não conflita com a tua, claro!), ou vota para sustentar governos, mesmo que para isto ele receba mensalões ou mesalinhos.

Quando votares para vereador, não para que ele cuide da tua rua ou seja o agente de teus interesses e queixas junto ao executivo, mas porque ele é capacitado para elaborar as leis e posturas municipais, porque ele sabe fiscalizar o orçamento e as aplicações do prefeito, porque ele tem condições de analisar e vetar ou aprovar os projetos necessários à tua cidade, pouco terás a reclamar.
Quando votares para prefeito em alguém que não precisa de vereadores para lembrar-lhe as obrigações, alguém que possui histórico de honestidade e independência de pensamentos, palavras e ações, pouco terás do que reclamar.
E para deputado? Quando votares em alguém que sabe fazer e alterar as leis em benefício de toda a sociedade, que não dobra a espinha a guildas, corporações de ofício, classes quaisquer, mas vota e fiscaliza no interesse de todos, não terás muito o que reclamar da tua vida.
Quando deixares de ser tão crédulo e de te comportares como rebanho ante jornalistas arrogantes que servem-se de homens públicos pusilâmines como escadas para atingirem seus picos de audiência, e passares a pensar com a tua cabeça, talvez consigas votar a teu favor.
Mas, se queres persistir em tua burrice ou irresponsabilidade cívica diante da urna, sigas ao menos o conselho do rei: ?por qué non te calas?

domingo, 12 de dezembro de 2010

O CHOQUE DE ORDEM

A tomada dos antros de traficantes pela polícia aliada com as forças armadas agiu como uma injeção de auto-estima na alma dos brasileiros. Foi um "11 de setembro" ao contrário. Da depressão em que nos arrastávamos causada pela sensação de impotência ante a crescente criminalidade, passamos a um "nós podemos!" que descortina um futuro viável ao nosso país. A aceitação popular foi de uma unanimidade equivalente à copa do mundo.
Numa roda de amigos, onde se joga conversa fora, ensaiei uma infeliz crítica insinuando um fracasso militar da operação porque deixara vazar muitos bandidos e armas: as reações foram como se eu tivesse ousado criticar uma seleção que trouxesse vitoriosa um caneco. Reciclei imediatamente o papo, aliviando o prejuízo, mas, gostei. Ficou-me claro que o sentimento de guapecas que costumava nos unir, foi substituído por um sentimento nacional de união em torno de desejos e poderes de construírmos um país onde impere a lei e onde os direitos de todos são sustentados pelos deveres de cada um.

INVESTIGADORES

O que faz com que a polícia e o ministério público invistam tempo, dinheiro e tutano em teses acusatórias que não resistem nem à logica, nem aos fatos? Principalmente nos esforços para entronizar um mandante do crime próximo às vítimas: empacam como burros velhos, juntando os cacos da tese continuamente espatifada. Que desejos mórbidos de que famílias se trucidem os movem? Na literatura policial inglesa o primeiro suspeito era o mordomo. Na realidade tupiniquim é o marido, a esposa, o filho ou a filha. Que obviedade muar!
Mas eu sei o que é. Participei muito de comissões de sindicância, sei como as pessoas ficam. É o equivalente a uma dor de corno; uma fobia de serem enganados, de serem feitos de bobos pelo suspeito; medo de que ele se ria da sua inteligência. Daí, tendem a ver evidências em ilusões, e alimentam uma certeza paranóica sobre a perpetração do delito. Principalmente se os seus cérebros minados por conflitos edipianos ou amenos distúrbios neurológicos estranham certas respostas do infeliz interrogado.

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

PARABÉNS, MINISTÉRIO PÚBLICO!

O Ministério Público Federal deu uma bola dentro ao exigir que a Band e o Datena se retratem da lambança que fizeram ao provocar o ódio religioso contra os ateus. Recentemente, esse apresentador atribuiu a crescente criminalidade ao ateísmo. Ou seja, retrocedeu cinco séculos em inteligência, sociabilidade e política.
Se o apresentador usasse de um pouco de racionalidade, teria feito uma pequena amostragem nos presídios, entre os condenados por diversos crimes, e verificado o percentual de ateus. Seguramente é inferior ao de devotos.
A liberdade de pensamento, mantenedora da liberdade religiosa, é uma conquista que custou penas, vidas e sofrimentos. É um bem muito valioso para que um apresentador de televisão venha atacá-lo impunemente.
Tenho criticado, às vezes, o MP pelo seu corporativismo, pela sua exagerada independência da sociedade e pelos altos salários dos seus integrantes. Também pela sua exagerada ingerência em todos os passos dos cidadãos.
Mas, é claro que certa independência é necessária para que os promotores não se intimidem; e a ingerência deles em todas as áreas mantém a aplicação das leis. Os legisladores que façam leis melhores se essa ação incomoda. E, depois, eles não agem sozinhos; suas ingerências vão a julgamento do judiciário, para só depois efetivamente influenciarem nossas vidas.
No presente caso, a liberdade, independência e prontidão dos procuradores, nos salvará do retrocesso que poderia ocorrer pelos erros de quem tem um trombone nas mãos, como o apresentador de televisão.
Não sou ateu; mas, morro (nem tanto, claro) defendendo o direito de quem quiser sê-lo.

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

O ETERNO RETORNO?

Quando vocês lêem aqui que no futuro teremos eleições diretas para juízes e promotores, que os impostos arrecadados ficarão em sua maior parte no local de arrecadação, seguindo para estados e união apenas a contribuição da comunidade, vocês acham absurdo e dão uma risadinha de pena. Não se preocupem, nem se julguem diferentes. Era exatamente assim que reagiam as pessoas de bom senso, no século XVII, quando alguém dizia que era possível um pais existir sem um rei.

domingo, 14 de novembro de 2010

O FUTURO DO BRASIL

Que tal deixar para seus filhos e netos um país que não passará de um entreposto comercial? Sim, um país inteirinho só com estabelecimentos comerciais. Compraremos e venderemos. Talvez tenhamos alguma produção, mas, sempre o será de produtos desenvolvidos pela humanidade livre, pelos quais pagaremos altíssimos direitos.
Por que? Por causa das burrices de quem faz leis, e, mais ainda, de quem fiscaliza e aplica tais leis.
Como teremos cientistas, pesquisas, criatividades e criações, se nossos jovens são reprimidos até no elementar trabalho escolar ou acadêmico de coletar e classificar insetos? Antes, nos tempo em que éramos donos de nosso país, e este era livre, qualquer professor de biologia determinava um trabalho de coleta e classificação, desde o colegial até a falculdade, quiçá no pós. Hoje, uma burocracia que só alimenta os altos salários de fiscais de órgãos ambientais e promotores, cria tantos obstáculos que se torna muito mais seguro colocar os alunos para pesquisar na internet as descobertas alheias, feitas pelos povos livres. Ou é prá justificar salários, ou essas pessoas têm cérebros tão reduzidos que concebem a possibilidade de trabalhos dessa natureza extinguirem os insetos!
Tudo é criminalizado: justificando os salários da repressão e garantindo os honorários da defesa.
Cada povo tem o futuro que merece!

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

DIRETAS JÁ!

Veja o que saiu na imprensa hoje:

"A Coordenação da Organização das Nações Unidas (ONU) no Brasil divulgou nota técnica em que defende a Teoria de Resposta ao Item (TRI) como uma metodologia que permite a elaboração de provas diferentes para o mesmo exame, que podem ser aplicadas em qualquer período do ano, para grupos diferentes, com o mesmo grau de dificuldade".
E mais:
"Na nota, a ONU diz que a TRI tem 'amplo respaldo na literatura científica internacional' e é utilizada em um 'conjunto importante de avaliações conduzidas por organismos internacionais'. A Organização cita como exemplos o Programme for International Student Assessment (Pisa), realizado pela Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE), e o Literacy Assessment and Monitoring (Lamp), iniciativa do Instituto de Estatística da Unesco".
E finaliza:
"Vale ressaltar ainda que a metodologia da TRI prioriza o uso de habilidades reflexivas e analíticas em detrimento à memorização de conteúdos, o que representa um avanço importante em relação a outros modelos de avaliação".
Mas, não adianta, nosso aiatolá de plantão é teimoso como uma mula (sem ofensas, apenas uma analogia com o temperamento desse valioso animal de carga):
"Para o procurador da República no Ceará Oscar Costa Filho, que moveu ações pedindo a suspensão e a anulação do Enem, o MEC quer transportar o princípio da TRI - de permitir provas comparáveis ao longo do tempo - para usá-lo na elaboração de um concurso público, ferindo a isonomia entre os candidatos. 'Relativizar o resultado de um vestibular é gravíssimo e atenta contra os direitos humanos', afirma".

Além de se insurgir contra a ciência e o desenvolvimento tecnológico atestados internacionalmente -- tal como o faziam os inquisidores com Galileu --, o cára se arroga uma realeza maior que o próprio rei: entende mais de direitos humanos que a ONU, organização que tem tais direitos como sua razão de ser.
Sempre me pareceu que, do jeito que está, o MP lembra bem a inquisição, metendo-se na vida de de todo mundo, com a desculpa de "fiscalizar as leis".
Mas, otários somos nós que pagamos um altíssimo salário para o rapaz.
Por isso, repito, "diretas já, prá promotor e juiz!"
Se o meu barbeiro fosse eleito promotor, não faria uma lambança dessa.

Agora, e o ministério da educação? Tá esperando o quê? O promotor recorrer e suspender de novo? Se o gabarito iria inicialmente ser divulgado na terça, não era para estar pronto? Então, por que a demora?

Parece que precisamos de "diretas já!" também para os ministérios do executivo...

VITÓRIA DA RAZÃO

Quem dera fosse sempre assim. Na questão do Enem prevaleceu o bom senso e a razão. A liminar que pretendia causar um imenso prejuízo aos cofres públicos e à vida de milhões de alunos, motivada pela ignorância do promotor em matéria de avaliação científica, foi derrubada.

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

INTERVENÇÃO DO JUDICIÁRIO

Podem constatar no Estadão de hoje (lido por mim no MSN), não sou só eu que o digo. Diversos especialistas em educação, comentando as dificuldades e soluções para o ENEM, concluem que as principais trapalhadas que travam o bom desenvolvimento do nosso país, são as exageradas intervenções do judiciário em assuntos acadêmicos e científicos. A mim, simples cidadão, subalterno por lei a todos esses poderosos senhores, parece-me (digo, parece-me, portanto não é uma afirmação), que o nosso aparato jurídico se envolve nesses assuntos para fugir de suas obrigações no combate ao que é realmente crime: drogas, homicídios, assaltos, etc., de onde, talvez, saíssem machucados.
Agora, sem querer ofender ninguém, mas, não lhes parece que o nosso judiciário -- melhor seria, talvez, dizer, os nossos "operadores do direito", para incluir aí não só juízes, como também promotores e advogados --, lembram bem os aiatolás do Irã?

terça-feira, 9 de novembro de 2010

O ESTADO TRAPALHÃO

O Estado todo, com todos os seus ilegítimos (porém legais) poderes.
Desde o congresso constituinte, a maior fraude da história do mundo que um dia será amplamente revelada, até as leis esdrúxulas que ele perenizou. E os poderes constituídos pela fraude.
O executivo faz uma nova trapalhada no Enem. Mas, convenhamos, desta vez foi uma trapalhada pequena: um erro de 0,0003%; facilmente corrigível. Corrigível, se tivessem tempo de o fazer, como em qualquer nação civilizada, se não entrasse em cena ("em cena", esta expressão é apropriada) as trapalhadas dos "operadores do direito"; que não têm a obrigação de conhecer as teorias matemáticas de avaliação pedagógica, mas poderiam ser mais humildes, ou menos gananciosos de mostrar poder, e consultar os especialistas da área.
Agora, um universo superior a três milhões de estudantes que se esforçaram e confiaram nas instituições está ameaçado de prejuízo por causa da precipitação dos nossos "juristas" que não estão nem um pouco atualizados com as teorias modernas de aferição, e, aferrados aos seus arcaicos conhecimentos clássicos de geração de testes e concursos emperram a máquina educacional do país, e lançam no descrédito o sistema que nos livraria da desgastada indústria dos vestibulares. E bastaria a esses senhores e senhoras, que têm em suas canetas o poder de travar qualquer possibilidade de progresso, apenas lançar no google a expressão "teoria da resposta ao item", ou mesmo a sigla TRI, para deixarem trabalhar quem é do ramo, e irem cuidar de assuntos mais prementes em suas áreas.

Enquanto isto, a pizzaria da minha rua acaba de ser assaltada pela enésima vez e ninguém faz nada: o Estado não existe!

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

DEU NO JORNAL:

"Vaticano vai realizar cúpula para discutir casos de abusos sexuais".

Mammamia! Que não imprimam o convite na mesma gráfica onde imprimem as provas do Enem. Se trocam uma letra!...

Poderiam usar o português da terrinha: realizar cimeira.
Mas, acho que ficava ainda pior.

TRI - TEORIA DE RESPOSTA AO ITEM

Pretender que nossos promotores e juízes saibam o que é isso, é confiar demais num sistema educacional que não consegue nem realizar um exame de avaliação sem trapalhadas.

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

O BRASIL ESTÁ SALVO!

Mas, sobraram sequelas... E ameaças.
As ameaças ficam por conta da persistência do candidato em continuar se autodesconstruindo até no discurso final. Em todos os países, o candidato derrotado procura, no discurso de admissão da derrota, mostrar-se magnânimo, pensar mais no país que em si mesmo, e usa um tom conciliatório para não prejudicar as condições de governabilidade, pelo menos no início do mandato do adversário; condições que ele desejaria para si mesmo se a situação fosse inversa.
Não foi o que aconteceu. O candidato derrotado, mostrando-se relutante até mesmo em pronunciar o nome da oponente, serviu-se de palavras duras, belicosas, armadas: "...prá quem pensa que a luta acaba aqui, ela está apenas começando..." "...vocês (os adeptos dele) cavaram uma trincheira... ergueram uma fortaleza..."
E as sequelas ficam por conta não só do candidato e seus adeptos, mas, principalmente, de parte da imprensa, que se empenharam irresponsavelmente em destruir a laicidade do Estado, um dos pilares da convivência republicana. Para isso contaram com a ajuda de entidades nada republicanas, como o excêntrico "partido monarquista", o papa, e os falsos profetas evangélicos que sonham, talvez, com a implantação de um estado teocrático. Ainda bem que vários bispos católicos, e muitos pastores evangélicos, salvaram a situação, resgatando a dignidade da religião.
Pior sequela ficará pela tentativa encetada de reescrever a história e inverter seus valores, o que provocou o ressurgimento da mais abjeta direita, e levou até um membro da suprema corte do país a declarar na imprensa que são válidas, para conhecimento de candidatos, por decorrência de qualquer pessoa, "informações" obtidas sob cruéis torturas. Foram tantos e tão virulentos os saudosos do período militar que ousaram sair de seu armário político, que vale aqui a pergunta: "onde escondeste, todo esse tempo, o teu fascismo?"

sábado, 30 de outubro de 2010

STF LEGITIMANDO A TORTURA?

Tem que ser muito criancinha, de colo mesmo, prá não saber como são os métodos de interrogatório e de "processo judicial" durante os regimes de exceção.
Os adversários desses regimes (ditaduras latino-americanas, ditaduras nazifascistas, e outras), quando presos, são submetidos a tratamento tão vil e degradante que perdem momentaneamente toda dignidade, autoestima e autocontrole, agarrando-se a mínimas chances de sobrevivência ou interrupção das dores atrozes impostas pelos verdugos.
Daí, todo mundo sabe, e, principalmente, o sabem todos os companheiros envolvidos em lutas contra ditaduras, o prisioneiro "entrega até a mãe". Por isso, em todas essas lutas, os grupos criam estratégias, que implicam na tentativa do preso de resistir quanto possa, para dar tempo dos demais tomarem conhecimento de sua queda e desmontarem o "aparelho" subversivo que operavam. Do lado dos verdugos, elevam o grau de brutalidade e crueldade, justamente na tentativa de obter as informações a tempo de prender os demais, derrotando, assim, sua estratégia. Nesse embate, os primeiros caídos de um grupo sempre sofrerão mais que os últimos. Há sempre maior probabilidade de mortes entre os primeiros que entre os últimos.
Agora, imaginem que constrangedor, para o torturado, a exibição dos depoimentos e relatos de um "processo" dessa natureza. É evidente que o "processo" não relatará os métodos de tortura empregados, procurando legitimidade, onde constarão como se fossem expontâneas ou fáceis, delações e retratações.
Portanto, qualquer pessoa de bom senso sabe que as informações assim obtidas, as informações contidas em relatos tão traumaticamente conseguidos, não têm nenhum valor informativo sobre as vítimas. Podem servir para psicólogos estudarem os limites de resistência e de crueldade da nossa espécie, isso sim. São capítulos deprimentes da história do ser humano. Alias, são capítulos da história em que duvidamos até de que certas pessoas sejam realmente humanas.
A Folha de São Paulo queria porque queria os relatos constantes do "processo" de Dilma, quando esta se encontrava presa nos porões da ditadura militar. Evidentemente, para uso político, inserindo-se na ignominiosa campanha de desconstrução a que se dedicaram, como cúmplices dos comitês serristas, órgãos como a Globo, o Estadão, a Veja, e a própria Folha, além de outros tablóides.
O STM negou, claro, atentos aos direitos humanos.
Espantosamente, a ministra Cármem Lúcia, do STF, disse que se tratava de censura, e saiu-se com esta pérola:
"Cidadãos estão impedidos, por uma autoridade, de ter mais informações sobre a candidata".
Informações, ministra? A senhora considera informações dados obtidos com a degradação de uma pessoa, com a retirada de toda sua dignidade, por submetê-la a tratamentos insuportáveis. A senhora não vê que a divulgação dessas "informações", sobre qualquer daquelas vítimas, significa submetê-la novamente, desta vez moralmente, o que talvez seja pior, a todo o sofrimento pelo qual ela passou?
Ah! Minha senhora...

sábado, 23 de outubro de 2010

LIBERDADE DE IMPRENSA

A imprensa brasileira sofre de uma miopia intelectual muito grave: julga que a liberdade de expressão os liberta da ética.

sábado, 2 de outubro de 2010

A DECISÃO DOS INDECISOS

As eleições 2010, tanto para Presidente do Brasil como para Governador do Paraná, serão decididas pelos indecisos!

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

PRESIDENCIÁVEIS

No último debate dos candidatos, quinta-feira na Globo, Plinio de Arruda Sampaio teve seu dia de Weislain Roriz.

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

REFORMA TRIBUTÁRIA?

Só se for assim, ó:

Cada município coleta o icms, recolhe à sua tesouraria a parte que lhe é destinada (digamos que fosse 70%), e o restante repassa ao estado. A tesouraria do estado recebe, portanto, 30% de cada município, recolhe aos seus cofres 70% desse montante, e repassa 30% à união.
Diminui-se o custo com a viagem do dinheiro até brasilia e sua volta; diminui-se custo de lobistas e consquentes tráficos de influência; e diminui-se o cruel custo com esqueletos de obras inacabadas. Para que haja lisura no recolhimento no município, o coletor pode continuar sendo estadual.

Quem vai querer perder o poder que a centralização confere?

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

DEUS CRIOU A FÍSICA, UÁI!


"Deus não criou o universo e o 'Big Bang' foi uma consequência inevitável das leis da física, argumenta o eminente físico teórico britânico Stephen Hawking em um novo livro".


Deu no jornal.

Ora, se o universo é consequencia inevitável das leis da física, então as leis da física existiam antes do universo. Eram o quê: um para-universo? Não eram elas o universo naquele momento?
Se não há necessidade de Deus nessa história, então crie logo uma teoria prá explicar o big-bang que criou as leis da física; ou o universo antes do universo!

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

VAIDADES DE VERDADES

Deus, livrai-me das pessoas que sabem a Verdade;
elas perseguem, prendem, torturam e matam
por causa dela!

sábado, 7 de agosto de 2010

FICHA LIMPA, BARRA SUJA.

Cada vez eu entendo menos esse povo. Acho que penso diferente de todo mundo. Claro que isso não é bom.
Esse povo adora entregar sua autonomia, ou sua soberania. Primeiro, entregava ao soberano, mesmo: ao rei de Portugal. Depois, deixou de exigir que o rei fosse o seu senhor, para exigir que o fosse o Imperador. Cansou do Imperador, passou a fazer salamaleques para os militares. Viram? Sempre alguém, ou alguma classe, que não é eleito, ou eleita. Parece que há uma necessidade do povo de submeter-se a alguém que o controle, sem que seja controlado por ele. Como fruto do estelionato político que chamaram de "constituinte", ele entregou o controle de sua vida, as decisões sobre sua alimentação, sobre a educação de seus filhos, seu trabalho, tudo, enfim, ao ministério público e ao judiciário. Claro, não dá prá viver (ainda!) sem essas corporações. Mas, nos países civilizados há, ao menos, um mínimo de controle popular sobre elas. Afinal, quem paga a conta deveria discutir os preços: aqui eles fixam seus próprios salários!
Agora, todos festejam o aumento do controle desses senhores: eles passam a decidir a lista daqueles em quem nós podemos ou não votar. Como? Não é bem assim? É só o cara processado e julgado, e tal? Mas, meu chapa, com tanta lei, ninguém se livra de ser enforcado. O primeiro paranaense que teve seus direitos políticos cassados pela nova ordem, o foi com a desculpa de pesca ilegal! Vejam, o cara saiu com o filhinho e uma varinha equipada com um anzol de lambari numa tarde de sol; foi resvalando pela margem do riacho, até chegar a um local onde a pesca era proibida. Flagrado, teve seus direitos políticos cassados.
E mais... tem um outro poder não eleito e decorrente da constituição ilegítima: as corporações de ofícios, alcunhadas hoje em dia de "conselhos de classe". Desde a Idade Média até o salazarismo resistente no Brasil, pelas mais diversas razões alguém pode ser impedido do exercício profissional pela guilda; e, nem todas são razões criminosas. Algumas até meritórias, como a insurgência contra práticas cristalizadas; ou pela realização de inovações técnicas, tecnologicas ou científicas. Pois bem, o cara inova, desperta o ciúme da corporação, insurge-se, é expulso, pronto, automaticamente é cassado politicamente. Pois está lá na lei: quem é impedido de exercício da profissão pelo conselho de classe cai na malha da lei da ficha limpa.
Será que só eu vejo isso? Será que só eu desejo as rédeas do meu destino, incluindo decidir livremente em quem eu voto, sem ter alguém "cuidando de mim"?
Vai, povo, vai renunciando à sua soberania... Quando quiser acordar e retomar o controle se sua vida, não vai mais conseguir...

quarta-feira, 28 de julho de 2010

RELAXE... E IDOSE!

Tendo visto tantos velhos bons, amorosos, pacientes, cavalheiros e altruístas, chego a acreditar que os que culpam a idade pela perda dessas qualidades na verdade nunca as tiveram.
Já posso pensar livremente essas coisas, pois, segundo nossa exuberante legislação, sou um idoso.
Confesso que resisti. De acordo com o famigerado estatuto que nos discrimina (mais um saboroso fruto da inépcia e desídia de nossos legisladores) completei meu primeiro trimestre de idosidade.
Três meses olhando as melhores vagas no estacionamento do supermercado e resistindo aos apelos do netinho que me acompanhava ("Vô, pára ali, você já é idoso!"). Até que um dia parei... apenas para sair novamente correndo de medo de uma enorme placa que me ameaçava de multa, pela lei tal e tal (mais lei?) se eu não tivesse um tal papel que a prefeitura fornece. Descobri que eu era um idoso descadastrado!
Fui atrás do cadastro, e vi o custo de nossa incivilização.
Não poderiam, simplesmente, criar as vagas para idosos e deficientes, todos respeitarem e a coisa funcionar?
Não. Ninguém pensa em investir na educação, que geraria a civilização, o respeito ao próximo e, consequentemente, às vagas do próximo um pouco dissemelhante.
Não poderiam, então, ao menos aceitar que o idoso colocasse no painel do carro uma xerocópia da carteira de identidade, evitando que o agente desavisado o multasse?
Não. Quem não investiu em educação, também se julga exime de investir em segurança, e o idoso, como qualquer pessoa, tem medo de expor seus dados pessoais a desconhecidos em lugar público.
Então, ao cadastro! Uma prévia pela internet -- custo do erário em informática. Uma ida ao local da entrega da "credencial de idoso" -- custo em combustível e estacionamento. Três rapazes solícitos atendendo -- custo do erário em mão-de-obra (é bom que eles estejam empregados, mas, poderiam estar em atividade mais produtiva e à custa do empresário). Registro e impressos -- mais custo do erário em informática e papel.
Finalmente, um idoso cadastrado. Espero não "engolir o rei", como fazem alguns, e sair por aí gritando meus direito em filas, atropelando jovens com crianças pequenas no colo, ou obrigando deficientes cujas deficiências não são aparentes a exibí-las, a fim de que não os expulse também da fila privilegiada.
Ainda não cheguei a tanta ranzinzice. Por enquanto, me satisfaço em ficar criticando o Estado!

quinta-feira, 15 de julho de 2010

O BIÓLOGO E OS DOIS GUARAS: EQUÍVOCOS DO DENUNCISMO

A prática de se suspeitar, acusar, denunciar e, na sequência e inconsequentemente, julgar e condenar ao escrachamento público na imprensa está tão comum neste país que achei muito útil reproduzir esta carta de um cientista brasileiro.


KAFKA + FOGO "AMIGO" = ZOOLOGIA NO FUNDO DO POÇO

Alexandre Aleixo
Curador da Coleção de Ornitologia
Museu Paraense Emílio Goeldi
Belém – Pará



O escritor tcheco Franz Kafka, autor de jóias da literatura como “A Metamorfose” e “O Processo”, tinha um talento especial para narrar como o insólito pode entrar na vida das pessoas sem qualquer aviso prévio e com conseqüências trágicas. A odisséia kafkiana do biólogo Louri Klemann Jr. começou no dia 15 de maio deste ano no litoral do Paraná, mas seu fim ainda parece longe, com um possível desfecho que pode representar a total falência da Zoologia brasileira como uma ciência que se comunica eficientemente com o grande público e até com alguns de seus supostos líderes nos conselhos regionais de biologia.
O site “Google” é um medidor acurado da odisséia kafkiana de Louri Klemann Jr. Quem digitar o nome completo dele achará várias entradas logo na primeira página. Nas mais acessadas, ele aparece como um criminoso condenado sem julgamento, como Joseph K., protagonista de “O Processo”. Em outras, ele aparece como um prolífico consultor ambiental. Além disso, existe também o Louri Klemann Jr. mestrando do curso de Pós-graduação em Ecologia e Conservação da Universidade Federal do Paraná, bem como aquele que trabalhou em associação com o ICMBIO, a Secretaria de Meio Ambiente do Paraná e o Instituto Ambiental do mesmo estado (IAP) em diversos projetos que vão desde a elaboração de planos de manejo de unidades de conservação, até a revisão da lista de espécies ameaçadas do Paraná e a elaboração de planos de ação para espécies ameaçadas do estado. Curiosamente, o mesmo IAP pode condená-lo em breve a pagar uma multa de 50 milhões de reais por crime ambiental...
Tudo tão contraditório que pode parecer que existem dois Louri Klemann Jr., antípodas um do outro: o criminoso ambiental impiedoso / psicopata implícito e o biólogo conservacionista de formação, parceiro dos órgãos ambientais no estado do Paraná. Infelizmente, todas as páginas do “Google” citadas acima tratam da mesma pessoa! Surpresos?! Lembre-se, como escrevi logo no início, este texto trata de uma odisséia kafkiana. Mas vamos ao que interessa agora: quem é, afinal, Louri Klemann Jr. e por que é toda a Zoologia brasileira que está encarnando o papel de Joseph K. junto com ele num verdadeiro simulacro de processo por um crime inexistente?
A chave para entender a natureza real de Louri Klemann Jr. é o seu currículo Lattes, instrumento de avaliação acadêmica obrigatório no Brasil. Nele, estão bem caracterizados todos os Louri Klemann Jr. “do bem” das páginas do “Google”, mas que se resumem em um só: um jovem e atuante zoólogo com especialidade em ornitologia, cujos feitos não são nada modestos para alguém que começou a cursar o mestrado ainda em 2010. Como, então, apareceu o Louri Klemann Jr. bandido, criminoso ambiental no mesmo “Google”? Qual a origem deste personagem, condenado pela mídia à condição de pária sem julgamento, tal qual Joseph K. em “O Processo”?
A persona Louri Klemann Jr., como aparece caracterizada nas páginas de “A Gazeta do Paraná” nas suas edições de 27 de junho, 4 e 6 de julho de 2010, dentre os links de Louri mais acessados no “Google” nestes dias, surgiu a partir da coleta de dois espécimes de guarás (Eudocimus ruber) em Guaratuba, no litoral do estado do Paraná. Digitem “guará” no “Google” e uma das primeiras entradas sobre a ave a surgir é ilustrada por um indivíduo adulto em magnífica plumagem vermelha carmesim, típica da espécie. Dado importante, e que fará sentido apenas mais adiante: os guarás coletados por Louri em nada se parecem com a ave vermelha vistosa do “Google”, mais um dado a se juntar ao processo kafkiano enfrentado por ele.
Comuns no norte do Brasil e, principalmente por isso, ausentes da lista nacional da fauna ameaçada de extinção, no estado do Paraná os guarás eram ainda considerados ameaçados de extinção até 2009, quando especialistas credenciados pelos órgãos ambientais do estado decidiram pela retirada da espécie da condição de ameaçada, uma vez que ela voltava a se estabelecer no litoral do estado, com até cerca de 200 indivíduos avistados recentemente em Guaraqueçaba. Como essa decisão ainda não foi homologada, o guará ainda é, burocraticamente pelo menos, considerado ameaçado no Paraná.
As histórias de Louri e dos guarás do Paraná se cruzaram no dia 15 de maio deste ano, quando o biólogo se encontrava em Guaratuba desenvolvendo um projeto de pesquisa de longo prazo sobre a avifauna do Paraná, que inclui o estudo e a coleta científica de espécies de aves não ameaçadas do estado, dentre elas duas espécies de íbis, parentes bem próximos do guará e que ocorrem em maior abundância na mesma área: o tapicuru-de-cara-pelada (Phimosus infuscatus) e a caraúna-de-cara-branca (Plegadis chihi). Apesar de parentes próximos dos guarás, estas duas espécies possuem plumagem escura, bem diversa do seu parente mais famoso e tido como ameaçado. Como zoólogo profissional, Louri se encontrava em Guaratuba devidamente autorizado por todos os órgãos ambientais nacionais e estaduais competentes para estudar e, quando necessário, coletar para fins científicos exemplares, dentre várias espécies não ameaçadas de extinção, do tapicuru-de-cara-pelada e da caraúna-de-cara-branca, que nesses casos deveriam ser depositados num dos mais conhecidos museus de história natural do Brasil: o Museu de História Natural Capão do Imbuia (MHNCI), ligado à Prefeitura Municipal de Curitiba. Como todo zoólogo no Brasil, o processo para a obtenção das devidas licenças enfrentado por Louri não foi trivial e envolveu a comprovação em todos os níveis da sua qualificação como profissional, bem como da relevância e adequação da coleta para o seu projeto de pesquisa, tudo avaliado por técnicos independentes, credenciados e com legitimidade para emitir pareceres, que poderiam ser favoráveis ou desfavoráveis. Neste caso, Louri teve assegurado dentro das esferas legais por todos os órgãos ambientais competentes, o direito pleno de coletar espécimes de aves para seu projeto de pesquisa.
No dia 15 de maio de 2010, logo após coletar dois espécimes de íbis de plumagem escura durante suas atividades de campo de rotina em Guaratuba, Louri verificou tratarem-se na verdade de guarás jovens, que nessa fase na vida ainda não exibem a plumagem vermelha carmesim icônica dos adultos, mas sim, a mesma plumagem escura que caracteriza adultos das duas das espécies de íbis não ameaçadas e cuja coleta lhe haviam sido autorizada (tapicuru-de-cara-pelada e caraúna-de-cara-branca).
Pois o processo kafkiano contra Louri começou exatamente aí, com um equívoco que na verdade é previsto e tratado pela mesma legislação que o autorizou a trabalhar e coletar aves em Guaratuba como “Coleta Imprevista de Material Biológico”, e que deve ser relatada oportunamente aos órgãos ambientais que concederam a licença de coleta de material biológico.
Simples? Caso encerrado? Não, lembre-se, o processo kafkiano só está começando.
Os primeiros acusadores do “O Processo”, desta vez na sua versão paranaense, foram pessoas que acusaram Louri de leviandade, de coletar os pobres guarás supostamente ameaçados de extinção de modo consciente e deliberado. “O Processo” foi então tomando corpo e em breve eram os vários órgãos de imprensa do estado do Paraná que se juntaram ao coro de acusadores, mas desta vez omitindo da opinião pública um fato importantíssimo: legalmente, Louri não infringiu qualquer lei ambiental; pelo contrário: está e esteve amparado nela o tempo todo, mesmo tenho cometido o equívoco de ter coletado acidentalmente uma espécie oficialmente listada como ameaçada de extinção num estado brasileiro. Ademais, toda a sua história pregressa, assim como o contexto da coleta dos guarás, o inocentam, com ampla margem, de qualquer acusação de má fé e mau uso da sua licença de coleta.
O “Processo” contra Louri adquiriu o auge de um drama kafkiano quando o presidente do Conselho Regional de Biologia – 7 (CRBIO-7) veio a público engrossar o coro de algozes e declarar que, de antemão, o biólogo já poderia ser considerado errado e culpado pela coleta dos guarás, além de achar estranho o fato dos órgãos ambientais terem autorizado o mesmo a coletar espécimes da fauna. Para fechar com “chave de ouro”, a autoridade máxima do CRBIO-7, com sede em Curitba, a mesma cidade que sedia a Sociedade Brasileira de Zoologia (SBZ), proferiu seu julgamento sobre a coleta científica: desnecessária para o estudo dos animais.
Definitivamente, Louri e nós zoólogos estamos “muito bem na foto”. O presidente de um de nossos conselhos regionais mais influentes, quando vem a público se pronunciar sobre um episódio de coleta, além de declarar publicamente um colega culpado de antemão sem julgar o seu processo pelos trâmites regimentais, ignora por completo a legislação ambiental que rege a coleta científica no país, e, ainda por cima, não tem qualquer noção do papel da coleta científica para a zoologia.
E “O Processo” segue e, no seu calor, até o IAP declara a possibilidade de multar Louri em 50 milhões de reais, sem dúvida uma quantia modesta e justa, oferecida por qualquer mega-sena...
Como chegamos a esse ponto? Como, até mesmo os nossos representantes de classe ignoram por completo a legalidade e o valor da coleta científica e fornecem munição para campanhas de achaque e linchamento moral a zoólogos, ao invés de esclarecer ou pelo menos qualificar o debate junto á mídia e ao grande público? Tudo o que não precisamos nesse momento, é deste “fogo amigo”, que sepulta por completo a esperança de que a justiça vai se fazer presente e nos acordar do pesadelo desta versão moderna e brasileira de “O Processo”. Esse “fogo amigo”, no fundo, mostra que a atividade de coleta científica no Brasil chegou ao fundo do poço.
Meses atrás, ficamos todos deprimidos com o incêndio das coleções biológicas do Butantan em São Paulo e nos manifestamos das mais diversas formas, fizemos barulho sobre o que achávamos ainda ser inadequado ou insuficiente e que colocava em perigo as coleções e a zoologia no Brasil.
O drama pessoal de Louri é outra tragédia da zoologia brasileira, com uma simbologia própria: se a tragédia do Butantan envolveu a perda de milhares de exemplares coletados ao longo de várias gerações de zoólogos, a tragédia de Louri envolve a perda futura de um número desconhecido de exemplares que não serão coletados por ele e pelas novas gerações num país cada vez menos informado sobre o que é, para que serve e como é regulada legalmente a coleta científica.
Vamos, como sociedade, exigir justiça nesse caso e evitar um final kafkiano para “O Processo” de Louri Klemann Jr. Primeiramente, Louri precisa de nosso apoio para inocentá-lo de qualquer acusação de má-fé nesse episódio, como bem demonstram as condições e o contexto da coleta dos guarás em Guaratuba, além das credenciais por ele obtidas durante sua carreira profissional. Louri precisa da nossa ajuda e testemunho para se defender nos mais diversos processos que estão sendo abertos contra ele, inclusive aqueles que lhe cobram multas de valores insólitos, que devem estar lhe gerando uma angústia indescritível e com certeza o desestimulando a continuar com a atividade de coleta científica no futuro.
Além disso, temos que ativamente buscar espaço na imprensa e quaisquer foros para réplicas, esclarecimentos, retratações e ações afins, sempre que a coleta científica tiver uma cobertura parcial e sensacionalista, que contribui para repercuti-la negativamente junto à opinião pública. É inclusive uma sugestão minha instituir na Sociedade Brasileira de Zoologia (SBZ) e Sociedade Brasileira de Ornitologia (SBO), às quais sou filiado, comissões internas para esses casos, com a atribuição de avaliar cada caso e, quando oportuno, se pronunciar sempre que necessário junto à imprensa e o grande público de um modo geral. Não seria tampouco absurdo pensarmos em algum tipo de assistência jurídica permanente e de qualidade respaldando o trabalho dessas comissões.
Os personagens de Franz Kafka refletem sempre aquele que foi o drama pessoal do próprio autor: um indivíduo que, pela sua singularidade, sempre se sentiu culpado por ser diferente e aprendeu a não esperar outra coisa do mundo a não ser a rejeição gratuita associada à aniquilação. Num determinado ponto de “O Processo”, percebemos que toda a busca pelos termos e mesmo sentido da acusação sobre Joseph K. é inútil, já que o próprio protagonista começa a se sentir culpado por um crime cujo teor ele mesmo desconhece. Portanto, Joseph K. acaba aceitando a pena capital que lhe é decretada até com um certo alívio, já que o seu grande “crime” afinal era e sempre foi a sua própria existência. Em resumo: Joseph K. já nasceu culpado de um crime a ser punido com a pena capital.
De modo análogo, a imprensa, boa parte da opinião pública e pelo menos um conselho regional de biologia tem o mesmo posicionamento sobre a coleta: sua simples concepção é errada e meritória de punição exemplar. Mesmo sem jamais ter ido às verdadeiras fontes, mesmo sem sequer ouvir as duas partes; mesmo sem admitir qualquer tipo de defesa. Que isso não se repita mais com as coletas científicas no Brasil. Que nós não deixemos o obscurantismo transformar essa atividade prevista e regulada por lei e praticada por amantes e filósofos do mundo natural num crime banal, tornando-a equivalente ao desmatamento, especulação imobiliária e tráfico de animais silvestres, esses sim, os grandes vilões da fauna brasileira.

Belém, 13 de julho de 2010

domingo, 25 de abril de 2010

O QUE O COMUNISMO NÃO CONSEGUIU, O CAPITALISMO ARREMATOU.

"Para Mark Zuckerberg, executivo-chefe do Facebook, a era da privacidade acabou."
Esta frase, lida hoje na Folha on-line, trouxe-me imediatamente à memória outra, dita virtualmente há quase cem anos, pela personagem Pasha Strelnikov, no filme Doutor Jivago: "A vida privada acabou na Rússia".

terça-feira, 30 de março de 2010

...

Não digas de ti mesmo: servo do Senhor!
Sê honesto!
Deixa Deus fora disto.
Não te digas a serviço de Jesus.
Não o culpes pelos teus preconceitos.
Pelos teus erros, ambições e perseguições.
Livra-te tu mesmo dessas coisas.
Não o acuses de mandante
nem mentor intelectual
de tuas inquisições!
És sócio de satanás?
Pois ele assusta os incautos,
e tu lhes cobra proteção?
Ou até ele é inocente, só tu assustas?
Fica atento, um dia
ele virá cobrar sua parte!
Os verdadeiros servos do Senhor
se os houvesse,
não comprometeriam seu amo.
Assumiriam como próprias suas idéias.
Responderiam como seus, seus próprios atos.

domingo, 28 de março de 2010

MUDANÇA DE CONCEITOS... OU SUPERAÇÃO DE PRECONCEITOS.

"As feias que perdoem Vinicius, pois ele não sabia o que dizia."

(Frase encontrada na revista Universo Espírita, num texto que tratava de Susan Boyle).

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

VAIDADE DE VAIDADES...

Tudo é vaidade.
E flores da estação; que surgem, colorem e perfumam, e cumprem sua finalidade. Depois murcham, secam, desaparecem, e ninguém mais lembra delas.
Assim é tudo que adorna tua personalidade; tudo que te caracteriza: o corpo, a aparência, as posses, os títulos, as crenças, tudo flores da estação.
As leis e as organizações que te sustentam mudarão, não serão as mesmas.
Nenhuma das instituições para as quais trabalhas, nenhuma igreja ou religião, nada permanece, porque nada disso é de Deus. E Deus não se importa com elas.
Elas são flores da estação, que adornam tua personalidade.
Só o indivíduo permanece.Por isso é a ti, e só a ti, o indivíduo, que Deus se dirige, com quem Deus se preocupa.
As igrejas, religiões, crenças e convicções, são flores da estação.
E se pensas que tua religião é uma obra de Deus e te sentes justificado em todo o mal ou o bem que por ela fazes, saibas que ela não é obra de Deus, nenhuma delas. Mas Deus te argüirá, a ti somente, ao indivíduo, sobre o que fizeres, a ti e aos outros, com e por causa, das flores da estação.
E quando as flores morrerem e desaparecerem, delas não restando aromas ou cores, e nada, Deus então dirá só a ti, sem teus guias, teus gurus, teus padres, pastores, rabinos ou aiatolás, só a ti ele dirá, o que te sobrou dessas flores e que poderás levar, porque poderá te servir, no encontro que terás com outras cores e outros aromas, de outras flores, em outras estações.

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

ÁI... AYAHUASCA!

Sem dúvida, o mercado religioso é o mais concorrido e agressivo. Aliás, acho que é o único mercado, até agora na história deste planeta, que chegou ao ponto de admitir a eliminação física dos vendedores e consumidores de produtos concorrentes. Haja vista as caças a bruxas, inquisições, guerras santas, e outras práticas.
Agora, o mercado se arma contra o mais novo produto concorrente: o inocente chá de mato que emerge no horizonte oeste. E os que se acham ameaçados por ele -- uma vez que ameaça diminuir as hostes de seus adeptos fiéis e mantenedores servis --, o acusam de todos os males, desde disposições demoníacas, até dependências e efeitos semelhantes às drogas que sustentam a economia brasileira (e, consequentemente, o Estado Brasileiro, com seus podres poderes), quiçá mundial, a saber, maconha, cocaína, heroína e ópio.
Não sou ayahuasqueiro, não integro nenhuma dessas seitas, mas já bebi o chá. Bebi na UDV, bebi no Santo Daime, e bebi por conta própria, preparado por mim mesmo, já que conheço as plantas envolvidas e sei onde encontrá-las. Conheço o chá há cerca de dez anos; faz tempo que não bebo, e, em todo esse tempo, se o bebi dez vezes foram muitas. Por isso, divirto-me com a argumentação espalhada na mídia. Não bebo o chá há tempos porque é muito ruim. Querem ter uma idéia? Talvez os da minha idade, egressos do meio rural ou pequenas cidades, lembrem de nossos maiores pesadelos infantis: as cruéis mãos de nossas mãezinhas empurrando colheradas de tussaveto ou óleo de fígado de bacalhau. Multiplique esse terror por dois ou três, e teremos o gosto horrível da ayahuasca. Vencida a agressão ao paladar, começa o desagradável peso no estômago, que, até o final do ritual, certamente levará o usuário ao vômito ou à diarréia.
Então, por que bebem? Por que se dissemina o culto? Simples: para "encontrar Deus". As pessoas fazem de tudo para encontrar Deus. O pessoal do opus dei não se chicoteia até o sangramento? E os jejuns? E os homens-bomba? E afinal, o Mel Gibson já não mostrou em cores vivas o que Deus exigiu de seu próprio filho unigênito, para conceder-lhe a honra de sentar-se ao seu lado? Ora, perto disso tudo, a ingestão de uma bebida amarga se torna mel prá zangão.
Podem deixar livre; nem de longe vai atrair a molecada como as drogas oficiosas. Só passa da primeira tentativa os que realmente querem "encontrar Deus" (ou as equivalentes expansões espirituais). E, a despeito dos despeitados jurarem de pezinho, não cria dependência. Inúmeros são os que abandonam a seita e não sentem a menor crise de abstinência. Eu mesmo, se gerasse dependência, estaria viciado. No entanto, tenho ainda um estoque na geladeira, restos dos últimos preparos, aguardando o esquecimento do paladar e alguma motivação para o consumo. É possível imaginar alguém guardando um tantinho de cocaína no armário e dizendo: "deixa aí, prá se um dia der vontade"?
E a hipocrisia do "pode beber, mas não pode comercializar"?
Pois aí é o nó da questão!
Não se comercializam livros doutrinários, aguinhas do rio jordão, medalhinhas bentas e outras miçangas sagradas, para aqueles que precisam delas para encontrar Deus, já que não sabem que basta um simples: "olá, Jeová, tudo bem"?
E, essas coisinhas todas têm custo. O chá também: é preciso cuidar dos pés de mariri e de chacronas, colher, preparar à custa de lenha ou gás em panelas e caldeirões, transportar, distribuir, pagar aluguel, luz e água dos templos, e tudo o mais...
Oras... oras...

sábado, 2 de janeiro de 2010

AS VERDADES E AS FÁBULAS

Entre os poucos livrinhos infanto-juvenis que publiquei, num deles, "Brás Brasileiro", o protagonista mede-se num pé de mamão e acha que encolheu quando se mede tempos depois. Ganhei muitas críticas e reprimendas, até de dentro da família, onde tenho agrônoma e bióloga de plantão, uma vez que a árvore não poderia ter elevado a marca, pois elas crescem por superposição. Minha salvação foi que eu havia colocado na primeira página do livro um aviso assim: "Neste livro existem verdades e mentiras; mas eu acredito mais nas mentiras". Também aleguei que, se é verdade que as árvores não crescem "se esticando", elas engrossam; ou seja, encorpam. E, no se encorparem, acabam elevando, por pouco que seja, uma marca qualquer deixada em seu tronco. Não colou. Fui, então, cobrar do meu barranqueiro particular a gafe. Ele garantiu que a historia era verdadeira. E pouco se importava como as árvores cresciam.
Lembrei-me disso quando lia, hoje, num gibi do "Sítio do Pica-pau Amarelo", a Tia Nastácia, Emília e Pedrinho, às voltas com um macaco que roubava os amendoins da horta da cozinheira. Lá estavam os pezinhos de amendoim intactos, como se as frutinhas roubadas pendessem de seus galhos. A Emília chegou a acariciar um deles dizendo: "É mesmo! Este pé está depenadinho! Que coisa!"
A gafe do gibi, seguramente, se deve ao fato de o autor ser do meio urbano, sem nunca ter acompanhado uma cultura de amendoins.
A minha, porque meu informante, o barranqueiro particular, apesar de ter nascido, crescido e vivido sempre no meio rural, nunca observou com rigor científico o crescimento das árvores. Aliás, os camponeses que povoaram minha infância e adolescência sempre foram mais especializados em cortar árvores do que plantá-las e vê-las crescer...

sábado, 31 de outubro de 2009



Se você não for o maior, multiplique-se!
Mais abaixo existe uma imagem mais próxima desse palmito "galhado".

sexta-feira, 30 de outubro de 2009

SCHOPENHAUER NO BLOG

O Schopenhauer andava louco prá colaborar neste blog. Assim, dei-lhe uma chance. Mas, trouxe-me um texto de 150 anos! Julguem se serve...

"... só chegará a elaborar novas e grandes concepções fundamentais aquele que tenha suas próprias idéias como objetivo direto de seus estudos, sem se importar com as idéias dos outros. Entretanto os eruditos, em sua maioria, estudam exclusivamente com o objetivo de um dia poderem ensinar e escrever. Assim, sua cabeça é semelhante a um estômago e a um intestino dos quais a comida sai sem ser digerida. (...) Não é possível alimentar os outros com restos não digeridos, mas só com o leite que se formou a partir do próprio sangue. (...) Diletantes, diletantes! -- Assim os que exercem uma ciência ou uma arte por amor a ela, por alegria, per il loro diletto , são chamados com desprezo por aqueles que se consagram a tais coisas com vistas ao que ganham. Esse desdém se baseia na sua convicção desprezível de que ninguém se dedicaria seriamente a um assunto se não fosse impelido pela necessidade, pela fome ou por uma avidez semelhante. O público possui o mesmo espírito e, por conseguinte, a mesma opinião: daí provém seu respeito habitual pelas "pessoas da área" e sua desconfiança em relação aos diletantes. (...) O grande público culto busca viver bem e se distrair, por isso deixa de lado o que não é romance, comédia ou poesia. Para, excepcionalmente, chegar a ler algo com o objetivo de se instruir, o público aguarda antes uma carta de recomendação com o selo daqueles que mais entendem do assunto, declarando que de fato se encontra ali um ensinamento válido. E os que mais entendem do assunto, supõe o público, são as pessoas da área. Ele confunde, assim, os que vivem de uma matéria com os que vivem para uma matéria, embora essas duas atividades raramente sejam exercidas pelos mesmos homens. Como Diderot já disse, em O sobrinho de Rameau, a pessoa que ensina a ciência não é a mesma que entende ela e a realiza com seriedade, pois a esta não sobra tempo para ensinar."

Suponho que, hoje em dia, os tais diletantes sejam conhecidos pelo nome de amadores.
Quando encontrá-lo eu pergunto...

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

SEGURANÇA NO RIO EM 2016

Nem se preocupem. A imprensa internacional, os organizadores da Olimpíada, os turistas, e demais interessados podem ter certeza: o Rio lhes dará total segurança em 2016. O Rio já demonstrou capacidade para tal na Eco-92 e nos Jogos Panamericanos. O governo federal ajuda, juntam as policias do Rio, a guarda nacional, polícia federal, exército, e quem mais for preciso e, garanto, não se ouvirá um pum nas favelas do Rio.
Podem ficar tranqüilos.
Quem não poderá ficar tranqüilo somos nós, os demais brasileiros de Curitiba, Belo Horizonte, Porto Alegre, e todo o interior. Os negócios do tráfico não podem parar; o prejuízo seria grande, afetaria a economia. Então, migram para outros lugares. Caem sobre nós. De início, com intenção provisória; mas, após o relaxamento da segurança no Rio e a volta prá casa, deixam o que por aqui instalaram como postos avançados ou expansão dos negócios.

domingo, 18 de outubro de 2009

MAITÊ PROENÇA VERSUS PORTUGUESES: ZERO A ZERO

A Maitê Proença foi desastrada ao divulgar um vídeo que deveria ser mostrado apenas aos amigos, e os portugueses reagiram com exagerada e preconceituosa violência verbal. Se ela demonstrou desconhecer a história esotérica de Portugal, eles demonstraram ignorância total em geografia e principalmente demografia, atribuindo aos quase duzentos milhões de brasileiros certas características peculiares a vítimas da exclusão social, como vandalismo, prostituição e outros crimes.
Além do quê, não entenderam que a cuspida na fonte foi apenas uma imitação da estátua que deveria fazer a água jorrar e, não, como gritaram, um atentado a um "patrimônio da unesco".
Mas, assim como a professora entrevistada pelo canal português relevou a ignorância da atriz em história, nós relevamos o fato deles não conseguirem siquer imaginar o que sejam duzentos milhões de pessoas.
Uma das réplicas youtubianas dizia: "Maitê Proença ofende dez milhões de portugueses!" E fico a imaginar o autor, ante o silêncio dos brasileiros, completando: "Estais a pensaire o quê? É tudo o que nós temos!"

sábado, 17 de outubro de 2009

O HÓSPEDE ZELAYA

Os italianos têm um ditado curto e grosso sobre hóspedes:

"l'ospite è come il pesce, fra tre giorni rincresce".

Na falta de rima, os italianos da colônia costumam traduzir assim: "hóspede é como peixe, apos três dias fede".

A turma do Zelaya já está hospedada há mais de vinte dias na embaixada brasileira;
como é que deve estar o ar por lá?...